A seca no semiárido, que inclui os Estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais, chega ao seu quarto ano com impactos reduzidos em parte da região e o agravamento no Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
No panorama geral, caiu quase à metade o número de municípios em estado de emergência reconhecidos pelo governo federal: de 1.507 há um ano para um total de 798 cidades atualmente.
Esse alívio se deu com uma melhoria no cenário de Alagoas, Bahia, Maranhão, Piauí e Sergipe, de acordo com dados do Ministério da Integração Nacional.
Na Bahia, por exemplo, as barragens já estão acima de 70% da capacidade, segundo o presidente da Embasa (Empresa Baiana de Água e Saneamento), Abelardo de Oliveira Filho. "Os problemas maiores foram falta de água para irrigação e para os animais, mas foi dada uma prioridade para o abastecimento humano", afirmou.
Outro Estado, o Piauí, tem suas barragens abastecidas em 45%, em média. Segundo o secretário interino da Defesa Civil do Piauí, Raimundo Coelho, as chuvas que ocorreram no fim do ano também abasteceram as cisternas das zonas rurais, mas o fornecimento de água por carros-pipa deve ser retomado a partir da metade deste ano caso não chova.
Dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) apontam que houve uma melhoria nas chuvas em alguns desses locais em 2014. Na média das 90 estações meteorológicas espalhadas pelo semiárido, porém, as chuvas do ano passado foram melhores que as de 2012, mas piores que as de 2013 (veja gráfico).
Para 2015, a previsão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais é 45% de probabilidade de seca. As chuvas em janeiro deste ano já foram as menores dos últimos seis anos.
CIDADES EM COLAPSO
Do lado inverso, a seca já prejudica o fornecimento de água em zonas urbanas de cidades de pequeno e médio porte no CE, PB, PE e RN.
Isso porque o semiárido desses Estados está em áreas mais castigadas pela estiagem e as chuvas continuaram abaixo das médias.
Há ao menos 248 municípios nesses quatro Estados submetidos a algum tipo de economia no fornecimento de água, seja rodízio de abastecimento entre diferentes bairros ou mesmo o colapso do fornecimento.
Nesse cenário, um dos pleitos apresentados pelos Estados ao governo federal na última semana é que se amplie a Operação Carro-Pipa para as zonas urbanas. Coordenados pelo Exército, os 6.371 carros-pipa atendem apenas às zonas rurais.
Um dos casos mais graves é o de Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco (a 190 km do Recife). Com cerca de 100 mil habitantes, a cidade recebe água durante dois dias e passa outros 28 dias sem nenhum fornecimento.
Segundo o governo de Pernambuco, 80% dos municípios do Estado estão submetidos a algum tipo de rodízio. Na Paraíba, há cidades como Cajazeiras (61 mil habitantes) e Campina Grande (402 mil habitantes) passando por racionamento. No Ceará, os reservatórios de água caíram de 65% em 2012 para abaixo de 20% atualmente.
O Ministério da Integração Nacional informa que as ações emergenciais têm aliviado os impactos da seca e diz que já gastou R$ 1,9 bilhão com carros-pipa, R$ 4,2 bilhões para a implantação de 781,4 mil cisternas, R$ 195 milhões para perfuração de poços e repassou aos municípios R$ 462,3 milhões para ações de socorro. O governo afirma também que vai avaliar novos repasses para obras emergenciais.
AÇÕES EMERGENCIAIS
O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, afirmou que o governo federal vai aproveitar o conhecimento de combate à seca no semiárido para adotar ações emergenciais no Sudeste e avalia até a possibilidade de usar carros-pipa na região.
"Você pode ter certeza que carro-pipa, solução de poços, adutoras, todas elas vão ser colocadas como parte de uma solução global. É claro que a solução de abastecimento de água passa por uma série de outros estudos, mas há uns que vão ser emergenciais, como esses", disse.
Responsável pelo combate à seca no semiárido, o Ministério da Integração Nacional tem participado das discussões sobre a estiagem no Sudeste. A pasta pode ser escolhida para representar o governo federal na discussão sobre o que será feito com a água do rio Paraibuna, que abastece São Paulo e Rio.
No próximo dia 25, o governo federal deve fazer uma reunião com vários órgãos para discutir o problema da estiagem, tanto no Nordeste quanto no Sudeste.
O ministro disse que não há risco de retirada de recursos do Nordeste para combate à seca no Sudeste. "Não há nenhuma expectativa de migrar recursos de uma região para a outra. Todas as obras são necessárias", afirmou.
Na avaliação de Occhi, as obras emergenciais no Sudeste são mais importantes para suprir a demanda de água.
"Se você considerar que a necessidade de São Paulo é em torno de 25 m³ de água por segundo, talvez você precise ter um carro-pipa por segundo abastecendo São Paulo, aí não tem trânsito, não tem onde buscar. As soluções são inerentes a cada região, porém não se descarta a utilização, como hoje mesmo deve ter carro-pipa em São Paulo funcionando para alguns condomínios e poços que estão sendo perfurados por indústrias e empresas", afirmou.