A profundidade da crise brasileira se deve principalmente a fatores domésticos, que incluem a turbulência política e os efeitos do escândalo de corrupção na Petrobras, afirmou o diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, em uma apresentação em Nova York na Americas Society/Council of the Americas.
"O Brasil está sofrendo por fatores externos, mas obviamente a profundidade da crise reflete condições domésticas", disse Werner em sua apresentação. O diretor do FMI ressaltou que indicadores da economia brasileira, como os números fiscais e a inflação, já vinham mostrando deterioração, mas a partir do segundo trimestre de 2015, os fatores políticos e a Operação Lava Jato amplificaram a crise.
A incerteza adicional veio do escândalo de corrupção e da turbulência política, disse Alejandro Werner.
Uma das evidências que fatores externos não explicam a crise brasileira é que outros países da América Latina, também dependentes de exportações de commodities, como Peru e Colômbia, estão conseguindo passar por este momento com Produto Interno Bruto (PIB) em crescimento e sem deterioração de vários indicadores econômicos, ressalta o diretor do FMI. "Não colocaria todos os ônus dos problemas (do Brasil) em fatores externos. Em termos da queda das commodities, países que gerenciaram a economia relativamente bem ainda estão bem posicionados para lidar com novos choques", disse.
Exagero no estímulo
Para lidar com o fim do super ciclo das commodities, o Brasil e outros países da América Latina tomaram uma série de medidas para estimular a economia a partir de 2010, mas Werner avalia que o governo de Dilma Rousseff pode ter "exagerado" nessa estratégia, sobretudo quando a piora da crise brasileira não mais era explicada apenas por fatores externos.
Um dos problemas que o Brasil precisa enfrentar para voltar a crescer é gerar condições para que o setor privado invista mais, disse o diretor do Fundo Monetário Internacional. Um dos fatores que explica o baixo crescimento do País nos últimos anos é a queda do investimento e da produtividade, destacou em sua apresentação.
O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff começou com a promessa e algumas medidas efetivas para um ajuste na economia, incluindo no lado fiscal, que era a estratégia correta a ser feita, disse Werner. Mas o ambiente político complicou a aprovação do pacote de medidas e agora levanta dúvidas sobre como fica a implementação do ajuste em um cenário mais adverso em Brasília.
Reformas
A América Latina deve ter em 2016 o segundo ano de crescimento negativo, puxado por quatro países, Argentina, Brasil, Equador e Venezuela, ressaltou Werner. Já outros países da América devem ter desempenho melhor, como Peru, Colômbia, Chile e México, este último se beneficiando da expansão mais forte dos Estados Unidos
A projeção do Fundo é que o crescimento da América Latina volte a ficar positivo em 2017, mas Werner pondera que o nível de expansão deve ficar baixo por mais alguns anos. Para acelerar a atividade, é preciso avançar nas reformas estruturais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.