Alguns eventos, de tão poderosos, são instantaneamente memoráveis. Foi o caso da apresentação de Pabllo Vittar no Carnaval do Recife. Com show enérgico, encerrou a segunda noite do Rec-Beat, festival alternativo que acontece no Cais da Alfândega, e reuniu milhares de pessoas, que dançaram e entoaram seus hits.
Entre a confirmação da vinda de Pabllo Vittar e a realização de seu show passaram-se menos de uma semana. Foi tempo suficiente para que um frenesi tomasse conta de seus fãs, admiradores e curiosos e o resultado foi um Cais da Alfândega mais lotado do que o usual, ainda cedo, por volta das 21h. A expectativa para o show da artista maranhense era alta.
Mas, antes mesmo dela subir ao palco, o público teve a oportunidade de assistir a shows do pernambucano Cássio Oli e do trio Tuyo (PR). A banda, inclusive, mostrou que tem um número considerável de fãs no Recife e foi bastante tietada. Em seguida, Getúlio Abelha, piauiense radicado no Ceará, fez uma apresentação surpreendente. Com sua sonoridade que mescla ritmos nordestinos com uma estética e atitude punk e anarquista, ele conquistou a multidão, que vibrou com suas letras libertárias. Na abertura da noite e nos intervalos, o som ficou a cargo da DJ Kimberly Lindacelva.
Penúltima atração da noite, Romero Ferro, que agora assina como Ferro, apresentou um show que reforça o conceito que vem tentando trabalhar, intitulado por ele de brega wave. É uma mistura da sofrência e da cadência do brega pernambucano com os sintetizadores marcantes da new wave. Entre as canções que estarão em seu próximo disco, que será lançado em abril, ele cantou Pra Te Conquistar e Acabar a Brincadeira, além de ter trazido de seu repertório faixas como O Medo em Movimento.
Quando entrou no palco, um pouco depois da 0h30, Pabllo Vittar estava instigada na mesma medida que a plateia. Sua energia dissipou inclusive um princípio de confusão, pouco antes dela entrar, quando um empurra-empurra quase derrubou as grades que rodeavam o palco. A produção do festival, no entanto, foi muito rápida e solícita, contornando a situação. Com seu discurso de autoaceitação, empoderamento e compartilhamento de alegria, Pabllo também reforçou esse clima de paz e fez de seu show uma grande celebração.
Em quase duas horas de apresentação, ela não deixou faltar nenhum de seus hits, tanto os mais antigos, como Open Bar e Minaj, como os que a fizeram estourar no País inteiro, a exemplo de K.O. e Corpo Sensual, que levaram o público ao êxtase. Provando sua posição como uma das artistas pop mais importantes do País, ela sustentou a apresentação com várias canções do novo CD, Não Para Não, lançado em outubro do ano passado, como Buzina, Seu Crime e Problema Seu. E o público sabia cantar todas as faixas.
Pabllo mostrou também ser uma performer completa, dançando, interagindo com o público e fazendo caras e bocas que não deixam nada a dever a suas contemporâneas. Ela repetiu diversas vezes como amava Recife e em um dos momentos altos da apresentação, fez o famoso "passinho dos maloka", sensação na capital pernambucana. E o melhor: fez ao som de Shevchenko e Elloco, que na noite anterior tinham sido as grandes atrações do Rec-Beat.
Maior ícone da geração jovem LGBT no pop, Pabllo fez de sua estreia na folia pernambucana uma noite para não esquecer. A artista celebrou a vida, o amor, a diferença com sua dança, seu canto e seu corpo político, que é desejo, empoderamento, força e resistência mesclados. E isso, em tempos de disseminação do ódio e da intolerância, é de uma força imensurável.