Se com 17 anos, o vestibular é o teste que pode definir o futuro de muitos jovens, no mundo do futebol, Pelé, então promessa da seleção brasileira em 1958, fez da sua estreia em mundiais a prova que abriu espaços para uma carreira de fama internacional com essa idade.
Na Copa do Mundo da Suécia, no entanto, o futuro rei do futebol não era titular e só foi escalado no terceiro jogo, após recuperar-se de uma lesão, para o alívio do técnico Vicente Feola. “Pode ter razão, mas o doutor não sabe o que é mais importante no futebol. Se o joelho de Pelé estiver bem, vai jogar”, bradava o treinador durante o Mundial.
Mas fazer gols, maior talento do craque, só foi mostrado na partida seguinte, na vitória por 1x0 diante do País de Gales, nas quartas de final, quando anotou o primeiro dele em Copas - até hoje, o tento de um atleta mais jovem em mundiais.Daí em diante, deslanchou. Na semifinal marcou três vezes em cerca de 20 minutos contra a França de Just Fontaine na goleada por 5x2 no histórico estádio Rasunda.
Na final, o resultado se repetiu, dessa vez com dois gols do craque e consagração com a primeira Copa do Mundo verde-amarela. O palco foi o mesmo da semifinal e recebeu um público de aproximadamente 50 mil pessoas na decisão. Se considerados apenas os números do atacante em mundiais, o camisa 10 registra 12 gols, sendo seis em 1958, um em 1962, um em 1966 e quatro em 1970.
Ao todo, marcou 95 vezes em 115 partidas, incluindo amistosos, com uma média de 0,82 por jogo ao longo dos 14 anos em que defendeu a seleção, desde a estreia contra a Argentina pela extinta Copa Roca em 1957 até a despedida em 1971 para quase 140 mil espectadores em amistoso contra a Iugoslávia, no Maracanã.
Enquanto na Suécia Pelé tomou conta das ações e ditou o ritmo da seleção brasileira, em 1962, no Chile, outro craque passou a escrever a história do futebol, mas dessa vez, com pernas tortas. Com uma lesão na virilha do camisa 10 logo na segunda partida da competição, no empate por 0x0 contra a Checoslováquia, uma outra liderança tomou as rédeas do ataque: Garrincha.
Aos 28 anos, o já experiente camisa 7, auxiliado por Vavá e Amarildo, brilhou na competição e foi peça-chave na campanha do bicampeonato, sagrando-se ainda artilheiro com quatro gols ao lado de Vavá. Os dois primeiros foram feitos nas quartas no triunfo sobre os ingleses por 3x1.
Na sequência, deixou mais duas bolas na rede durante a semifinal contra os chilenos. Na partida, ainda chamou atenção por ter sido expulso aos 36 minutos após agredir o meia Rojas, quando os brasileiros já venciam por 4x2 no estádio Nacional do Chile. O mais inusitado foi que, mesmo após o cartão vermelho, Garrincha foi liberado para atuar na decisão contra a Checoslováquia.
Relatos da época contam que a presença do craque foi facilitada após uma pressão do então primeiro-ministro Tancredo Neves, com apoio do presidente João Goulart e ajuda do mandatário chileno, que teria até enviado uma carta à Comissão Disciplinar da Fifa para a escalação do Mané ser garantida. Representante do “futebol moleque” e responsável por dribles desconcertantes, Garrincha possui ainda outro tento, marcado na Copa seguinte.
O retrospecto do atacante pela Canarinho era tão impressionante que ao longo de suas 60 apresentações deixou sua marca 17 vezes e só perdeu uma vez, justamente na despedida. A derrota por 3x1, ocorreu no segundo jogo do Brasil no Mundial de 1966, diante da Hungria. A estreia ocorreu 11 anos antes, em 1955 contra o Chile.
Se sozinhos já eram craques, juntos tornaram-se imbatíveis. Em 40 jogos em que Pelé e Garrincha estiveram lado a lado, foram 35 vitórias e cinco empates, com um aproveitamento igual a 93,7%. Durante esta parceria, foram 44 gols do Rei e dez do Mané, dando a seleção uma média de três gols por partida. O adeus da dupla nos gramados ocorreu diante da Bulgária, primeiro jogo da fraca campanha de 1966 na Inglaterra.
Como coroação dessa parceria de ouro, o resultado foi 2x0, com um gol para cada atacante. Já com 32 anos, o camisa 7 não seguiu mais na seleção depois daquele mundial, enquanto o camisa 10 foi convocado ainda para a Copa de 1970, no México, para levantar o tricampeonato.