Naná Vasconcelos participou do manguebeat com brodagem em Samba Esquema Noise, da Mundo Livre

Músico apareceu no estúdio onde a banda gravava o disco e fez participação especial
Marcelo Pereira
Publicado em 09/03/2016 às 15:45
Músico apareceu no estúdio onde a banda gravava o disco e fez participação especial Foto: JC Imagem


Fred Zeroquatro é contactado pelo Messenger do Facebook. Com tristeza, ele recebeu a notícia da morte do Mestre Naná Vasconcelos, aos 71 anos, nesta uarta-feira, no Recife, vítima de câncer. O Mestre fez uma participação especialíssima, e por acaso, no disco de estreia da Mundo Livre S/A, marcando assim sua generosa contribuição ao manguebeat.

Segue o depoimento de Fred Zeroquatro:

 

Estávamos gravando o samba esquema noise. Na sala B do estúdio Bebop em Pinheiros (SP). Uma bela tarde tivemos a notícia de que uns gringos estavam chegando pra ensaiar na sala A que era maior. Iriam tocar no Free Jazz Festival. Nesse época Naná morava em N.Y. Não lembro agora quem eram os integrantes da banda mas sei que eram todos monstros do circuito top americano.
O empresário brasileiro do Mestre era Duncan Lindsay, irmão do Arto, que a gente conhecia de outros carnavais. Duncan nos visitou no estudio e ouviu algumas bases que já tínhamos gravado. Creio que se empolgou. Em sampa muita gente já comentava com expectativa sobre os aguardados primeiros discos do manguebeat. Eu corri no supermercado da esquina e comprei uma garrafa de Pitu. "Duncan, será que Naná teria um intervalo pra compartilhar uma meiota com uns fãs pernambucanos?", perguntei.
E o Mestre chegou sem cerimônia, tomou calmamente uns goles comigo.
Nessa época eu era muito bom de copo. Ele foi contando estórias e ficando à vontade. E a gente foi mostrando as músicas. Pediu pra ler as letras também. Mostramos Musa da Ilha Grande e ele foi correndo buscar o caxixi. Mostramos "Rios (Smartdrugs), Pontes e Overdrives" e ele na hora decidiu por um berimbau. TUDO DE PRIMEIRA, como quem mói caldo de cana.
Não acreditávamos no que víamos! A precisão, a sensibilidade, a generosidade, incrível. Músicas que nunca tinha ouvido antes.
Se Duncan não estivesse, coitado, regulando o horário, preocupadíssimo com o Free Jazz, acho que ele teria gravado em todas as faixas e teríamos encerrado a sessão só no dia seguinte... Esse era Naná.

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