Governo argentino se diz vítima de ataque judicial

Vice-presidente foi acusado por suposta corrupção em uma causa investigada que envolve a compra de 70% de uma gráfica que tinha o monopólio da impressão de papel moeda
Da AFP
Publicado em 20/02/2015 às 10:40
Vice-presidente foi acusado por suposta corrupção em uma causa investigada que envolve a compra de 70% de uma gráfica que tinha o monopólio da impressão de papel moeda Foto: Foto: AFP


O governo argentino se declarou nesta sexta-feira vítima de um ataque judicial depois do segundo processo aberto por suposta corrupção por parte do vice-presidente.

"Há um ataque corporativo midiático e judicial contra os funcionários do Governo", afirmou o chefe de gabinete Jorge Capitanich, em sua habitual coletiva matinal.

Na quinta, o vice-presidente Amadou Boudou foi novamente acusado por suposta corrupção em uma causa investigada e que envolve a compra de 70% de uma gráfica que tinha o monopólio da impressão de papel moeda, depois de ter interferido para evitar sua falência quando foi ministro da Economia em 2010.

Consultado a respeito, Capitanich afirmou que, "na Argentina, a justiça não é independente das corporações". 

Na véspera, Capitanich já havia reclamado que a passeata silenciosa realizada na quarta-feira pela morte do promotor que acusou a presidente Cristina Kirchner de acobertar terroristas iranianos em um atentado antissemita em 1994 teve caráter político e opositor.

"Temos que identificar que, por trás de cada uma destas manifestações, existe um interesse político", afirmou o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, em sua habitual coletiva de imprensa na Casa do Governo.

Mais de 400 mil pessoas acompanharam a marcha em Buenos Aires na quarta-feira, convocada para homenagear o promotor Alberto Nisman, morto misteriosamente há um mês, informou a polícia da capital, que é governada por Mauricio Macri, de oposição e candidato da direita às eleições de 25 de outubro no país. Já a Polícia Federal, que responde ao governo, calculou o multidão da marcha em 50 mil pessoas.

O ato foi convocado por seis promotores opositores ao governo de Cristina Kirchner. A origem do caso, que envolve uma confusão judicial e política, é a explosão que destruiu sede da Amia, em 1994. O ataque deixou 85 mortos e 300 feridos.

Nisman foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento em 18 de janeiro, com um tiro na cabeça de uma pistola calibre 22 emprestada por um colaborador. Havia apenas uma bala no chão e o corpo obstruía a porta.

Na Argentina quase ninguém acredita na hipótese de suicídio. Nisman havia acusado Cristina Kirchner quatro dias antes e, na manhã seguinte de sua morte, deveria justificar a denúncia no Congresso.

Em 2005, com o apoio do falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), Nisman acusou ex-governantes iranianos, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani, de envolvimento no atentado contra a Amia.

Em 2013, Cristina Kirchner assinou um acordo com o Irã para criar uma comissão de investigação integrada por juristas que não fossem nem argentinos, nem iranianos, para levar os acusados ao banco dos réus. Nisman e a numerosa comunidade judaica discordaram do acordo e alegaram que Teerã não era confiável.

Na acusação contra Kirchner, Nisman disse que a presidente tentava livrar os iranianos das acusações, em troca de petróleo, apesar de o combustível de Teerã ser incompatível com as refinarias argentinas.

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