Depois de dois anos seguidos em queda, as emissões de gases do efeito estufa voltaram a crescer no Brasil em 2018. Os dados são da 7ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) e serão divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Observatório do Clima, na Conferência Brasileira de Mudança do Clima, no Recife. A boa notícia é que o avanço da produção das energias renováveis no Nordeste foi um dos fatores que contribuiu para compensar o aumento das emissões decorrentes do desmatamento da Amazônia.
Embora o aumento tenha sido de 0,3% em relação ao ano anterior, apontando para uma quase estabilidade, a preocupação é que a tendência é de crescimento também para 2019. Com o resultado do ano passado, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking dos maiores poluidores do planeta e acompanha a tendência global de crescimento das emissões. O relatório “Estado do Clima” divulgado em agosto mostrou que o planeta bateu novo recorde de emissões em 2018.
“Manter as emissões brasileiras estáveis num mundo que continua aumentando as emissões é importante, mas não é suficiente. O planeta precisa que as emissões sejam reduzidas com vigor nos próximos anos e, infelizmente, nosso cenário para 2020 é de aumento”, afirma o coordenador técnico do Observatório do Clima e coordenador do SEEG, Tasso Azevedo. Em 2016, as emissões no Brasil registraram queda de 0,4% e em 2017 reduziram 4,2%; enquanto no ano passado passaram de 1,932 bilhão para 1,939 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). A principal causa do aumento foi o avanço do desmatamento, que respondeu por 44% de todo o carbono lançado na atmosfera pelo País em 2018.
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“Isso é preocupante porque temos uma política de enfrentamento da mudança climática de 2009 prevista em lei, que precisa ser cumprida e que os indicadores mostram claramente que não será no que se refere ao desmatamento da Amazônia. Foi preciso o problema este ano virar um escândalo internacional para que o governo aumentasse a fiscalização. Para 2020 existe uma meta de reduzir em 80% o desmatamento em relação a uma média histórica entre 1996 e 2005. Isso quer dizer que o limite admitido em 2020 seria de 3.925 km², mas só em 2018 a área chegou a 7.500 km² e a expectativa é que este ano alcance cinco dígitos. Uma taxa assim não se via há 11 anos, desde 2008”, alerta o secretário executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl.
A mudança de uso da terra (desmatamento) emitiu 845 milhões de toneladas de CO2e em 2018, respondendo por um avanço de 3,6%. O desmatamento da Amazônia se alastrou 8,5% e puxou as emissões para cima, mas foi parcialmente compensado pela queda de 10,9% do desmatamento no cerrado. O Pará foi o principal responsável pelo desmatamento e é o campeão entre os Estados brasileiros, com uma emissão de 237,8 milhões de toneladas de CO2e. “Os Estados onde estão a floresta são os maiores poluidores, enquanto os do Nordeste estão entre os que aparecem com as menores emissões”, compara Rittl. Pernambuco está entre os 10 Estados com menores taxas de emissões do Brasil.
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A queda de 5% no setor de energia foi o que ajudou a compensar a redução na emissão de gases do efeito estufa. “Vários fatores contribuíram para isso. Um deles foi o aumento no preço da gasolina, que fez com que muitos consumidores migrassem para o etanol, provocando um aumento de 13% no uso do combustível limpo. Outro foi o fato de a ANP ter considerado obrigatório a partir do ano passado percentual de 10% de biodiesel no óleo diesel vendido ao consumidor final, reduzindo o uso de combustíveis fósseis. Além do crescimento da energia eólica e do aumento das chuvas, que fizeram o governo desligar as usinas térmicas a combustíveis fósseis e acionar as hidrelétricas”, detalha Rittl.
Já o setor de processos industriais e uso de produtos, que reúne as emissões da indústria, teve em 2018 um aumento em seus gases-estufa de 1%, puxado pelo ligeiro reaquecimento da economia – de 99,9 MtCO2e para 101,2 MtCO2e. MtCO2e é a sigla para milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente. Ele responde por 5% das emissões nacionais. A agropecuária teve uma ligeira queda de 0,7% em relação a 2017, causada por uma redução no rebanho bovino, principal fonte de gases de efeito estufa do setor.
O acompanhamento das Emissões de Gases de Efeito Estufa é realizada desde 2013 e está em sua sétima edição. O desafio do SEEG agora é mergulhar no relatório de milhões de estatísticas e trazer um panorama de todos os municípios brasileiros. Um projeto piloto já foi realizado com as cidades do Estado de São Paulo. Carlos Rittl adianta que este ano já será possível trazer um panorama nacional de alguns setores, mas que a previsão é divulgar o relatório completo em 2020 com todos os cinco setores mapeados: agropecuária, energia, processos industriais, mudança de uso da terra e resíduos.
As estimativas são geradas segundo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base nos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Atuaram no SEEG 7 pesquisadores das ONGs: Ipam e Imazon (Mudança de Uso da Terra), Imaflora (Agropecuária), Iema (Energia e Processos Industriais) e ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade (Resíduos).