O lado bom e o ruim do polo automotivo da Fiat

Impactos do projeto foram apresentados nesta segunda (5), em audiência pública
Giovanni Sandes
Publicado em 06/11/2012 às 0:33
Impactos do projeto foram apresentados nesta segunda (5), em audiência pública Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


Novo coração industrial para onde vão convergir 12 mil trabalhadores todos os dias, a partir de 2014, o polo automotivo da Fiat que será erguido na Mata Norte traz o risco de sobrecarregar a infraestrutura das cidades em sua área de influência, com o agravamento de problemas como falta de habitação e saneamento básico. São riscos de repetição de problemas como os que existem nos municípios próximos a Suape.

O diagnóstico, um alerta ao poder público, é parte dos resultados do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) de 2 mil páginas produzido pela Pires Advogados & Consultores por encomenda da própria Fiat e replicado em alto e bom som em uma audiência pública nesta segunda (5), em Goiana. O evento foi uma etapa obrigatória, prevista em lei, para o licenciamento ambiental da fábrica do grupo italiano.

A Fiat investirá em Goiana R$ 4 bilhões para produzir de 200 mil a 300 mil veículos por ano, com 7.352 empregos diretos só na construção. Quando a fábrica funcionar, em 2014, serão 4.500 postos de trabalho, sem contar 7.500 empregos nos 15 fornecedores que ficarão no mesmo terreno e ligados fisicamente à montadora (chamados de sistemistas).

“Teremos não uma fábrica, mas uma cidade completa, com área de segurança, alimentação, banheiros, transporte interno”, enumera Adauto Duarte, diretor de Relações Industriais da Fiat. Para atender à montadora e os sistemistas, serão erguidos 23 quilômetros de vias internas e mais de 500 mil metros quadrados de área construída (500 campos de futebol).

De acordo com a coordenadora técnica do Eia/Rima produzido pela Pires, Flávia Reis, o grande efeito positivo da Fiat será a geração de emprego e renda. Pelas características do terreno de 4.4oo hectares, não haverá impactos ambientais relevantes, já que por ele não passam mananciais de água e o que havia no local era plantação de cana-de-açúcar.

Do lado dos alertas, porém, o porte do polo automotivo vai atrair muitas pessoas e empresas, um grande risco caso os governos municipal e estadual, com o apoio da própria empresa, não se articulem para oferecer a devida infraestrutura, além da tarefa de fiscalização e controle.

Para se ter ideia dos possíveis impactos sociais da Fiat, sua área de influência direta no aspecto social abrange Goiana, Abreu e Lima, Igarassu, Itapissuma e Itamaracá. Quando se observa a área de influência indireta, o conjunto de municípios chega a 21, uma faixa que se estende do Grande Recife até a Região Metropolitana de João Pessoa, mais especificamente até Cabedelo.

Um exemplo do alcance das mudanças levadas pela Fiat à região é o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Abreu e Lima, Adolfo Soares dos Santos, 60 anos. “Vim conhecer o projeto, porque muita gente já está trocando o campo pela construção civil. A agricultura já tem dificuldade de encontrar mão de obra e muito mais gente vai trocar de profissão”, afirma Adolfo.

O comerciante Luiz José de França, 43 anos, é outro curioso e preocupado com os novos tempos que vêm aí. Ele mora no Distrito de Tejucupapo, terra das famosas Heroínas de Tejucupapo, mulheres que, em 1646, evitaram o saque da cidade por holandeses. “Nós temos 17 mil habitantes e nenhum colégio do Estado. Queria saber o que vai acontecer com Tejucupapo”, diz o comerciante.

 

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