Táxis: rádios partem para a briga com aplicativos

Pela Justiça e pela via política, operadoras cobram regras para concorrência eletrônica
Giovanni Sandes
Publicado em 21/06/2014 às 0:32
Pela Justiça e pela via política, operadoras cobram regras para concorrência eletrônica Foto: Reprodução


Aplicativos de celular deram cara nova ao serviço de táxis. Tão fácil quanto mandar mensagens, bastam alguns botões e em menos de cinco minutos o passageiro chama e embarca no veículo. A concorrência eletrônica, porém, acendeu o sinal amarelo na Associação das Empresas de Rádio Táxi de Pernambuco (Aert). A Aert, pelas vias judicial e política, questiona o que chama de concorrência desleal dos aplicativos, que operam sem a cobrança de tributos e responsabilidades cobradas às rádios da cidade. Por isso a entidade pede a suspensão ou regulamentação dos aplicativos, que por sua vez alertam para o risco de regras que impeçam a concorrência saudável.

O mesmo debate existe em São Paulo e Belo Horizonte. Na capital mineira, a Assembleia Legislativa, em fevereiro, realizou uma audiência pública para tratar do assunto. No Recife, todas as rádios tiveram queda na quantidade de motoristas cadastrados. Na Coopetáxi Recife são 200 carros. “Setenta saíram para aderir ao Easy Taxi ou 99Taxis”, diz Severino Marques, presidente da cooperativa.

Para lidar com a concorrência, as rádios também aderiram aos aplicativos, algumas como foco no mercado corporativo, como Wappa e Autocab. “Alguns taxistas já começam a voltar, porque a demanda do Easy Taxi e 99Taxi é mais noturna”, afirma.

As rádios reforçam o apelo ao mercado executivo com a garantia de frota em bom estado de conservação, prazo maior para o pagamento e motoristas uniformizados. “A tecnologia dos aplicativos já existia. A diferença é que nós temos custos e somos cobrados pelo taxímetro aferido, cadastro do veículo em dia”, conta Alexander Maia, diretor administrativo da Servitáxi, que conta com 450 carros.

É justamente aí onde aparecem as maiores críticas. Presidente da Associação das Rádios, Nivaldo Cavalcanti é também diretor presidente da Teletáxi, maior rádio local, com frota de 650 carros. “Nada contra. Aplicativos vieram ajudar as pessoas. Mas acho que essas empresas trabalham fora do contexto geral”, diz. Cada rádio, conta, precisa de licença da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), paga impostos à prefeitura e responde legalmente por problemas nas viagens. “Assim vira uma concorrência totalmente desleal”, afirma

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Para completar, ao contrário de outros Estados, onde os aplicativos cobram R$ 2 por corrida aos motoristas, no Recife por enquanto o serviço é prestado de graça para os táxis. Enquanto as rádios, por seus custos, precisam cobrar mensalidade. A Aert entrou na Justiça para suspender os aplicativos e cobra regras.

O LADO DOS APLICATIVOS

O Easy Taxi, aplicativo brasileiro fundado em 2011, hoje está em 32 países e virou uma referência no setor. Só no Recife, onde chegou há um ano e meio, tem metade da frota de 6.125 veículos, o mesmo número há mais de 30 anos. A companhia defende regras para garantir a qualidade do serviço e segurança para o usuário, mas alerta para uma possível estratégia de minar a concorrência com uso da lei. A empresa diz ainda não ser uma operadora de táxis e sim um serviço de marketplace – uma loja que faz o encontro virtual do taxista e do cliente.

Em praças como São Paulo e Recife, as rádios alertam que no caso de acidentes elas se responsabilizam perante a prefeitura, mas não os aplicativos. A Easy Taxi, com mais de 5 milhões de usuários no País, informa manter um cadastro recheado de documentos sobre os taxistas credenciados, que também são alvo de pesquisa sobre antecedentes.

A companhia concorda em estabelecer regras, para evitar o que aconteceu, por exemplo, com os sites de compras coletivas: empresas novas e sem experiência prejudicaram o segmento, com práticas negativas.

“Se for pela segurança do usuário, somos totalmente a favor de regulamentação, de regras como cadastro, registro do início e do fim das corridas”, afirma o fundador da Easy Taxi e co-CEO da empresa, Tallis Gomes. “Mas essa é uma palavra nebulosa”, ressalva. “Não somos a favor de protecionismo, se regulamentação significa proteger um mercado quase oligárquico”, afirma o executivo.

Tallis, contudo, ressalva a diferença entre os aplicativos e as rádios. “Não prestamos serviço de táxi. Somos uma empresa de market place. O táxi é um profissional autônomo”, enfatiza Gomes.

Ele enfatiza a capacidade de movimentar o mercado e gerar riqueza. “Somos muito analíticos. Antes do aplicativo, a média para o táxi chegar no Recife era de 25 minutos. Hoje são 5 minutos”, explica. “Contamos com 3 mil táxis no Recife e movimentamos R$ 1,5 milhão na cidade. Estamos contribuindo para a economia e melhorando a qualidade do serviço”, argumenta.

Sobre a empresa, ele enfatiza que a Easy Taxi surgiu nacional e virou a maior do mundo. “É tecnologia brasileira sendo exportada para outros países”, reforça.

EM CIMA DO MURO

Presidente do Sindicato dos Taxistas, Everaldo Menezes dos Santos, evita entrar na polêmica. “Táxi no Recife tem demais. O que prejudica é a mobilidade. Rádio ou aplicativo, o que for bom para o motorista e o usuário é bom para mim”, diz.

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