Zilda não desgruda do celular. Vez por outra checa mensagens de clientes e fica atenta ao desempenho da Senhorita Z nas redes sociais. Costureira por vocação, virou empreendedora depois de trabalhar por mais de uma década em lojas de confecção no Estado. Há pouco mais de um ano, viu a marca de moda feminina evangélica decolar. Hoje tem quase 55 mil seguidores no Instagram e o número não para de crescer. A plataforma é aliada na venda das peças criadas no ateliê improvisado no terraço de sua casa, no bairro de Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho. A Senhorita Z ocupa um espaço até pouco tempo pouco explorado no Brasil: a oferta de produtos e serviços especializados para o público evangélico. Pelas contas da Associação de Empresas e Profissionais Evangélicos do Brasil (Abrepe), o mercado fatura R$ 21,5 bilhões por ano e gera 2 milhões de empregos.
O avanço dos negócios anda em linha com o crescimento da população evangélica no País. No censo de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a maior nação católica do mundo está cada vez mais evangélica (22,2%). Atualmente, a estimativa é que eles já são 55 milhões de pessoas, representando 26,5% dos 207 milhões de brasileiros. “A previsão do IBGE é de que em 2040 a população evangélica seja maioria. Os empreendimentos cristãos já são fortes nos mercados literário, fonográfico e de instrumentos musicais, mas estão se expandindo para os setores de moda, turismo, varejo em geral, alimentação e muitos outros”, diz o presidente da Abrepe, Marcelo Rebello.
Pernambuco ainda não tem estatística sobre o tamanho do mercado, mas já é possível ver lojas especializadas no público cristão, inclusive em shopping center. O espaço, aliás, é cobiçado pela Senhorita Z na sua extensa lista de planos e sonhos para os próximos anos. “Quem tem um Deus grande precisa sonhar grande. Ninguém explica o que Ele faz”, acredita Joseílda da Silva Francisco, 40 anos, que ganhou o apelido de Zilda desde criança. Solteira, evangélica da Assembleia de Deus e morando com os pais, a Senhorita Z por trás da marca é uma mulher de sorriso generoso, energia vibrante e empreendedora por natureza.
Com cinco máquinas industriais em seu ateliê, ela produz praticamente sozinha tudo o que vende. Quando as encomendas crescem demais contrata costureiras diaristas para reforçar a produção média mensal de 300 peças. Os vestidos, saias, blusas e outros itens são vendidos a preços que variam de R$ 120 a R$ 260. Um dos segredos da Senhorita Z (expressão usada por um primo dela certa vez) é a atenção com a clientela. “Sem as clientes, a marca não existe”, diz com sabedoria, sem nunca ter feito curso de empreendedorismo. Hoje a marca conta com 60 estampas exclusivas desenhadas por designer de fora do Estado. “Meus principais planos para 2018 são ter uma coleção inteira com estampas exclusivas, criar um site para venda no atacado e alcançar 100 mil seguidores no Instagram (@senhoritazz)”, diz.
Para alcançar a meta, capricha nas estratégias de marketing. Faz parceria com blogueiras evangélicas, presenteia cantoras-celebridade (como Fernanda Brum e Mayra Carvalho) com modelos da marca e acabou de criar uma caixinha personalizada para embalar seus produtos. Enquanto conversava com o JC na tarde da última quarta-feira, recebeu mensagem de uma cliente da Argentina interessada em comprar um dos seus modelos de saia. “Já me procuraram do México, da Colômbia e de vários Estados brasileiros”, conta. Nos próximos dias, as clientes da empresa vão receber um brinde-mimo de uma bonequinha da Senhorita Z na embalagem de suas compras. Uma aula de empreendedorismo pra ninguém botar defeito.
Se de um lado a Senhorita Z tem a empolgação de iniciante, marcas tradicionais como a Luciana Noivas e a livraria Luz e Vida não perdem o bonde da expansão evangélica. Especializada em aluguel de roupas para noivas e festas, a Luciana Noivas inaugurou este mês a segunda loja da marca, na Conde da Boa Vista. Com 18 anos de mercado, a empresa conta com mais de 250 modelos disponíveis para aluguel, a preços que variam de R$ 400 a R$ 5 mil. “Pelo menos 70% do nosso público é evangélico e somos muito conhecidos entre todas as denominações. O cristão costuma ser fiel a sua comunidade, por isso acabamos tendo a família toda como cliente. A festa de ABC dos filhos, as debutantes e depois a noiva”, observa a jovem empresária Jéssica Pitancó, 22.
A rede paranaense de livraria evangélica Luz e Vida encontrou em Pernambuco seu maior mercado. São oito lojas espalhadas pelo Estado e mais duas serão inauguradas no mês de abril nos shoppings Camará, em Camaragibe, e Patteo, em Olinda. A sede e a editora da empresa ficam em Curitiba, onde a rede mantém duas unidades, além de mais duas lojas em Porto Alegre. “Hoje as livrarias precisam oferecer mais do que produtos aos clientes, por isso nossa proposta é oferecer uma experiência. O projeto das novas lojas conta com auditórios para realizar palestras e projetos culturais junto à comunidade”, destaca o gerente geral da livraria no Brasil, pastor Glevison Soares.
A Luz e Vida também é detentora do Smilingüido, a famosa formiguinha que está em dezenas de licenciamentos nos mais variados setores e produtos. Um boneco de pelúcia da turma da formiga é vendido por R$ 89. A primeira loja da empresa, localizada no bairro recifense de Santo Antônio, chega a receber 1,4 mil clientes por dia. O pastor diz que a Bíblia responde por 40% das vendas, explicando que são muito tipos, até com tecnologia de realidade aumentada.