Estancar a crise na economia será o desafio de quem estará na cadeira da Presidência da República, depois que o processo de impeachment for votado no Senado. Seja com Dilma Rousseff ou Michel Temer, o ajuste fiscal e a retomada do crescimento deverão ser as prioridades para o País voltar a gerar e emprego, afastar o risco de inflação e sair do buraco em que se encontra.
Analistas ouvidos pelo JC concordam que a resolução do impasse político abre uma janela de oportunidade para tentar solucionar o caos econômico.
Do ponto de vista político, as condições de governabilidade, é bom que se diga, não serão favoráveis nem com Dilma nem com Temer. Se a presidente permanecer, o que é improvável considerando a decisão de ontem na Câmara dos Deputados, continuará tendo dificuldades com o Congresso. Temer também não terá tranquilidade, uma vez que terá uma oposição ferrenha promovida por aqueles que deixarão o atual governo Dilma.
O que há de certo é um cenário recessivo que se aprofunda, uma crise causada por erros na condução da política econômica cometidos na primeira gestão Dilma.
O PIB deve cair pelo terceiro ano consecutivo, o desemprego aumenta mês a mês, há uma crescente perda do poder de compra do trabalhador e uma escalada da dívida pública que vem em paralelo com a retração dos investimentos públicos e privados. Vivemos um crise de confiança.
Do lado do empresariado, as manifestações são de apoio ao impeachment. Na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregou carta a cada um dos 513 deputados enfatizando as falhas na política econômica do governo Dilma e afirmando que “É hora de mudar”. Responsável por 25% do PIB brasileiro, a indústria é o setor mais prejudicado pelo encolhimento da economia nos últimos dois anos (veja arte).
“Neste segunda-feira (hoje), vamos entregar a ‘Agenda para o País sair da crise’ ao governo. Trata-se de um conjunto de 39 ações, apontando caminhos em áreas como eficiência do Estado, tributação, relações trabalhistas, financiamentos, política industrial, inovação e segurança jurídica. É uma agenda lógica, uma espécie de feijão com arroz para o Brasil começar a sair da crise”, diz o vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger, dizendo que o documento foi elaborado em conjunto pela CNI e as federações estaduais. Ele diz que o documento será entregue ao presidente, seja ele quem for após a decisão do Senado.
Economistas e cientistas políticos defendem a necessidade de se interromper a crise econômica sob pena de acelerar o movimento de marcha à ré que vive o País. “Desde a década de 1930 nós não tínhamos uma queda do PIB dessa magnitude. No entanto, o mais grave é a reversão de uma dinâmica em que o Brasil parecia ter encontrado um caminho de base macroeconômica estável e está havendo um retrocesso.
Não é só um questão de magnitude, mas o que representa de trajetória histórica. O País chegou a ter grau de investimento e uma percepção positiva no mercado externo. Essas perdas vão demandar um grande trabalho de reconstrução”, observa Rafael Cortez, cientista político na Tendências Consultoria Integrada.
Na avaliação de Cortez, a aprovação do impeachment cria uma chance para destravar o quadro político complicado. Mas não será fácil se construir uma coalização política em meio a um ambiente tão conturbado. “O Brasil não terá uma transição estável caso o impedimento passe no Senado. Se o novo governo conseguir restabelecer a credibilidade política começam a ser criadas as condições para o PIB voltar a ser positivo em 2017”, acredita.
A aprovação do impeachment na Câmara vai fazer o mercado esboçar uma euforia imediata. Nos últimos meses, notícias desfavoráveis a Dilma e Lula refletiam rapidamente na queda do dólar e na subida da Bolsa. “Vai acontecer uma euforia inicial, mas é preciso mais do que o comportamento do mercado para resolver o quadro econômico. Resolver o impasse político é importante, mas não é preciso tirar a presidente. Com boa vontade isso pode ser alcançado com Dilma no poder”, acredita o professor de economia da PUC São Paulo Antonio Carlos Santos.
O economista acredita que alguns indicadores negativos vão se reverter já ao longo de 2016. “A partir de setembro a economia poderá dar sinais de retomada e os aliados de Temer poderão dizer que isso tem a ver com ele, mas não será. A inflação está caindo por conta da baixa demanda e deverá puxar uma redução nos juros. O quadro externo também está favorável com as grandes economias se recuperando”, afirma.