Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa chegou ao circuito comercial recifense nesta semana. O longa é mais um que conta o outro lado da história dos conhecidos vilões do universo DC.
Mas não pense em comparações com Coringa, sucesso com o maior números de indicações ao Oscar 2020, e dotado de um forte escopo de realismo social. O filme da sua tradicional companheira (vivida pela incrível Margot Robbie), desde o seu título, aponta para um caminho completamente diferente.
Aves de Rapina é, de fato, um filme repleto de ação – bastante física e crua, ressalte-se, não tendo medo de elevar sua classificação a pessoas com mais de 16 anos. Todo seu desenvolvimento, no entanto, pauta-se numa espécie de comédia auto-consciente; de piadas “espertinhas”, quebra da quarta parede e, por consequência, saídas dramáticas fáceis.
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A começar pelo seu extenso título, que serve para apresentar um novo grupo de personagens da franquia e anunciar também uma espécie de comicidade programada.
É o caminho mais fácil quando se trata de personagens com uma veia engraçada e anárquica; vide o sucesso de Deadpool e dos personagens prévios do Coringa. Desconsiderando os erros ou acertos, o filme de Todd Philipps pelo menos parte, à princípio, de uma ideia autoral e longe dos lugares seguros.
Infelizmente são neles que Aves de Rapina se agarra o tempo todo. Desde a sua concepção imagética (um pouco melhor que o borrão do fiasco Esquadrão Suicida) até o seu desenvolvimento dramático.
A trama se desenrola de uma maneira pseudo-fragmentada – repartida mas sempre de uma forma narrativamente segura. Tudo parte do desejo de Arlequina, merecidamente, conseguir sua emancipação de estar relacionada a figura do Coringa. Afinal, é uma personagem igualmente complexa e com um escopo cultural, partindo de um lugar feminino, infinitamente mais possibilitador.
Na sua jornada entre intrigas do crime, ela se vê acompanhada por personagens (todas mulheres) que viriam a se tornar o grupo Aves de Rapina.
A deixa é grande para diretora do filme, a chinesa Cathy Yan, conceber um mundo onde cada figura masculina represente um tensionamento específico. Algo que quando transformado em cinema propriamente nos entregou obras gigantescas como o recente argentino As Filhas do Fogo e o clássico Eu, Tu, Ele, Ela, de Chantal Akerman, para citar alguns exemplos.
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Não que um blockbuster necessariamente deva se agarrar a essas obras de caracterização mais livre e autoral. O problema é que Aves de Rapina parece ter uma disposição incansável para ser um produto enlatado para um tipo de consumo.
Desde abraçar certas temáticas para legitimar suas tramas em um lugar seguro, até sua própria estrutura dramática de humor auto-consciente – mais interessada na próxima “sacadinha” do que se aprofundar nos seus personagens e suas relações entre si.