À frente do Diante do Trono, a pastora e vocalista Ana Paula Valadão Bessa celebra em 2018 os 20 anos do Ministério de Louvor nascido na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, a líder repassa a trajetória, recorda momento especial no Recife e projeta o futuro do conjunto que é referência na música gospel brasileira e mundial.
JORNAL DO COMMERCIO – Em que momento você percebeu que o Diante do Trono ultrapassaria os limites da Igreja Batista da Lagoinha?
ANA PAULA VALADÃO BESSA – Logo no início outras igrejas começaram a cantar nossas músicas e a nos convidar para viajarmos a vários lugares do Brasil. Foi um crescimento orgânico, natural, e celebrado pela nossa igreja local.
JC – O álbum Preciso de Ti foi o único disco gospel a figurar numa lista da ABPD como um dos álbuns mais vendidos da história do Brasil no ano de 2012. Durante a gravação, você sentia que estava produzindo algo tão especial?
ANA PAULA – Confesso que naqueles primeiros anos eu não conseguia curtir muito o que estava acontecendo porque a responsabilidade era muito grande! Eu só sabia pedir a Deus que me ajudasse a cumprir fielmente a minha missão. Não pensava na dimensão que estava alcançando, mas na minha parte de cantar a Mensagem que havia recebido para entregar. Hoje olho atrás e fico maravilhada. Foram coisas grandes que vivemos pela Graça de Deus!
JC – Além das barreiras de sua Igreja, o Diante do Trono também alcança pessoas não-evangélicas e de outras religiões. Existe uma preocupação do DT em falar para este público em especial?
ANA PAULA – Costumo dizer que minhas músicas são orações cantadas. Eu acredito que qualquer pessoa que esteja buscando a Deus pode se identificar com elas. Não mudo a composição por causa do público não evangélico, mas acredito que muitos gostam da gente por sentir a sinceridade do que a gente canta e atmosfera que é criada pelos louvores a Deus.
JC – Para você, qual o momento mais difícil que o Ministério passou nestes 20 anos?
ANA PAULA – A vida é marcada por superações, e na nossa história também tenho lembranças de diversos momentos difíceis. Mas um bastante doloroso foi a transição entre a primeira formação da banda e a segunda. Apesar de termos certeza de que era o tempo certo para mudanças e de que os jovens que chegaram eram tão preciosos, a saudade e o apego ao que já conhecíamos era muito forte. Graças a Deus enfrentei essa dor e avancei, e foi um segundo tempo maravilhoso!
JC – O álbum A Canção do Amor foi gravado no Recife em 2008 (completando 10 anos este ano). Quais as lembranças que você traz deste trabalho?
ANA PAULA – Foi tão especial gravar no Recife! Um dos públicos mais queridos e engajados de todo o Brasil! Foi diferente porque em cada cidade tivemos uma estratégia, e dessa vez gravamos numa das maiores casas de show da América Latina. O repertório foi muito especial e falava sobre voltar a amar a Cristo como no início da caminhada com Ele. Eu me lembro de termos até uma poltrona que ficava no meu quarto compondo o cenário numa música que falava dos momentos de oração e leitura da Bíblia, que fazem parte do nosso dia a dia cristão.
JC – Em algum momento você achou que liderar o Diante do Trono atrapalhou a sua vida enquanto cristã?
ANA PAULA – Nunca pensei assim. Mas analisando agora, acho que a exposição e os elogios podem ter acrescentado tentações à minha caminhada. Espero terminar fiel assim como comecei, entregando toda glória ao meu Senhor Jesus!
JC – A partir do disco Sol da Justiça (2011), o DT passou por várias mudanças, não só de integrantes, mas de postura enquanto Ministério de Louvor, trazendo com ele uma nova sonoridade. Como você avalia esta nova fase?
ANA PAULA – A vida e o mundo passam por mudanças e precisamos nos adaptar, sem perder a essência. O formato do grupo com muitos músicos e cantores, pessoas em sua maioria voluntárias, que não podiam estar à disposição e viajar, e a própria sonoridade mais contemporânea, foram alguns fatores que naturalmente conduziram às mudanças. Acima de tudo vemos a mão de Deus nos guiando e trazendo uma nova geração maravilhosa de músicos e cantores que foram levantados, enquanto os primeiros já estavam prontos e voando seus próprios destinos. Todas as estações são lindas e importantes, não é mesmo?
JC – No recente álbum Deserto de Revelação (2017), houve uma preocupação maior de divulgar este trabalho nas plataformas digitais. Quais os frutos que você já colheu deste trabalho?
ANA PAULA – Eu amo ler e ouvir as histórias das pessoas que se identificam com minhas músicas. Elas dizem que era tudo que queriam dizer pra Deus e não sabiam como. Falam sobre respostas que receberam a perguntas do seu coração. O Deserto de Revelação tem tocado profundamente as pessoas porque são músicas que nasceram em momentos de muita angústia, e todos passamos por isso. Os clipes estão lindos e as pessoas estão falando bastante sobre o impacto que as imagens trazem. Por exemplo, o tema dos refugiados árabes na Jordânia, que visitamos durante a gravação, tem movido muita gente que me escreve agradecendo por esse projeto.
JC – Da formação original, apenas você está a frente do Ministério ao longo destes 20 anos. O DT continuaria caso você percebesse o fim de seu ciclo no grupo?
ANA PAULA – De uma certa perspectiva o DT sou eu. Então acredito que enquanto eu viver e compor ele vai continuar fazendo música. Mas por outro lado o DT vai muito além de mim, e mesmo se um dia eu não cantar mais o legado vai permanecer. Mas mais do que isso! O que foi construído vai desta vida para a próxima, pois leva pessoas a Cristo na eternidade!
JC – Como você gostaria que o Diante do Trono fosse lembrado nos próximos 20 anos?
ANA PAULA – Uau! Que pergunta boa! Gostaria que o DT seja lembrado como um grupo de pessoas que amou a Cristo e ao nosso próximo intensamente. O amor é o dom supremo. Tudo vai passar, mas o amor permanece para sempre.