O principal índice da Bolsa brasileira fechou em alta nesta quinta-feira (16), acompanhando o bom humor nos mercados internacionais após o Parlamento grego ter aprovado na véspera um pacote de medidas de austeridade que deve liberar empréstimos para que a Grécia consiga escapar da falência.
O Ibovespa teve valorização de 0,32%, para 53.069 pontos. O volume financeiro foi de R$ 3,901 bilhões -abaixo da média diária do ano, de R$ 6,773 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa. No exterior, os índices de ações da Europa avançaram mais de 1%, enquanto nos Estados Unidos o ganho ficou entre 0,4% e 1,3%. Na Ásia, as principais Bolsas fecharam no azul.
"O fraco volume mostra que o investidor não tem motivação para estar no mercado acionário. O aplicador que escolhe a ação acreditando no bom desempenho da empresa no médio prazo já saiu da Bolsa", disse sócio-diretor da Easynvest Corretora. "Por que correr risco se há como ganhar por volta de 14% com juros na renda fixa?", completou.
A principal preocupação do mercado, segundo Cardoso, é o cenário interno. "A arrecadação está menor, o desemprego está maior, a inflação no próximo ano deve cair, mas ainda está alta, e a taxa de juros está extremamente elevada, assim, qualquer negócio que tente se financiar não consegue encontrar um retorno maior que o juro básico."
Sobre a visita de representantes da agência de classificação de risco Moody's ao país, Cardoso acredita que um rebaixamento da nota de risco do Brasil "já está no preço" dos ativos. "O que os investidores monitoram é a possibilidade de a nota ser colocada em perspectiva negativa, o que ameaça o grau de investimento brasileiro no futuro", afirmou.
Na Europa, após horas de violentos protestos em Atenas, o premiê grego, Alexis Tsipras, conseguiu a aprovação das medidas pelo Parlamento por 229 votos de um total de 300. O premiê afirmou que, embora não acredite, aceitou o acordo com os líderes europeus, porque do contrário poderia haver um calote com danos ainda mais catastróficos à economia.
O Eurogrupo, que reúne ministros de Economia e Finanças da zona do euro, deu sinal verde nesta quinta para o desembolso de 7 bilhões de euros para que a Grécia honre suas obrigações financeiras urgentes enquanto negocia o resgate de 86 bilhões de euros costurado por líderes europeus. O objetivo é que a verba seja liberada no máximo na segunda-feira (20).
Apesar de o avanço nas negociações entre a Grécia e seus credores ter sido comemorado pelo mercado, o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos, afirmou em relatório que "a crise financeira grega está longe de ser totalmente resolvida. A diretora geral do FMI, Christine Lagarde, voltou a afirmar que sem uma redução significativa da dívida da Grécia, o FMI não tem como participar do novo programa de ajuda financeira ao país."
PAPÉIS
Nesta quinta-feira (16), o minério de ferro subiu 0,22% no mercado internacional, para US$ 50,66 a tonelada. Com isso, as ações preferenciais da Vale, mais negociadas e sem direito a voto, fecharam em alta de 2,28%, para R$ 14,83 cada uma.
A Sabesp liderou os ganhos do Ibovespa, com valorização de 5,10%, a R$ 18,97. Após dois reajustes tarifários em seis meses, a conta de água e esgoto pode subir de novo para os consumidores da capital paulista.
Reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo" diz que a companhia quer repassar para a fatura dos clientes paulistanos o encargo de 7,5% da receita bruta obtida na cidade, a qual é obrigada a depositar no Fundo Municipal de Saneamento Ambiental e Infraestrutura para execução de obras.
O repasse para os consumidores foi autorizado em março de 2013 pela Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo), que fiscaliza os serviços da Sabesp, mas foi suspenso no mês seguinte a pedido do governo Geraldo Alckmin (PSDB), com o argumento de que estudaria "métodos de redução nos impactos aos consumidores".
Em sentido oposto, os papéis do Banco do Brasil perderam 3,26%, para R$ 23,15 cada um -a quarta maior queda do Ibovespa no pregão. O movimento refletiu a notícia de que o Fundo Soberano vendeu 1 milhão de ações da instituição financeira em junho. A agência Bloomberg citou fonte afirmando que a venda dos papéis faz parte da estratégia do governo federal para usar os recursos do fundo no ajuste fiscal.
DÓLAR
No câmbio, o dólar comercial fechou em alta nesta quinta-feira (16), após a notícia de que o Ministério Público abriu investigação sobre suposto tráfico de influência internacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para favorecer a construtora Odebrecht.
O dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,73%, para R$ 3,158 na venda. Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro e que fecha mais cedo (por volta das 14h30 de Brasília), teve desvalorização de 0,32% sobre o real, cotado em R$ 3,133.
Investidores temem golpes à credibilidade do governo brasileiro, que podem afastar investimentos do mercado local. Nesse contexto, o dólar saltou após a divulgação da notícia, após operar perto da estabilidade durante a primeira metade do pregão, quando reagiu ao cenário externo mais favorável.
O noticiário do lado fiscal pouco ajuda a melhorar as expectativas. Apesar de todos os esforços, o governo sofreu na véspera mais uma derrota no Congresso Nacional na tentativa de avançar com um projeto para reforçar o caixa do Tesouro Nacional neste ano e garantir o cumprimento da meta de superavit primário de 1,1% do PIB para 2015.
Nesta quinta-feira, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto -operação que equivale a uma venda futura de dólares para estender o prazo de contratos. A oferta de 6 mil papéis foi totalmente vendida por US$ 294,4 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7,1 mil swaps.
Mantendo a oferta de até 6 mil contratos por dia até o penúltimo dia útil do mês, o BC rolará o equivalente a US$ 6,396 bilhões ao todo, ou cerca de 60% do lote total. Se continuasse com as ofertas anteriores, a rolagem seria de 70%, como a do mês anterior.