Cristina relaciona denúncia de Nisman com campanha israelense contra o Irã

Antes de aparecer morto, Nisman denunciou a presidente, o chanceler Héctor Timerman e aliados de tentarem encobrir suspeitos iranianos responsáveis pelo atentado à entidade judaica Amia, em Buenos Aire
Folhapress
Publicado em 20/04/2015 às 18:56
Antes de aparecer morto, Nisman denunciou a presidente, o chanceler Héctor Timerman e aliados de tentarem encobrir suspeitos iranianos responsáveis pelo atentado à entidade judaica Amia, em Buenos Aire Foto: Foto: Presidência da Argentina


A presidente Cristina Kirchner publicou em uma rede social comentários em que relaciona a denúncia do promotor Alberto Nisman, morto há três meses, com uma suposta campanha global israelense contra o Irã.

Antes de aparecer morto, Nisman denunciou a presidente, o chanceler Héctor Timerman e aliados de tentarem encobrir suspeitos iranianos responsáveis pelo atentado à entidade judaica Amia, em Buenos Aires, em 1994, no qual 85 pessoas morreram.

O ponto de partida da investigação de Nisman era um memorando de entendimento assinado entre Argentina e Irã, em 2013. Na versão do governo, o acordo com o Irã permitiria interrogar os suspeitos iranianos -cinco deles são altos funcionários do governo de Teerã.

Mas Nisman suspeitava que, por trás desse acordo, haveria interesses econômicos. Em sua denúncia, ele afirmou que a Argentina queria vender grãos e comprar petróleo mais barato do Irã.

Com o título de "Tudo tem a ver com tudo", o artigo de Cristina afirma que, assim como tenta derrubar o acordo de paz entre EUA e Irã no Congresso americano, Israel também teria patrocinado o rechaço ao memorando da Argentina com o Irã.

"Qualquer semelhança não é mera coincidência. Estamos diante de um modus operandi de caráter global, que não apenas fere seriamente as soberanias nacionais, interferindo no funcionamento dos distintos poderes dos Estados, mas gera operações políticas internacionais de qualquer tipo", afirma Cristina.

"Tudo tem a ver com a geopolítica e com o poder internacional. Algumas vezes, seus efeitos podem ser globais sobre a paz, como por exemplo impedir o acordo entre EUA e Irã, ou colaterais, como impossibilitar acordos que contribuam para que, depois de 21 anos, se possa haver verdade e justiça para as vítimas da Amia", diz.

ABUTRES

Os comentários de Cristina se basearam em um artigo do jornal "Página 12", publicação simpática ao governo, assinado por Jorge Elbaum, que foi integrante da entidade judaica Daia e hoje trabalha para os ministérios da Economia e de Relações Exteriores.

No texto, Elbaum cita um suposto encontro de Nisman com líderes da comunidade judaica em que teriam combinado reforçar os ataques ao memorando de Argentina e Irã.

Segundo Elbaum, nessa ocasião, Nisman teria dito que "se fosse necessário, Paul Singer iria ajudar".

Singer é o principal controlador do fundo NML Capital, líder dos chamados "abutres", que cobram na Justiça americana uma dívida de US$ 1,7 bilhão do governo argentino.

O artigo do hoje funcionário de Cristina afirma que Singer também financiou políticos americanos do Partido Republicano que fizeram críticas à Argentina.

O memorando de entendimento nunca foi ratificado pelo governo do Irã e sua constitucionalidade está em discussão na Argentina.

'BARBARIDADE'

Nesta segunda (20), lideranças judaicas argentinas desmentiram as informações de Elbaum.

Disseram que nem as entidades nem Nisman tinham relação com os chamados fundos "abutres".

"É parte de uma campanha que não é casual, é parte do 'mente, mente que algo ficará'", afirmou o vice-presidente da Daia, Waldo Wolff, em entrevista para a "Rádio Mitre".

Wolff classificou como uma "barbaridade" o artigo de Elbaum.

O vice-presidente da Daia explicou que a comunidade judaica questionou o memorando por "canais constitucionais".

"Nunca um presidente tinha se apegado a um artigo de procedência duvidosa. Não temos que dar resposta, infelizmente somos as vítimas."

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