'Força de expressão', diz presidente da FPF sobre fala defendendo execução após ataque de organizada do Sport

Ele ainda disse que a FPF foi muito além do que caberia a ela fazer
Lucas Holanda e Pedro Alves
Publicado em 06/02/2020 às 13:40
Ele ainda disse que a FPF foi muito além do que caberia a ela fazer Foto: Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem


O presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, voltou a falar sobre o ataque de membros de uma Organizada do Sport a torcedores do Santa Cruz que comemoravam o aniversário de 106 anos do tricolor no Pátio de Santa Cruz, na Boa Vista. Na terça-feira (4), em entrevista à Rádio Jornal, o mandatário disse que os policiais deveriam ter atirado nos integrantes da facção, e não para cima. Nesta quinta-feira (6), em entrevista ao programa Redação SporTV, ele disse que a sua fala foi 'força de expressão".

"Evidente que isso é uma força de expressão. A Polícia Militar teve uma atuação de altíssimo nível, muito qualificada. Conseguiu ter um poder de reação imediata, disparou para o alto e conseguiu evitar uma tragédia", disse. No entanto, Evandro Carvalho voltou a defender a pena de morte, mesmo que incitar essa pena seja um crime aqui no Brasil.

"A manifestação  de que a sociedade poderia se sentir melhor no momento em que marginais são enclausurados, ou, como nos Estados Unidos e vários países, chegam a ser executados após o devido processo legal, após o amplo direito de defesa, após o contraditório, após o grau de jurisdição... Isso é uma pura opinião pessoal minha. Eu, se fosse parlamentar, defenderia que essa é uma ferramenta útil em casos extremos para cada Estado", afirma.

 

RELEMBRE O CASO

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Perguntado se a Federação Pernambucana de Futebol fez alguma coisa para combater a violência vinda das Torcidas Organizadas, o presidente expôs parcerias com empresas de tecnologias, em que foram desenvolvidas ferramentas de monitoramento usadas pela Polícia Militar na batalha contra o crime.

“(Durante) Os nove anos que estou à frente da FPF, fomos a primeira Federação a proibir ingresso das Torcidas Organizadas ao estádio de futebol. A FPF foi primeira e única a investir R$ 300 mil para desenvolver com uma empresa de tecnologia uma ferramenta de monitoramento social para ações preventivas de inteligência da polícia. Isso foi um investimento privado nosso. Foi a primeira a desenvolver, com empresas, uma ferramenta que nós chamamos de Torcedor Alerta, que virou Cidadão Alerta, e que hoje é utilizada por alguns países do mundo. Uma integração absoluta do Sistema de Segurança. Essa ferramenta permite, em tempo real, o monitoramento de toda a cidade e acesso a qualquer informação de qualquer pessoa via qualquer ferramenta (Whatsapp e outros meios) que informe a ocorrência de violência física ou patrimonial”, revelou o presidente, que finalizou exaltando o trabalho da Federação e cobrou que o poder legislativo do País desse força para o executivo.

“A FPF foi muito além do que caberia a ela fazer. É preciso que o Congresso e o parlamento brasileiro permitam ao poder executivo, que se esforça ao máximo e se vê constrangido e tolhido de não ver qualquer resultado concreto, com risco pessoal, de prender esses bandidos. E eles são simplesmente submetidos a um Boletim de Ocorrência e são liberados. Que os nossos congressistas tenham coragem de legislar de forma dura e eficiente e que possam permitir aos nossos policiais militares e delegados dispor de ferramentas efetivas que levem a prisão esses bandidos. Se o presídio é bom ou ruim, vou usar as palavras de Bolsonaro ‘só vai para lá quem merece ir’. O que não pode é a sociedade ficar refém de bandidos porque uma determinada faixa de formadores de opiniões, de intelectuais ou de políticos acham que os crimes que não sejam contra vida são crimes de menor poder ofensivo. Não são! Essas ações coletivas, elas atacam a sociedade. Elas possibilitam outros crimes como de furto e roubo. Então, que tenhamos uma legislação que dê respostas aos nossos policiais militares e aos nossos delegados”, completou.

CONTRAPONTO

Em entrevista à Rádio Jornal nesta quarta-feira (5), o promotor do Ministério Público de Pernambuco, Ricardo Coelho, disse que a Federação Pernambucana de Futebol ficou a favor das Torcidas Organizadas (TO). “Me lembro muito bem que, dos três grandes clubes da capital, apenas o Sport se posicionou contra as TO, os restantes foram a favor, inclusive recebi um presidente acompanhado dos dirigentes das instituições organizadas no meu gabinete, falando praticamente como se fosse o presidente da organizada, pedindo para que a ação não fosse proposta e para que essas torcidas fossem asseguradas nos estádios. E isso tudo fica ainda mais lastimável quando a Federação Pernambucana se posicionou a favor das TO, não acatou a recomendação do MP para as proibições das Organizadas”, disse o promotor que completou criticando a Federação Pernambucana de Futebol (FPF).

O promotor ainda definiu que a declaração onde Evandro Carvalho diz que os policiais deveriam ter atirado nos membros da Organizada é 'infeliz e criminosa'. "Eu achei que foi uma declaração bem infeliz e criminosa no momento em que incita a prática de crime de execução e ela deve ser objeto de uma responsabilização. Uma pessoa que ocupa um cargo de tamanha relevância e importância não pode falar esse tipo de afirmação no momento que ela estimula a prática de uma ação criminosa. Isso tá previsto na lei penal. O que deve haver é  o afastamento da política do futebol e essa medida extrema não cabe. O que cabe é o rigor da FPF em enfrentar o problema, do clube, do MP, do Poder Judiciário e isso pode ser vencido, como foi vencido em outros estados e no exterior”, criticou de forma construtiva o promotor.

 

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POSICIONAMENTO DOS CLUBES

Santa Cruz - Questionado se esse era o caminho ideal para acabar com a violência causada pelas organizadas, Constantino Júnior, presidente do Santa Cruz afirmou que não compactua com a ideia. “Acho que a frase foi muito forte. Não compactuo com violência para combater violência. O Estado tem condição para resolver isso e acho que os clubes também podem oferecer uma questão de leitor biométrico para que o torcedor possa se identificar, por exemplo. Acho que é preciso ser firme e forte e, sem dúvida alguma, dar punição. Não podemos deixar isso impune de jeito nenhum. Agora não acho que precisamos atirar e matar quem quer que seja”, destaca Constantino.

Náutico - Ao ser perguntado se esse era o caminho ideal para acabar com a violência causada pelas organizadas, Edno Melo , presidente do Náutico definiu a fala de Evandro como 'sem cabimento'. "Uma declaração sem nenhum cabimento. Como é que você vai propagar o ódio desse jeito? Isso aí é muito maior do que atirar em uma pessoa e outra. Eu acho que a Federação tem que ficar preocupada com o problema macro. Enquanto a Federação, Governo do Estado, Polícia Militar e os clubes não olharem de uma maneira séria, isso vai se repetir. E isso afasta quem? O pai de família, o trabalhador que quer ir mas fica com medo de ser agredido ou vítima de bala perdida.

Sport - A reportagem da Rádio Jornal tentou contato com Milton Bivar, presidente do Sport, que se negou a falar do assunto pelo motivo de não ter ouvido a declaração de Evandro Carvalho.

 

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