O dólar subiu pelo terceiro pregão seguido e retornou ao patamar de R$ 2,86 nesta quinta-feira (19), pressionado pelas incertezas em torno da aprovação da prorrogação do acordo de empréstimo da Grécia e também pelas dúvidas sobre a economia brasileira, que deve encerrar o ano com retração.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 0,92%, a R$ 2,867. Já o dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, fechou com avanço de 0,84%, a R$ 2,866.
Afetaram a moeda americana nesta sessão fatores internos e externos. No cenário doméstico, a incerteza sobre a recuperação da economia brasileira pesou neste pregão.
Na quarta-feira (18), o ministro Joaquim Levy (Fazenda) admitiu que o crescimento do PIB em 2014 "pode ter sido negativo" e que 2015 será um ano de desafios. O prognóstico do ministro veio em linha com o esperado pelo mercado, após o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, trazer a projeção de que a economia brasileira terá retração de 0,42% neste ano.
O custo do programa de intervenção do Banco Central também tem pesado sobre o dólar, afirma Fabio Lemos, analista de renda variável da São Paulo Investments. A discussão se dá em torno do fim das atuações diárias do BC no mercado cambial.
"De uns tempos para cá, começou-se a discutir o custo do swap. O próprio Levy disse que o governo não deveria intervir tanto no câmbio, então a moeda está caminhando para refletir os fundamentos da economia do país, que são ruins", afirma.
Nesta manhã, o Banco Central brasileiro deu continuidade às intervenções diárias vendendo a oferta total de até 2.000 contratos de swap cambial (que equivalem à venda de dólares no mercado futuro). Foram vendidos 800 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1.200 para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 97,9 milhões.
O BC também vendeu a oferta integral de até 13.000 swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de março, equivalentes a US$ 10,438 bilhões. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 66% do lote total.
No exterior, a Grécia formalizou nesta quinta-feira o pedido de prorrogação por seis meses de seu acordo de empréstimo em um esforço para evitar a falta de dinheiro dentro de algumas semanas.
O ministério alemão das Finanças rejeitou, no entanto, a proposta de Atenas. Segundo Martin Jaeger, porta-voz do ministério das Finanças alemão, no entanto, "a carta de Atenas não é uma proposta que leva a uma solução substancial".
Nesta sexta-feira, os ministros das Finanças da zona do euro se reunirão em Bruxelas para avaliar o pedido grego, disse o presidente do grupo, Jeroen Dijsselbloem, em um tuíte.
BOLSA
Já o índice Ibovespa, o principal do mercado acionário brasileiro, fechou estável após oscilar bastante durante o dia. O índice teve leve alta de 0,03%, a 51.294 pontos, e se manteve no maior patamar em dois meses.
O volume financeiro do pregão foi de R$ 4,7 bilhões, bem abaixo do giro médio diário, que é de R$ 6,85 bilhões até o dia 18.
No início do pregão, a Bolsa foi pressionada pela forte baixa da Petrobras, após a divulgação de que os estoques de petróleo nos Estados Unidos teriam aumentado na semana passada, de acordo com dados do Instituto Americano do Petróleo.
À tarde, porém, a Administração de Informação de Energia, do governo dos EUA, divulgou que a alta dos estoques no país na semana passada ficou bem abaixo da projeção da indústria.
As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, fecharam o dia com queda de 3,66%, a R$ 9,75. Já as ações ordinárias, com direito a voto, caíram 3,12%, para R$ 9,64.
Pesa contra a empresa também a possibilidade de novo rebaixamento da nota de crédito pela agência de classificação de risco Moody's, diz Eduardo Velho, economista-chefe da gestora INVX Global Partners. "A agência deve divulgar até o final do mês o novo rating da Petrobras, e uma avaliação para baixo da petrolífera pode levar pessimismo ao mercado", afirma.
As ações da Vale também tiveram queda, depois de subirem por quatro sessões seguidas. Os papéis preferenciais da mineradora caíram 2,51%, a R$ 19,06. As ações ordinárias perderam 2,69%, a R$ 22,10. A empresa encerrou 2014 com produção anual recorde de 319,2 milhões de toneladas de minério de ferro, contribuindo para o excedente de oferta global que derrubou os preços da matéria-prima do aço nos últimos meses.
O volume de minério de ferro produzido pela Vale, que exclui a produção atribuível à Samarco, foi 6,5% superior ao registrado em 2013, informou a mineradora nesta quinta-feira.