Se há uma fase de 87 que traduz a valentia rubro-negra, foi a semifinal. Contra o Bangu, do bicheiro Castor de Andrade, presidente de honra do clube, o Sport peitou um dos dirigentes mais poderosos do futebol brasileiro à época. Foram dois jogos decididos literalmente na tapa. Tanto na partida de ida, no Moça Bonita, em Bangu, quanto na volta, no efervescente caldeirão da Ilha do Retiro.
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O Bangu tinha nomes conhecidos no seu elenco. O zagueiro Mauro Galvão, o meia Arthurzinho e os atacantes Marinho e Ado haviam vestido a camisa da seleção brasileira em anos anteriores. Mas a principal peça daquele elenco era mesmo o chefão Castor de Andrade. Ele comandava o jogo do bicho no Rio de Janeiro e era presidente da escola de samba Mocidade Independente, que conquistou cinco títulos do Carnaval carioca sob o seu comando.
A sensação de guerra perdurou na partida de ida. Mas só para os jogadores dentro de campo. O clima hostil não se fez presente na chegada da diretoria do Sport. Tanto Homero Lacerda (presidente do clube), quanto Fred Oliveira (presidente da Federação Pernambucana de Futebol), tiveram regalias e foram tratados a pão de ló. Ficaram numa tribuna de honra, protegidos pelos seguranças de Castor.
Esse tratamento não foi dado aos jogadores do Sport. Na chegada do ônibus, foi feito um corredor por pessoas desconhecidas, que ficaram encarando os atletas e dificultando a passagem. Pior foi dentro de campo, com o árbitro Nei Andrade deixando de marcar faltas claras em agressões físicas dos cariocas. Os rubro-negros apanharam, literalmente, nas quatro linhas. No fim, derrota por 3x2 e a necessidade de virar o placar no jogo da volta.
A Ilha do Retiro estava lotada na segunda partida da semifinal. E as “saudações” rubro-negras foram dadas antes mesmo da bola rolar. O Bangu entrou pelo portão da arquibancada do placar. Lá de cima, um torcedor soltou uma pedra, que caiu em cheio no bicheiro. Ficou ensanguentado e precisou de atendimento médico.
Mas a vitória veio na bola. Dentro de campo. O Sport abriu 3x0 ainda no primeiro tempo, com Zico, Betão e Nando. Marinho descontou no fim.
Castor de Andrade chegou a pedir à Confederação Brasileira de Futebol a anulação do jogo. Mas foi negado. Estava concluído mais um capítulo da epopéia rubro-negra rumo ao título nacional.