O desemprego no Brasil caiu de 11,6% no trimestre de agosto-outubro para 11,2% em setembro-novembro e ficou, pela primeira vez, desde 2016, abaixo da barreira de 12 milhões de pessoas que procuram trabalho, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (27). Esta é a segunda queda consecutiva na taxa de desemprego, possibilitada pela retomada da atividade às vésperas das festas de fim de ano e pelo número recorde de trabalhadores por conta própria a entrar no mercado, segundo o IBGE.
Os 11,2% marcam uma redução na taxa de desemprego acima do esperado por 29 instituições financeiras consultadas pelo jornal Valor Econômico, que estimaram que o índice estava situado, em média, em 11,4%. É o melhor resultado desde março-maio de 2016, quando o desemprego também atingiu 11,2%, antes de subir para 13,7% em 2017, afirmou o IBGE, que realiza seus estudos com base em trimestres móveis. A redução também foi de 0,4 ponto em comparação com o desemprego de 11,6% no período de setembro a novembro de 2018.
Em números absolutos, havia em setembro-novembro de 2019 um total de 11,9 milhão de pessoas procurando trabalho, 500.000 a menos que em outubro e 300.000 a menos que no mesmo período de 2018. É a primeira vez que o número de desempregados está abaixo de 12 milhões desde abril-junho de 2016 (11,6 milhões). O recorde foi alcançado no primeiro trimestre de 2017, com 14,2 milhões de pessoas em busca de trabalho.
As melhorias do último trimestre devem-se em grande parte à uma reanimação causada pelo período de festas, o que não havia ocorrido nos anos anteriores devido à crise. "O comércio mostra um movimento positivo no trimestre encerrado em novembro, o que pensamos estar relacionado a datas, como a Black Friday e à antecipação de compras de fim de ano", diz Adriana Beringuy, chefe do relatório do IBGE.
Também influenciou o número de trabalhadores por conta própria, que atingiu um recorde de 24,6 milhões, em comparação com 24,4 milhões no período de agosto a outubro. Em outubro também houve uma ligeira redução, de 11,9 para 11,8 milhões, de trabalhadores sem contrato, afirmou o IBGE, que realiza seus estudos com visitas a milhares de residências.
O número de pessoas que trabalham por conta própria e de trabalhadores terceirizados aumentou com as flexibilização de leis de contratação e as demissões implementadas desde 2017. Mas, segundo Beringuy, é difícil fazer uma avaliação precisa desse impacto em um momento de transformações em profundidade do mercado de trabalho. "Muitas coisas estão ocorrendo simultaneamente, tanto como resposta do mercado do trabalho, as mudanças do arcabouço institucional, as mudanças relacionadas ao crescimento de plataformas digitais de trabalhadores", explicou à AFP.
O número de "desalentados" (pessoas que desistiram de procurar trabalho devido à falta de oportunidades) permaneceu relativamente estável, em 4,7 milhões de pessoas, em comparação com 4,6 milhões em agosto-outubro. O governo de Jair Bolsonaro lançou um programa de ajustes fiscais e privatizações desde janeiro para tomar posse, a fim de sanar contas públicas e restaurar a confiança dos investidores como uma maneira de impulsionar a maior economia da América Latina. Os dados comerciais de dezembro confirmaram a intensificação da atividade, que deve dar um fôlego ao presidente e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
Os números do IBGE são "positivos, mas insuficientes para modificar a estrutura do mercado de trabalho. Apesar dessa reação, ao longo do ano houve um crescimento nas categorias relacionadas à informalidade, como o de trabalhadores por conta própria e empregados sem contrato", afirmou Adriana Beringuy.