Marcelo Yuka morre aos 53 anos no Rio

O músico estava internado desde o início de 2019
JOSÉ TELES
Publicado em 19/01/2019 às 8:27
O músico estava internado desde o início de 2019 Foto: Foto: Divulgação


A morte do baterista Marcelo Yuka (Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana, 53 anos) em consequência de um AVC (sofrido 2 de janeiro de 2019) é o fim de uma via crucis iniciada em 9 de novembro de 2000. Ele voltava, à noite, para casa, na Tijuca, Zona Norte carioca, quando viu que bandidos estavam assaltando uma mulher. Yuka interveio e levou quatro tiros nas costas, que o deixaram paraplégico.

O grupo O Rappa, de que foi um dos fundadores e principal compositor, era na época um dos mais bem sucedidas do país. Mesmo em cadeira de rodas, ele tentou continuar a carreira, mas divergências com os integrantes, sobretudo pela guinada em uma direção estética com que ele não concordava, o levaram a deixar O Rappa.

A morte do músico foi anunciada, dia 2 de janeiro, de forma açodada por Marcelo Lobato, que o substituiu na bateria da banda, numa postagem no Instagram: “Valeu, Yuka! Obrigada por tudo. Sentiremos eternamente sua falta”. Com a pressa que rege o noticiário online, logo a notícia do falecimento de Marcelo Yuka estava circulando pelo país. Deu na Rolling Stone e no Zero Hora, de Porto Alegre, por exemplo, que logo retificaram as postagens.

Enquanto isso, Yuka estava na unidade de tratamento intensivo do Hospital Quinta D'Or, no Rio. Não foi a primeira vez que as frequentes internações do baterista provocaram mal entendidos. Em 2016, foi postado que ele estava na UTI, o que era verdade, mas não em estado grave, como depois explicou seu empresário, o recifense Geraldinho Magalhães.

Desta vez infelizmente o empresário não pode dar boas notícias. Marcelo Yuka perdeu a batalha. Desde que deixou O Rappa, em 2001, ele continuou lutando, procurando superar os obstáculos que a violência urbana colocou no seu caminho, exatamente quando vivia a fase mais prolífica e de sucesso da carreira.

O RAPPA

Em 1993, o regueiro Papa Winnie, ia tocar no Rio e precisava de uma banda local. Marcelo Yuka, na época numa banda chamada KMD-5, foi convidado para tocar nessa banda, com Xandão, Marcelo Lobato e Nelson Meireles. Decidiram continuar tocando juntos, e botaram anúncio no jornal à procura de um vocalista. Muitos se candidataram e Marcelo Falcão foi o escolhido. Yuka tornou-se o principal compositor e mentor ideológico de O Rappa. No álbum de estreia, das 16 faixas, 13 têm a assinatura do baterista (sozinho ou em parcerias). 

Yuka tornou-se artista plástico e ativista e começou a fazer música. É dele, por exemplo (com Seu Jorge e Ulisses Cappelletti), A Carne, canção que levou Elza Soares de volta aos holofotes, em 2002. Em 2004, Marcelo Yuka montou a primeira banda depois que saiu de O Rappa, a F.u.r.t.o (iniciais de Frente Urbana de Trabalhos Organizados), com Maurício Pacheco (ex-Mulheres que Dizem Sim), os pernambucanos Garnisé (ex-Faces do Subúrbio) e Jam da Silva. Um projeto que não foi comercialmente bem recebido, como se esperava de quem criou boa parte dos sucessos de O Rappa.

Provavelmente o fracasso em vendas deveu-se ao estado físico do músico, que se agravou nos últimos três anos. 2017, para ele foi de entradas e saídas de hospitais, o que lhe impossibilitou de fazer a divulgação do primeiro disco solo Canções para Depois do Ódio, em que investia contra a onda de conservadorismo que começava a irromper mundo afora. O disco tinha produção de Apollo 9, com participação em quase todas as faixas do belga (de pais belgas), Bukassa Kabengele. 

No disco ele enveredou por diversos temas, menos o que lhe dá título, músicas em que confessa sua crença na utopia: “Acho que o mundo está ficando pior mas eu tenho que ter esperança. Eu sou artista, o artista é reflexo da sociedade, não posso cantar minha desesperança. Pra mim as ocupações dão um pouco de esperança, acho que está vindo uma molecada que tá pronta pra ir pra rua, tá se articulando bem, nos dá esperança pra um novo mundo, para uma nova possibilidade”.

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