Man of The Woods: Timberlake retorna ao Super Bowl para divulgar disco

Após incidente com Janet Jackson, ele busca se reafirmar no panteão do pop
Márcio Bastos
Publicado em 03/02/2018 às 13:15
Após incidente com Janet Jackson, ele busca se reafirmar no panteão do pop Foto: Reprodução


Hoje é um dia simbólico para Justin Timberlake. Um dos maiores astros pop das últimas décadas, apontado como uma espécie de herdeiro de Michael Jackson, ele coroa seu sucesso com apresentação no evento mais assistido dos EUA, o Super Bowl, final do campeonato de futebol americano acompanhado por mais de 110 milhões de pessoas. Essa, no entanto, não será sua estreia no evento. A última vez que tomou o centro do estádio, em 2004, ao lado de Janet Jackson, se tornou um dos episódios mais comentados da cultura pop, ajudando, inclusive, a criar o Youtube. No palco, ele deverá apresentar seus maiores hits, além de cantar pela primeira vez canções de seu quarto álbum, Man of The Woods, lançado sexta.

Revelado no The Mickey Mouse Club – programa que reunia, ainda crianças, Britney Spears, Christina Aguilera e Ryan Gosling – e alçado ao sucesso mundial com o NSYNC, um dos maiores fenômenos dos anos 1990, Timberlake era o típico galã de boyband. Com Britney, sua namorada na época, formava o casal 20 do show business. Seu talento e carisma sempre chamaram a atenção e o anúncio de sua carreira solo era esperado. O lançamento do bom Justified, em 2002, o posicionou como uma força do pop, aproximando-o da dance music e do r&b e hip hop.

Em 2004, foi escalado para se apresentar ao lado de Janet Jackson, um de seus ídolos, no Super Bowl. A apresentação corria como prevista até que, no final da última música, Justin arranca a parte superior da roupa da artista. O movimento era combinado, mas aconteceu um imprevisto: ao invés de revelar uma espécie de sutiã, ele acabou tirando tudo, revelando por breves segundos o seio de Janet.

O acidente virou pauta nacional, gerando mais de 500 mil reclamações contra a emissora que transmitiu o show. O termo “Janet Jackson” se tornou o mais buscado da história da internet. Curioso para assistir à polêmica apresentação, mas sem encontrá-la na internet, o programador Jawed Karim decidiu criar um site que reunisse vídeos online. Nascia o Youtube.

As consequências, no entanto, foram diferentes para os dois envolvidos: Janet foi considerada culpada e seus clipes banidos do conglomerado midiático que incluía rádios e redes de TV, como a MTV. Ela iria apresentar um prêmio no Grammy, mas foi “desconvidada”. Já Justin seguiu sua carreira sem problemas, inclusive se apresentando nesta mesma cerimônia do Grammy. Para ela, ostracismo; para ele, o perdão. Muitos viram um reforço de uma cultura machista e racista, hoje fruto de discussões no cinema e na música.

Anos depois, em entrevista, Justin admitiu que deixou Janet, que era sua amiga, na mão. “Se pensarmos que a responsabilidade deveria ser dividida, o que aconteceu foi que só levei 10% da culpa”, afirmou. Por isso, quando foi confirmado seu retorno ao Super Bowl (enquanto Janet estava, até então, banida) causou um movimento de revolta online. Muitos pediram a volta da cantora ao evento, como uma forma de redenção de Timberlake. Até agora, no entanto, as assessorias de ambos negam que a reunião vá acontecer.

HOMEM DA FLORESTA

Ao anunciar seu novo álbum – o primeiro desde 2013 – Justin Timberlake, conscientemente ou não, induziu todos a acharem que a sonoridade do disco seria country. Em um vídeo no qual aparece em paisagens do Sul dos EUA (ele é do Tennessee), camisa de flanela e calça jeans, ele anuncia o conceito de Man of The Woods: “Este álbum é inspirado pelo meu filho, minha mulher [a atriz Jessica Biel], minha família, e mais do que qualquer outro que já escrevi, sobre de onde vim. É pessoal”. O discurso coincide com o de artistas como Lady Gaga e Miley Cyrus fizeram, utilizando o country e uma imagem dos EUA de Trump em detrimento de seus outrora ousados projetos artísticos. O disco, no entanto, foge de sua promessa. O que é até positivo.

Aos 37 anos, Timberlake não abandona a experimentação com o pop e a dance music que marcou seu melhor trabalho Futuresex/Lovesounds (2006). Ele retoma a parceria com os produtores Timbaland e Pharell Williams, porém, aqui, sua pesquisa parece requentada, como nas medianas Filthy e Supplies. A boa Midnight Summer Jam, com exceção do uso da gaita, parece algo saído do Justified. A faixa-título também soa como um requentado da engraçadinha Can’t Stop The Feeling, hit da trilha do filme Trolls.

O flerte com o country dá as caras em Say Something, parceria com Chris Stapleton, e Flannels. Montana, com uma pegada funkeada, é uma das joias do álbum. Young Man é uma espécie de conversa com seu filho, cheia de conselhos vazios.
Durante sua ausência, Bruno Mars tomou o posto de hitmaker com coreografias contagiantes, enquanto Justin Bieber e The Weeknd ocuparam, respectivamente, o pop-dance e o r&b.

Ainda assim, o cantor continua entre os melhores artistas pop, permitindo-se experimentar, mas Man of The Woods é seu trabalho menos coeso. É um disco de celebração da rotina, do matrimônio e da paternidade, mas parece também um atestado de crise de identidade de um homem que não sabe se vai à floresta ou à pista de dança.

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