Doc 'Deixando Neverland' revela os abusos de Michael Jackson

Alegações de abusos sexuais cometidos pelo cantor são expostos em filme que vai ao neste fim de semana na HBO
Guilherme Sobota/Estadão Conteúdo
Publicado em 15/03/2019 às 21:05
Alegações de abusos sexuais cometidos pelo cantor são expostos em filme que vai ao neste fim de semana na HBO Foto: Foto: Divulgação


Dez anos depois de sua morte, o legado de Michael Jackson passa por uma nova reavaliação com as chocantes denúncias do documentário Deixando Neverland (Leaving Neverland). O filme será exibido em duas partes, na HBO, neste sábado (16), e domingo (17), sempre às 20h, e no HBO GO, a plataforma de streaming da emissora.

O documentário é construído com o depoimento de James Safechuck e Wade Robson. Os dois alegam que Jackson abusou sexualmente deles nos anos 1990.

Diferentemente dos documentários recentes sobre O.J. Simpson (O J.: Made in America, de 2006) e R. Kelly (Sobreviver a R. Kelly, deste ano), o filme da HBO se concentra no depoimento das vítimas (e das famílias), com imagens do rancho de Michael Jackson em Santa Bárbara, o Neverland, e conteúdo de arquivo, incluindo uns poucos depoimentos do cantor e fotos e objetos das famílias. Deixando Neverland se diferencia, nesse aspecto, das denúncias jornalísticas do movimento #MeToo, caracterizadas por extensa apuração documental e com testemunhas.

Não é por isso que os depoimentos deixam de ser nauseantes, especialmente pela descrição gráfica dos supostos abusos. Essas são suas histórias.

Pela dica de uma amiga, a mãe do jovem James Safechuck o inscreveu numa agência de talentos. A desenvoltura do garoto o levou ao set de comerciais nacionais, e em um deles ele contracena com Michael Jackson. Uma amizade se criou e as promessas de ajudar na carreira do garoto aproximaram o artista da família. "Jimmy" passou a dançar nos shows de Jackson.

O abuso teria começado numa noite em Paris (Jackson insistiria para que a mãe do garoto, então com 10 anos, dormisse no quarto dele nos hotéis). Safechuck diz que o cantor o ensinou a se masturbar - e logo as interações passaram a envolver línguas, nádegas, mamilos e pênis. Depois de nomear dezenas de locais em Neverland onde Jackson o abusaria e falar de um sistema de sinos que avisaria se alguém estivesse se aproximando do local, ele mostra à câmera joias que o músico teria lhe presenteado após uma "cerimônia de casamento" num quarto de hotel.

Tudo mudou para Wade Robson quando ainda muito criança assistiu ao making of de Thriller: ali ele começou sua carreira na dança que, anos depois, lhe renderia trabalhos com Britney Spears, N'Sync e o Cirque du Soleil. Astro mirim na Austrália, seu país natal, por sua imitação de Jackson, conheceu o cantor num show em Brisbane. O artista começa a se relacionar com a família e vira amigo do garoto (as ligações por telefone chegavam a seis horas) até que os convence a ir a Neverland.

Segundo Wade, já no primeiro dia, os contatos físicos começaram, primeiro para ensiná-lo passos de dança, e em seguida as "festas do pijama" se transformavam em abuso: ele descreve com detalhes carícias por debaixo dos lençóis, masturbação e sexo oral (ele tinha 7 anos e diz ter sido abusado todas as vezes em que eles se encontraram nos 7 anos seguintes).

Ambos relatam em Jackson uma preocupação constante em não contar nada para ninguém. "Minha vida vai acabar se alguém descobrir", relata Safechuck, citando o cantor.

Wade narra sua última experiência: ele era adolescente quando Jackson teria tentado penetrá-lo. A tentativa foi malsucedida e Wade voltou para casa. No mesmo dia, Jackson teria mandado seu motorista ir buscá-lo novamente e, quando se encontraram, na memória de Wade, ele estava muito agitado e pediu pela cueca que o menino usava mais cedo. O garoto foi para casa, encontrou a cueca com algumas gotas do seu sangue, e a jogou no lixo a pedido do cantor.

A segunda parte do documentário conta como o histórico afetou as vidas de todos e sublinha como eles só conseguiram revelar o trauma para as famílias quando ambos tiveram filhos em seus casamentos.

Mesmo antes disso, Jackson passou por duas situações judiciais em que outras famílias o processaram por abuso sexual: em 1993, um acordo extrajudicial foi acertado (valores oficiais não foram divulgados, mas acredita-se que a cifra seja de US$ 25 milhões). Em 2005, um julgamento criminal absolveu o cantor. Robson foi testemunha de defesa na ocasião (bem como Macaulay Culkin, que sempre negou abusos do cantor). No filme, Robson relata o intenso debate interno pelo qual passou ao longo dos anos (e ainda passa), e afirma "não ter culpa" por ter mentido no julgamento.

As reações ao documentário Deixando Neverland

Desde que o filme foi exibido nos EUA, no início do mês, diversas reações tiveram repercussão global - contra e a favor de Jackson.

LOUIS VUITTON

A marca de luxo resolveu apagar as referências a Michael Jackson na coleção dirigida por Virgil Abloh apresentada em janeiro.

MJ IS INNOCENT

A campanha iniciada por Seany O'Kane, fã de Jackson, teve alcance global (no último domingo, dezenas de fãs se reuniram na Avenida Paulista numa manifestação clamando a inocência do músico). "O filme omite informações para pintar uma narrativa", diz O'Kane. Ele atribui os depoimentos a um suposto racismo de Safechuck e Robson e à vontade de arrancar dinheiro do espólio.

SIMPSONS

Um episódio antigo da série, com a voz de Michael Jackson, foi retirado do ar pelos criadores.

DRAKE

O rapper deixou de fora do setlist da sua turnê na Europa a música Don't Matter to Me que ele canta com vocais gravados de Jackson. A música fazia parte das apresentações nos EUA.

RÁDIOS

Rádios de Canadá, Austrália e Nova Zelândia tiraram suas músicas da programação.

PROCESSO

O espólio de Jackson processou a HBO em US$ 100 milhões.

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