Futebol arte do Brasil ganha o tricampeonato mundial no México

Com um futebol mágico, a Canarinho venceu os seis jogos que disputou, conquistando o tricampeonato após goleada por 4x1 sobre a Itália na final
JC Online
Publicado em 04/02/2018 às 10:02
Com um futebol mágico, a Canarinho venceu os seis jogos que disputou, conquistando o tricampeonato após goleada por 4x1 sobre a Itália na final Foto: Estadão Conteúdo


“Noventa milhões em ação, para frente Brasil, do meu coração. Todos juntos, vamos, para frente Brasil, salve a seleção”. O trecho da música composta por Miguel Gustavo ecoou durante toda a Copa do Mundo de 1970, no México, e eternizou a campanha do tricampeonato mundial do Brasil. Na época, a seleção chegava à América Central carregando as cicatrizes do vexame de 1966 – a Canarinho fez a segunda pior campanha em Copas, sendo eliminada ainda na fase de grupos, com o 11º lugar. Embora carregasse a desconfiança dos torcedores e até do próprio elenco, o grupo comandado por Zagallo apresentou uma campanha invicta, com o ressurgimento do futebol arte liderado por Pelé, que aos 28 anos conquistava seu terceiro título mundial, feito inédito entre jogadores. Foi também em 1970 que o Brasil finalmente se vingou do Uruguai. Após 20 anos do Maracanaço, a seleção eliminou a Celeste por 3x1 nas semifinais. Na grande final, superou a Itália para conquistar a posse definitiva da Taça Jules Rimet.

MUNDIAL HISTÓRICO

A Copa de 1970 carrega o peso de várias histórias emblemáticas. Além da revanche da seleção, a Alemanha se vingou da Inglaterra nas quartas de final – as duas equipes decidiram o título da edição da Copa passada. Houve um dos maiores jogos de todas as Copas, a consagração de Pelé e o tricampeonato da seleção. Foi no Mundial de 1970, inclusive, que as regras do futebol sofreram alterações importantes. O sistema de substituições foi utilizado pela primeira vez no México. Na época, eram permitidas duas alterações por equipe em cada partida. As seleções também poderiam levar cinco reservas. Embalada pelas mudanças, a Fifa finalmente criou o esquema de cartões: amarelo para advertência e vermelho para expulsão. A ideia era estabelecer uma linguagem universal para que todas as equipes e os árbitros pudessem se comunicar melhor.

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A seleção brasileira de 1970 contava com muitos craques, mas passou por algumas turbulências até chegar ao México. O retrospecto trazia a lembrança da Copa de 1966, quando o Brasil, então bicampeão mundial, foi eliminado ainda na fase de grupos. Além disso, nos meses que antecederam o evento mexicano, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que posteriormente se tornaria a CBF) contratou o jornalista João Saldanha para comandar a seleção. O problema não era esportivo e sim político. O País encarava o período da ditadura do Regime Militar e o treinador estava ligado ao Partido Comunista. As contrariedades não param por aí. A CBD pretendia agradar o presidente Médici com a convocação do atacante Dario. Saldanha respondeu à investida com um categórico não: “o presidente escala o ministério dele e escalo minha seleção”, disparou.
O episódio culminou em crise interna na entidade e na queda de Saldanha. Às vésperas do Mundial, Zagallo, que tinha apenas três anos de experiência como treinador, mas estava distantes de problemas políticos, assumiu o cargo. Ele também tinha a vantagem de conhecer o ambiente de Copas do Mundo, afinal, fez parte das seleções de 1958 e 1962. A delegação nacional foi a primeira a aportar no México para iniciar a aclimatação e Zagallo, confiante, anunciava aos jornalistas. “Fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a ir embora”, sentenciou.

A campanha de 1970 contou com um grupo de feras: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino eram os titulares da seleção que até hoje é considerada a melhor de todos os tempos por muitos especialistas. Eles protagonizaram seis partidas e marcaram 19 gols, totalizando uma média incrível de 3,2 por jogo. Na fase de grupos, o Brasil passou invicto por Checoslováquia (4x1), a atual campeã Inglaterra (1x0) e Romênia (3x2). Nas quartas de final, Peru, que tirou a Argentina do Mundial, foi o rival da vez. O Brasil cravou um 4x2 para avançar às semifinais e duelar contra o Uruguai, na grande revanche do Maracanaço. A princípio, os jogadores não curtiram a ideia de enfrentar a Celeste em uma decisão tão importante. Nenhuma jogada encaixava e nervosismo atrapalhou o entrosamento. A Celeste se aproveitou da fragilidade e abriu o placar aos 19 do primeiro tempo. O Brasil sofreu mais do que o placar por 3x1 sinaliza, mas felizmente conseguiu se vingar do rival com gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivellino. Na decisão, Brasil e Itália duelaram pelo tricampeonato e, consequentemente, pela posse definitiva da taça Jules Rimet. O clássico internacional foi dominado pelos brasileiros, que com um futebol bonito golearam a Azzurra por 4x1, fechando a campanha história do tri. O troféu ficou com o Brasil até 1983, quando foi roubado e derretido. A Fifa produziu e entregou uma réplica para a CBF. A taça tem 1.800g de ouro e fica guardada com muito cuidado na sede da entidade: um símbolo da maior Copa de todos os tempos.

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