A trégua humanitária decretada por Moscou entrou em vigor nesta quinta-feira na cidade síria de Aleppo (norte), embora quase nenhum morador dos bairros rebeldes tenha usado os corredores abertos para a evacuação de civis e rebeldes.
Há confusão em relação à duração desta "pausa humanitária" de 11 horas, depois que Moscou anunciou que a prorrogaria durante as 24 horas seguintes, até a noite de sexta-feira, e que a ONU informou que a Rússia a manteria até a noite de sábado.
Por sua vez, os países da União Europeia (UE), que se reúnem em Bruxelas na noite desta quinta-feira, disseram que cogitam todas as opções, até mesmo sanções contra o governo de Damasco e seus apoios, incluindo Moscou.
Em Aleppo, a segunda cidade da Síria, a trégua anunciada pela Rússia começou às 08h00 locais (03h00 de Brasília).
Seis dos oito corredores humanitários instalados servem para a retirada de civis, doentes e feridos, enquanto os outros dois se destinam à saída dos rebeldes armados. Mas os civis também poderão utilizar estes dois últimos, de acordo com o exército russo.
As Nações Unidas esperam poder evacuar os primeiros feridos do leste de Aleppo a partir de sexta-feira, anunciou nesta quinta Jan Egeland, que dirige o grupo de trabalho sobre a ajuda humanitária na Síria.
"Esperamos que as primeiras evacuações médicas ocorram amanhã", declarou Egeland durante um encontro com a imprensa em Genebra. Também disse que a ONU tem autorização da Rússia, do regime sírio e de grupos armados da oposição.
Um jornalista da AFP que visitou quatro corredores confirmou que nenhum civil passou por estes locais. Disse ainda que uma mulher, sua filha e um homem idoso deram meia volta quando os combates começaram.
Outro fotógrafo da AFP viu sete feridos que conseguiram abandonar a zona rebelde por Bustan al-Qasr.
Em conversa por telefone com o secretário de Estado americano, John Kerry, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse que são os rebeldes sírios os que impedem a evacuação dos civis em Aleppo, apesar da trégua humanitária vigente.
A ONU espera poder evacuar os primeiros feridos do leste de Aleppo a partir da sexta-feira, anunciou nesta quinta-feira Jan Egeland, que dirige o grupo de trabalho para a ajuda humanitária na Síria.
"Esperamos que as primeiras evacuações médicas ocorram amanhã", declarou Egeland durante um encontro com a imprensa em Genebra. Informou, ainda, que a ONU tem o aval da Rússia, do regime sírio e de grupos armados da oposição.
Com exceção dos combates da manhã, a situação era relativamente tranquila em Aleppo. Vários disparos de foguetes alcançaram os bairros controlados pelo regime, onde uma menina ficou ferida, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Há dois dias o regime do presidente Bashar al-Assad e sua aliada Rússia suspenderam os bombardeios contra os bairros da zona leste de Aleppo, onde vivem cerca de 250.000 pessoas.
Moradores das áreas controladas pelos rebeldes manifestaram à AFP o desejo de deixar a região, mas não esconderam o ceticismo com o anúncio da trégua "humanitária".
"Preciso sair daqui porque as condições de vida estão muito deterioradas, falta comida e trabalho. Mas não serei o primeiro a passar por estes corredores, arriscando a minha vida e a da minha família", disse à AFP Mohamed Shayah, desempregado e pai de quatro filhos.
Através de alto-falantes, o exército sírio convocou os habitantes dos bairros do leste a "aproveitar a oportunidade" para evacuar os feridos.
Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Ajuda Humanitária (OCHA), afirmou na quarta-feira que as equipes responsáveis pelo envio de auxílio a Aleppo precisavam de uma interrupção dos combates por pelo menos 48 horas.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse estar "preocupado" com o avanço para o Mediterrâneo de uma frota naval russa com o único porta-aviões russo em serviço, que poderia "participar das operações" aéreas na Síria.
Há várias semanas, as potências ocidentais acusam Moscou de "crimes de guerra" por bombardeios extremamente violentos, iniciados em 22 de setembro, que mataram centenas de civis e destruíram boa parte da infraestrutura, sobretudo hospitais.
Os 28 países da UE, reunidos nesta quinta-feira em Bruxelas, estudavam "todas as opções, incluindo novas sanções" contra "os apoios do regime", segundo um projeto do acordo ao qual a AFP teve acesso.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, convocou, por sua vez, a responder de forma "forte e unida" diante da agressão russa na Síria.
Aleppo, que já foi a capital econômica da Síria, se transformou em um dos símbolos da guerra que está destruindo o país desde 2011. A cidade está dividida desde 2012 entre a zona oeste pró-governo e a zona leste controlada pelos rebeldes.
Localizados principalmente nas proximidades de escolas e mesquitas, os pontos de entrada dos corredores humanitários serão vigiados por drones, segundo o exército russo.
Funcionários da missão das Nações Unidas e voluntários do Crescente Vermelho da Síria devem ajudar na retirada de civis, com um acompanhamento ao longo de todo o trajeto a partir de Aleppo, indicaram os militares russos.