Lucas Santtana, atração do Rec-Beat, fala sobre show e novo disco

O músico baiano vem pela primeira vez à cidade desde o lançamento de 'Sobre noites e dias', elogiado pela crítica
Diogo Guedes
Publicado em 15/02/2015 às 7:10
O músico baiano vem pela primeira vez à cidade desde o lançamento de 'Sobre noites e dias', elogiado pela crítica Foto: Louro Cunha/Divulgação


Homens e mulheres têm um tempo próprio. Não são pessoas que se comunicam simplesmente por “sim” e “não”, não respondem sempre imediatamente ao que perguntam – ao contrário dos códigos binários de máquinas e sua velocidade quase instantânea. Em um mundo em que a relação entre pessoas e aplicativos é cada vez mais comum (o Tinder resume a atração por alguém a um escolha direta, sem nuances), o músico e cantor baiano Lucas Santtana se inspirou nesse presente com ares de filme futurista para compor o sexto disco da sua trajetória, Sobre noites e dias (Diginois), lançado no ano passado.

Uma das atrações do Rec-Beat deste ano, na Terça-Feira Gorda, o artista promete trazer a música dançante do álbum para o palco. “Infelizmente, só temos uma hora, vamos ter que cortar parte do show original”, comenta, em entrevista por telefone. É a terceira passagem dele pelo Carnaval pernambucano, mas, pela primeira vez, ele poderá curtir um pouco da folia local. “Nas outras vezes, vim com a passagem marcada para logo depois do show. Agora, vou ficar na quarta para brincar um pouco”, revela.

Apontado como um dos principais discos de 2014 pela crítica especializada, Sobre noites e dias é uma obra madura de um artista já consagrado por trabalhos como O deus que devasta mas também cura (2012) e Sem nostalgia (2009). Há ecos de sonoridades já exploradas por Lucas, mas em composições bem-construídas e delicadas, que falam de amor, da solidão diante de telas e máquinas, das ruas e que unem elementos do hip-hop e quartetos eruditos – tudo isso com letras em português, inglês, francês e espanhol.

Para o músico, o mundo de hoje é cheio de extremos. “Apesar disso, o mais delicado é que tenho a impressão que todo mundo está anestesiado, inerte”, conta Lucas. “Acho que estamos vivendo uma revolução comportamental e não nos damos conta. Meu filho tem 12 anos e está aprendendo espanhol com um aplicativo no celular que funciona como se fosse um jogo – é divertido e ensina ao mesmo tempo. Uma máquina permite avanços e possibilidades, mas tem seus problemas, porque impõe o seu próprio ritmo, trabalha com relações imediatas e binárias, de sim e não. As pessoas precisam de mais tempo, do tempo humano, da dúvida”, ainda afirma, em uma referência à faixa que abre o disco, Human time.

Mas não é só de críticas ao mundo atual que vive Sobre noites e dias – está nele a bela balada Partículas de amor e faixas sobre a liberdade sexual, como Funk dos bromânicos. Na obra, também marcam presença parcerias com De Leve, Bi Ribeiro, Daniel Haaskman, Letieris Leite, do Oslo String Quartetentre, Bruno Marques e as atrizes Camila Pitanga e Fanny Ardant. “Os encontros são parte do disco, nas parcerias e na temática. É um álbum sobre sair pelo mundo, ter relação com pessoas e máquinas, sobre o convívio no século 21, as sexualidades”, descreve o músico, que já trabalhou com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Marisa Monte e prepara nesta semana o lançamento do clipe de Diário de uma bicicleta.

O músico Lucas Santtana comenta que o disco parece uma continuidade dos seus trabalhos anteriores porque ele construiu, nos quase 15 anos de carreira autoral, um universo seu. “Naturalmente, nos meus discos, eu já criei um mundo. Esse disco tem muito em comum, tem retornos que se somam a elementos novos”, opina. No álbum-síntese, no entanto, há uma diferença grande de ponto de vista para o CD anterior.

“O deus que devasta mas também cura era quase um diário, um disco ‘para dentro’ mesmo. Sobre noites e dias é mais promíscuo, um olhar para fora. Com certeza essa vontade de ver o externo tem a ver com as viagens e turnês dos últimos anos, tanto que o disco é cantado em vários idiomas”, aponta.

No show do Carnaval, não há como esperar menos do que encontros assim, difusos, ricos e animados – como são as noites e os dias de que fala o seu álbum.

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