Numa tarde quente de quinta-feira, o ar condicionado ambiente dentro de uma livraria no RioMar, no bairro do Pina, quase não dá conta do calor humano concentrado no mezanino. O motivo? A presença ilustre do músico, cantor e compositor carioca Marcelo Falcão Custódio. Com nome e sobrenome mais que conhecidos artisticamente, aos 45 anos de idade, após uma história de mais de duas décadas à frente da banda O Rappa, encara o início de uma trajetória solo e escolheu Recife para ser seu “Marco Zero” na noite deste sábado (6), no palco do Classic Hall, onde estreia a turnê nacional de seu primeiro álbum como solista: Viver – Mais Leve Que o Ar (Warner Music, 2019).
No pôster especial que ele autografaria para os 100 fãs felizardos que estavam à sua espera, uma frase chama a atenção: “Sou fechado com Deus, meus fãs e a música da alma”. E ele tentou explicar esse novo momento na rápida conversa que teve com o Jornal do Commercio antes do meeting.
“De tudo que eu já vivi na vida, mesmo nesse novo recomeço, foi ver a transformação das pessoas para melhor. Os fãs cresceram, agora são os ‘velhos fãs’ (risos). E eu queria curtir isso”, conta Falcão, com sorriso no rosto, e fazendo uma promessa ao público que o acompanha há muito tempo: “Nunca deixarei de tocar O Rappa, porque devo tudo, a minha vida ao Rappa, que é incomparável. Mas também queria ter alguma coisa nova para oferecer nesse meu novo momento, que é o Viver”.
O artista contou um pouco da gênese deste trabalho solo, que dentre as muitas colaborações, destaca-se a do pernambucano Lula Queiroga na faixa título. “Para o Viver, eu fui escolhendo quem era parceiro de Viver para estar nessa história. Era muito material. Cada música que encaixou com a história desse disco, todas mostravam um sentimento de que as pessoas estão em transformação, como aconteceu comigo e com esse álbum, e que também pudesse levar as pessoas a olharem dentro de si. E nesse mundo de polarização, de desunião, que elas pudessem fazer o que menos têm feito: viver”, explica.
O álbum de treze faixas vai conduzir o show que estreia hoje, e Falcão não esconde a empolgação. “Cara, eu montei um cenário louco! Eu sou chatinho com algumas coisas e descobri que ninguém tinha feito esse, por isso decidi fazer. O cenário é ‘crazy’! Eu posso te garantir”, diz o cantor, que brinca: “Não é Cirque du Soleil não, mas tá ali!”.
Para abrir o show, o carioca contará com as apresentações do rapper Hungria e da Nação Zumbi. “Acho incrível poder comungar com a nova geração, que é o Hungria. E ter Nação Zumbi comigo, cara, é como se fosse uma bênção, de uma banda que eu tenho carinho e idolatro para dizer: ‘Estamos com você nesse recomeço, estamos de apoiando’. Estou muito feliz de estar junto com eles”, afirma.
A identificação de Falcão com Pernambuco não é de hoje. E com a Nação Zumbi, muito menos. “No disco Rappa Mundi (Warner Music, 1996), a nossa relação de amizade estava tão grande que tem até uma música em homenagem a eles. Era uma identificação rápida em ver que, além de uma música normal e tradicional, tinham pessoas extrapolando isso. E essas pessoas eram do Recife. E tinha um geniozinho ali chamado Chico Science, e uma turma do barulho, chamada Nação Zumbi, que mexeram não só com o Brasil, mas com o mundo, e fascinou a gente da melhor forma possível! Eu sou fã e não descarto nenhuma possibilidade de, num próximo disco meu, ter eles como um dos grandes pilares novamente de cultura aqui em Pernambuco”, sentencia.
Sobre essa afinidade com o Estado que o recebe para esse recomeço, tanto pessoal, quanto profissionalmente, houve espaço até para comentar sobre gastronomia. “A cultura de vocês é fortíssima! E se você me encontrar comendo caranguejo por aí, não é difícil não! Eu amo!”, disse aos risos.
Brincadeiras à parte, Falcão sabe da responsabilidade de apresentar um novo trabalho para o seu público. “O que eu tenho para oferecer de som é uma banda que eu montei a dedo. Tenho uma guitarrista mulher, a Ju, que toca demais. Eu tenho um snap de metais, de três meninos queridos que são ex-militares. São pessoas que sonhavam tocar comigo, e eu já sonhava em tocar com elas. Tenho o Bira, que era do Cidade Negra, que agora está comigo no baixo. Parte da equipe do Rappa também veio comigo. Criei uma história que, ao vivo, vai fazer muito sentido para as pessoas. E outras pessoas vão querer ver também”, adianta.
Em tempos difíceis, em que as pessoas parecem mais amargas e intolerantes, Falcão tenta trazer um sopro de esperança através do Viver. E é isso que a plateia verá na prática logo mais.
“Viver comunga a música da alma. Chama as pessoas não só para se divertir, mas para que também se emocionem. Eu sou um cara muito otimista. Acredito que as pessoas vão dar mais valor à essa história, principalmente depois de ver meu show, de viver melhor, da melhor maneira possível. Está na hora de acordar e ver nas coisas simples da vida uma grande diversão. E hoje, no Classic Hall, tem uma grande diversão simples. E eu vou estar lá para fazer a felicidade de geral”, convoca um novo (mas o mesmo) Marcelo Falcão.
Estreia Turnê Viver, de Marcelo Falcão, com Hungria e Nação Zumbi – Neste sábado (6), a partir das 21h, no Classic Hall (Av. Agamenon Magalhães, S/N, Complexo de Salgadinho, Olinda). Ingressos: de R$60 (pista meia) a R$1600 (camarote 1º piso), à venda nas lojas Nagem, bilheteria do Classic Hall e site Bilhete Certo.