Os líderes da União Europeia (UE) realizaram nesta quinta-feira, em Bruxelas, a uma cúpula marcada pela forte tensão entre Grécia e seus sócios da zona do euro, em total desacordo sobre as políticas de austeridade.
"Estou certo de que juntos vamos encontrar uma solução viável para curar as feridas da austeridade", disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ao chegar à cúpula.
O líder do partido de esquerda Syriza, que se impôs nas eleições de final de janeiro prometendo o fim da austeridade e reclamando uma renegociação da gigantesca dívida da Grécia, afirmou que a UE passa por um "momento crucial".
Essa é a primeira cúpula de chefes de Estado e de governo da UE da qual Tsipras participa. Nesse encontro que reúne presidentes e chefes de governo dos 28 países da UE, o primeiro-ministro grego tentará persuadir esses dirigentes da necessidade de substituir o atual programa de austeridade.
Este programa de austeridade, que termina no final de fevereiro, foi imposto à Grécia em troca dos resgates da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 2010, em que Atenas recebeu cerca de 240 bilhões de euros.
"Estamos em um momento crucial para Europa. Devemos provar que Europa pode encontrar uma solução respeitando as posições das partes e combinando o respeito da democracia e as regras e normas europeias", disse Tsipras, após se reunir com o primeiro-ministro belga, Charles Michel.
"O ambiente da cúpula será pesado, muito pesado para Tsipras", diagnosticou um diplomata europeu.
A chanceler alemã, Angela Merkel, é o principal obstáculo para Tsipras. A Alemanha, maior potência política e econômica do bloco, se opõe aos planos adiantados pelo novo governo grego.
Nesta quinta-feira estarão sentados à mesma mesa. No momento não está previsto um encontro bilateral.
Não é só Berlim que se opõe a uma substituição do atual programa de reformas por um mais flexível. A Finlândia, que emprestou à Grécia cerca de 2,7 bilhões de euros, demonstra intransigência em relação a Atenas.
"Estamos ficando sem paciência. A Grécia deve manter seus compromissos", disse o primeiro-ministro finlandês, Alex Stubb, que enfrenta eleições legislativas em abril.
A Espanha também se opõe a qualquer mudança nas regras para a Grécia. Apesar de Madri ter emprestado 26 bilhões de euros a Atenas o motivo não é unicamente financeiro: no ano eleitoral, o governo conservador de Mariano Rajoy vê como uma verdadeira ameaça o avanço nas pesquisa da formação de esquerda Podemos, grande aliado do Syriza.
Divergência total
Na quarta-feira à noite, o ministro da Economia grego, Yanis Varoufakis, não obteve o aval de seus sócios do Eurogrupo às propostas do novo governo de Atenas.
Nem mesmo conseguiu sinais de apoio a uma mudança radical em seu programa de reformas, considerado "especialmente catastrófico para a economia". Durante a reunião não foi sequer capaz de estabelecer um calendário com os temas a serem discutidos.
"Minha ambição era chegarmos a um acordo sobre as etapas dos próximos dias. Infelizmente não conseguimos e continuaremos nossas discussões na segunda-feira", afirmou o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, em coletiva de imprensa.
Ainda mais insólito foi o fato de os 19 membros da zona do euro não publicarem uma declaração conjunta, que segundo teria sido bloqueada de última hora por Tsipras após uma conversa telefônica com seu ministro da Economia.
O Eurogrupo quer que Atenas prorrogue o programa e implemente as reformas pactuadas, antes de começar a estudar soluções para reduzir sua dívida, que equivale a 175% de seu PIB.
Esse programa, que permitiu a Atenas receber dois resgates desde 2010 em troca da execução de drásticas medidas de austeridade, foi rejeitado pelo novo governo de esquerda.
Atenas se opõe a pedir uma extensão de seu programa e quer que seja criado um "programa ponte". A proposta é que sejam cumpridos 70% das reformas já acordadas com os credores e que os 30% restantes sejam substituídos por uma série de reformas elaboradas com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os ministros da Economia voltarão a se reunir na segunda-feira, data limite para que alguns Parlamentos nacionais possam dar seu aval a uma eventual extensão do programa que termina no fim de fevereiro.
"Todo mundo tem interesse em evitar uma moratória grega", avaliou uma fonte diplomática.