Vinte anos atrás, em 1999, padre Francisco Caetano Pereira foi nomeado vigário cooperador da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, e se deparou com umas 40 pessoas largadas na frente do prédio. “Era um espetáculo humilhante, resolvi ajudar de alguma forma e comecei a entregar uma cesta básica semanal”, recorda o religioso. Nesse mesmo ano, depois de seis meses em Boa Viagem, padre Caetano é transferido para a Paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Santo Amaro.
E é nesse bairro, na área central da cidade, que o padre desenvolve trabalhos sociais há duas décadas. “Minha primeira providência em Santo Amaro foi identificar áreas carentes da paróquia e encontrei a Rua Astronauta Collins. Os moradores não tinham sanitário em casa, faziam as necessidades em sacos e jogavam na calçada de um galpão na mesma rua”, relata o sacerdote. Ele cadastrou as famílias (quantos são, fonte de renda, no que trabalham), acompanha todas de perto e entrega a cada uma delas uma cesta básica mensal.
Uma família em especial chamou a atenção do padre, que é professor do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Católica de Pernambuco. “Eram 18 pessoas amontoadas em palafitas sobre o esgoto, aquilo me chocava. Com apoio de alunos do curso de direito da Unicap conseguimos construir duas casas decentes para elas, uma com 20 metros quadrados e outra com 30 m²”, diz.
“O lugar era tão precário que os moradores costumavam dizer que viviam na Rua da Merda, com o perdão da palavra. Conversei com eles e passei chamar de Rua do Mel”, recorda padre Caetano. Hoje, os dejetos são canalizados para caixas coletoras na calçada. Pela paróquia, todos têm assistência médica e odontológica, recebem medicamentos e, quando necessário, são encaminhados a Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).