O preço da conta de energia só vai baixar caso a reforma tributária altere a cobrança do imposto embutido na prestação desse serviço, segundo um dos maiores especialistas em energia do País, Altino Ventura Filho, que já ocupou diversos cargos em estatais do setor, incluindo o de ex-secretário de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME). “A conta de energia do Brasil é uma das mais caras do mundo”, disse. Mais de 50% do valor pago na fatura são formados por impostos e taxas recolhidos pela União, Estados e municípios. Apesar de a conta estar salgada para o consumidor final, o Brasil bateu o recorde da geração mais barata de energia eólica e solar do mundo no último leilão realizado pelo governo federal. O megawatt-hora (MWh) de solar e eólica foi vendido, respectivamente, por US$ 17 (R$ 67,48) e US$ 21 (R$ 79,90) no certame executado no último dia 28 de junho.
A discussão sobre essa contradição foi pauta do Fórum Internacional de Renováveis e Nuclear – Experiências Internacionais e Propostas para o Brasil, realizado pela Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês), com a participação de executivos e diretores de empresas e entidades do Brasil, Alemanha, Ucrânia e Japão. O evento foi realizado no auditório do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC).
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Até a semana passada, o recorde de preço mais baixo de geração de energia solar ocorria nos Emirados Árabes, por US$ 24, enquanto a geração eólica mais competitiva registrada estava no Marrocos, por US$ 30. Ambos valores são para o MWh. Mas por que esse preço baixo não chega logo na conta do consumidor? “Primeiro, é uma pequena quantidade de energia a que foi comercializada no último leilão. E também não depende só do preço da geração”, cita Altino. O leilão contratou 401 megawatts (MW) de capacidade instalada, o que é uma quantia pequena para o Brasil, que tem cerca de 165 mil MW de capacidade instalada de geração. A energia desse último leilão vai passar a ser produzida em janeiro de 2023. Ainda na sua palestra, Altino Ventura Filho falou da necessidade de criar um grupo de trabalho para analisar por que é tão alto o custo da energia elétrica no País.
“O custo da geração diminuindo implica que o preço da energia vai crescer menos ao consumidor final”, resume o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e ex-presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), José Carlos de Miranda Farias. “A expansão das renováveis acoplada com empreendimentos a gás pode baixar o custo da geração de energia, assim como a implantação de usinas híbridas (que fazem a geração solar e eólica) no mesmo lugar, porque elas usariam a mesma conexão e isso barateia os custos”, explica o secretário executivo de Energia e Infraestrutura da Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, Lula Cardoso Ayres Filho.
O preço das renováveis está baixando do Brasil à Alemanha, mas há outro motivo pelo qual essas fontes vão continuar crescendo. “O mundo todo está preocupado com as mudanças climáticas que podem provocar um aumento de até 2 graus Celsius. Isso vai ter uma repercussão na forma de gerar energia”, resume o vice-presidente da WWEA e presidente da Eólica Tecnologia, Everaldo Feitosa. “O Nordeste é o melhor lugar do mundo para eólica e solar. Se fosse um País, a região teria a segunda maior participação de eólica na geração, perdendo apenas para a Dinamarca”, contou. No dia 21 de agosto do ano passado, 98% da energia consumida pelos nordestinos vieram dos ventos.
Segundo Everaldo, as energias que vão continuar liderando a expansão da geração no mundo são a eólica, a solar e a nuclear. E, para o futuro, ele disse que o carvão “será uma coisa do passado”. Nos últimos seis anos, 75% das empresas de carvão do planeta pediram falência. “O petróleo está com uma tendência de declínio. A nuclear tem que superar desafios e desmitificações. As concessionárias terão que se adaptar porque os consumidores passarão a ser supridores de energia. A eólica e solar vão continuar num crescimento exponencial”, resumiu. Uma das grandes discussões do evento foi como será compensada a intermitência das renováveis, que param quando falta a matéria-prima que depende da natureza (os ventos e a radiação solar).
Tanto José Carlos de Miranda Farias como Altino Ventura Filho defenderam o aproveitamento do que ainda pode ser implantado de hidrelétricas no Brasil. “Em 2008, não foi contratada energia das hidrelétricas nos leilões porque não foi possível apresentar o licenciamento ambiental delas. Esse é um erro que não pode ser repetido”, contou Altino. Nessa época, a contratação incluiu várias térmicas a diesel que deixaram a energia do País mais cara e vão continuar produzindo até 2028.