Se você era criança e/ou pré-adolescente no final da década de 1990, há vinte anos, os almoços de domingo ganhavam um colorido diferente na tela da TV Globo. No dia 11 de abril de 1999, entrava no ar o primeiro episódio do seriado Sandy & Junior, intitulado Hoje é Dia de Aula. Duas décadas, quatro temporadas e 175 capítulos depois, a série que ainda é exibida no canal fechado Viva registrou um momento importante, não só de uma dupla pop de adolescentes chegando ao auge da carreira musical, mas de um elenco e uma escola que ficaram no imaginário de quem via naquele programa um grande momento de diversão.
O Jornal do Commercio correu atrás do elenco e do seu diretor-geral, Paulo Silvestrini, para compartilhar suas lembranças sobre a série, que nasceu em 1998 através do diretor Paulo Trevisan, no formato de um especial de fim de ano da emissora naquele ano. “O bom resultado daquele especial fez nascer a vontade de fazer a série. Ele não era um piloto pensado para desenvolver uma seriado como muitos pensam”, conta Silvestrini, que na época dirigia a novela Torre de Babel e foi convidado para o projeto, no qual ficou até o fim, de 1999 a 2002.
No formato do especial exibido em 1998, Sandy e Junior já estavam numa escola e alguns atores também foram levados para o programa fixo no ano seguinte. Mas na primeira cena do primeiro episódio da série em 1999, além dos irmãos protagonistas, estava o novato José Francisco Trassi, que deu vida ao garoto Dodô, que tinha entre 13 e 14 anos.
“Foi a primeira vez que vesti um figurino, que decorava uma fala, e é um ofício que eu levo pra minha vida. Eu sou um ator desde aquele primeiro dia”, contou José ao JC por telefone, que completa: “Eu pude colocar muito de mim no Dodô porque sempre gostei de música, de dança. Andava muito de skate e fui amadurecendo com o personagem. Naqueles três anos, eu era um ator em descoberta”.
Quem também não esteve no especial, mas entrou na série no ano seguinte foi Camila dos Anjos, que interpretou a Bebel. “Eu fiz alguns testes para o especial de natal, cheguei até o último teste, mas não fui selecionada. Quando o especial virou série, os produtores me chamaram para novos testes. Acredito que foram uns três testes até conseguir o papel da Bebel”, conta a atriz, que tinha 12 anos ao entrar no programa.
Douglas Aguillar deu vida ao Maumau, que esteve no especial e, após uma bateria de testes, conseguiu entrar na série. O ator, que hoje trabalha atrás das câmeras, relembra com carinho dos primeiros dias de gravação: “Lembro muito da expectativa que todos estávamos desse primeiro dia. Ainda não tínhamos noção do que iria virar o programa e a repercussão que teria. Isso foi muito legal, porque fazíamos os personagens sem sentirmos a pressão de estarmos em um programa de sucesso na Globo”.
E foi sucesso. A série Sandy & Junior, além de alavancar ainda mais a carreira da dupla, revelou nomes que são conhecidos do público até hoje: Marcos Mion (Max), Fernanda Paes Leme (Patty), Paulo Vilhena (Gustavo), Wagner Santisteban (Basílio) e Igor Cotrim (Boca) são alguns deles. E além dos alunos do fictício colégio Cema, outros personagens também ficaram marcados, como o diretor Camilo, interpretado por Blota Filho.
“Minha primeira cena como Camilo foi no Especial de Ano Novo. Mas foi no primeiro episódio da série onde comecei a entendê-lo. O amor que ele tinha pelos alunos, o colégio e os professores. Foi ali que vi a humanidade, a imparcialidade e a sabedoria desse homem”, conta Blota.
Gravada nos três primeiros anos em Campinas, cidade onde a dupla morava na época, o formato simples do programa – histórias de começo, meio e fim, temperadas com canções dos irmãos – foi um sucesso de audiência. E para o elenco, o sentimento era unânime: trabalhar com Sandy e Junior era, acima de tudo, uma lição de humildade e profissionalismo.
“Trabalhar com Sandy e Junior era tão especial como tenho certeza que ainda deve ser hoje em dia. Eles são grandes artistas, extremamente profissionais e muito atenciosos com os colegas. Havia sempre um clima muito familiar com a presença do Durval (Xororó) e a Noely, que nós considerávamos incorporados a esta grande família que fazia a série. Eles tornavam as relações ainda mais pessoais, mesmo com a correria da agenda deles”, conta Paulo Silvestrini. “Foi muito tranquilo porque eles tinham a rotina deles, de shows, entrevistas, ensaios, apresentações. E nós entendíamos isso sem nenhum clima de ‘endeusamento’. Eles sempre foram muito humildes”, reforça José Trassi.
Vinte anos depois desse início, a dupla, que está prestes a voltar aos palcos com a turnê comemorativa Nossa História no segundo semestre (Recife abre a turnê no dia 12 de julho, no Classic Hall, com ingressos esgotados) para comemorar três décadas de carreira, lembrar da série Sandy & Junior é fundamental para o sucesso que os irmãos construíram dali para frente.
“Acho que a série marcou a infância de uma geração. É gostoso rever algo que foi ao ar há tanto tempo e que fez parte da história das pessoas”, conta Camila dos Anjos. “Foi um programa de televisão que não tinha palavrão, mulher pelada. Era bem ingênuo, mas muito verdadeiro”, completa Douglas Aguillar. “Sandy & Junior marcou uma época. Fez história na teledramaturgia. Tratava de assuntos de adolescente e crianças ‘para’ adolescentes e crianças, sem deixar de lado o lúdico e a fantasia”, conclui o eterno diretor Camilo, Blota Filho.