Celulares com novas e múltiplas funções, conexões de internet móvel cada vez mais velozes, capacidade de navegar com facilidade a qualquer hora e de qualquer lugar, desenvolvimento de redes sociais e aplicativos de mensagens como o Whatsapp e o Telegram. Tantas foram as revoluções tecnológicas experimentadas nos últimos dez anos, principalmente no campo do mobile, que, cada vez mais, tem caído a procura do consumidor por voz – ou seja, ligações via celular – e crescido o uso de dados móveis, principalmente através de redes 3G e 4G, movimento que acompanha uma tendência mundial de imersão no universo web.
Significa dizer que os tempos da internet discada e de baixa velocidade, do SMS como principal forma de trocar mensagens instantâneas e da utilização de chips de várias operadoras de telefonia, além das horas gastas em ligações telefônicas, ficaram mesmo para trás. A era dos dados móveis chegou para durar.
Prova da mudança de comportamento é a pesquisa da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que aponta cancelamento de mais de 10 milhões de linhas de telefonia móvel entre maio e outubro de 2015, um decréscimo de quase 4% no número total, hoje na casa das 274 milhões de linhas ativas. A queda é inédita para as empresas de telefonia.
“São as próprias operadoras que efetuam os cancelamentos de linhas pré-pagas inativas nos últimos três meses, prazo estabelecido pela Anatel”, explica o presidente da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) Sérgio Kern. Ainda de acordo com ele, o alto custo de manutenção das linhas ociosas, que dependem, por exemplo, do pagamento de encargos como o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel)– é o principal motivo de as operadoras de telefonia estarem efetuando os cancelamentos com urgência.
Outros números capazes de diagnosticar muito bem o desafio que vem por aí são da Consultoria de Telecomunicações Teleco. De acordo com o órgão, em 2009, Oi, Tim, Claro e Vivo faturaram, juntas, R$ 78,1 bilhões com voz. Cinco anos depois, o número caiu para R$ 66,9 bilhões. Olhando para o mesmo período, mas analisando o uso de dados móveis, o crescimento dos lucros foi de quase 115%, saindo de R$ 28,3 bilhões para R$ 61,4 bilhões.
Para completar o quadro, 4.295 municípios brasileiros, ou 94% da população, contam com conexão 3G onde vivem. Já o 4G, tecnologia mais recente, cresceu 308% entre outubro de 2014 e o mesmo período de 2015.
Do lado do consumidor, a crise econômica que achata a renda e demanda malabarismo para lidar com o dinheiro mais curto certamente foi motivo para o abandono das linhas, mas está longe de ser o único.
A partir deste ano, a Anatel instituiu uma redução da chamada tarifa de interconexão, ou VU-M (Valor de Uso Móvel), usada para estabelecer valores de ligações por minuto entre operadoras de telefonia distintas. Atualmente, o preço médio para realizar ligações fora da operadora do usuário é de R$ 0,23/minuto. Até 2019, o valor deve chegar a R$ 0,02/minuto.
Em outros tempos, a medida da Anatel serviria para atrair mais pessoas para o clube dos ligadores, mas, agora que o acesso a internet móvel é mais importante, a redução só extinguiu o “efeito clube”, em que as pessoas detinham mais de um chip na tentativa de baratear seus custos com telefonia na hora de ligar para diferentes operadoras.
Ainda assim, o diretor de produtos e mobilidade da Oi, Roberto Guenzburger, defende que a medida não prejudica operadoras. “A diminuição do valor do V-UM foi amplamente discutida com operadoras de telefonia, logo montamos estratégias que pudessem driblar isso. A Oi, por exemplo, oferece vários planos em que as tarifas para telefonar para outras operadoras é a mesma de telefonar para outros números da Oi”, diz.