EUA são menos prejudiciais fora das negociações sobre o clima

Analistas e ONG's contam com uma aliança entre a União Europeia e a China
AFP
Publicado em 02/06/2017 às 18:30
Analistas e ONG's contam com uma aliança entre a União Europeia e a China Foto: Foto: AFP


A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris é melhor do que ter um mal aluno na mesa de negociações para implementar o tratado, avaliam os especialistas que apostam na liderança da União Europeia com a China.

"Melhor que ele (Trump) saia do acordo do que prejudicá-lo", declarou Mohamed Adow, especialista da ONG Christian Aid.

O fato de ter havido um país tão influente como os Estados Unidos freando as discussões sobre a aplicação do Acordo de Paris nas reuniões anuais da Conferência as Partes (COP) era um temor entre os especialistas. 

"Os Estados Unidos podiam causar mais prejuízos dentro do que fora do acordo", avaliou Luke Kemp em um artigo publicado nesta semana na revista Nature intitulado "Melhor fora do que dentro".

Para poder aplicar o Acordo de Paris, que pretende limitar o aumento da temperatura global "a menos de 2ºC" em relação à era pré-industrial, ficam por definir numerosos regulamentos. 

Entre os temas que ainda precisam ser abordados está o primeiro balanço coletivo dos esforços para reduzir os gases do efeito estufa, previsto para 2018, e a transparência das políticas climáticas nos diferentes países. 

'Postura'
 

A ideia de uma renegociação do Acordo de Paris, descartada por vários líderes políticos, foi classificada como uma "posição" por aqueles que assistem habitualmente as reuniões.

"Os Estados Unidos podem propor o que quiserem, mas nenhum país vai acompanhá-los na mesa de negociação", declarou à AFP Alden Meyer, especialista da associação União de Cientistas Preocupados, que acompanha os diálogos há mais de 20 anos. 

O acordo concluído em dezembro de 2015 em Paris foi fruto de anos de discussões trabalhistas, com o precedente do fracasso em Copenhague em 2009. 

"O Acordo de Paris é o melhor compromisso possível", declarou à AFP Ahmed Sareer, representante das Maldivas e dos Pequenos Estados Insulares na ONU. 

A pergunta agora é se, com a ausência dos Estados Unidos, as metas de todos os países poderão ser reforçadas. 

O Acordo de Paris busca limitar o aquecimento "abaixo dos 2º C" e se for possível limitá-lo a 1,5°C, uma folga que já é bem ampla.

Segundo os compromissos atuais, o planeta se orienta a um aumento de mais de 3°C, uma cota que para os especialistas é catastrófica. 

"São o segundo emissor mundial, isso vai desacelerar a transformação da economia americana em um momento em que não temos muito tempo (para atuar e ficar abaixo dos 2°C", afirmou Laurence Tubiana, diretora-geral da European Climate Foundation e ex-negociadora da França. 

Uma oportunidade?
 

Essa retirada oferece "uma oportunidade à comunidade internacional para mostrar sua determinação frente a um dos  maiores desafios", explicou à AFP Thoriq Ibrahim, ministro de Meio Ambiente das Maldivas e porta-voz dos Pequenos Estados Insulares.

A eleição de Donald Trump, em plena conferência de Marrakech, celebrada no Marrocos em novembro passado, foi um choque, ao qual os países conseguiram resistir reafirmando ao final da reunião sua adesão ao pacto. 

Desde então, os sinais positivos se repetiram. Com a liderança de China e União Europeia, mas também com a ajuda de países como Índia e Arábia Saudita, que reiteraram sua vontade de implementar o acordo, que fixa objetivos coletivos e metas para os países. 

Sem os Estados Unidos, muitos analistas e ONGs contam com uma aliança entre a União Europeia e a China, como o vínculo que existia entre Washington e Pequim antes da COP21 e que abriu caminho para o Acordo de Paris. 

"A UE e a China unem seus esforços para aplicar o Acordo de Paris e acelerar a transição global para as energias limpas", declarou na quinta-feira o comissário europeu de Ação pelo Clima, Miguel Arias Cañete, durante uma cúpula entre UE e China. 

"A União Europeia está estreitando seus vínculos com a China e com Canadá, e com os países mais afetados pelas mudanças climáticas", celebrou Wendel Trio, diretor da ONG Climate Action Network Europe. 

"O Acordo de Paris vai ser aplicado sem Trump, mas não sem os Estados Unidos", disse em tom positivo Pascal Canfin, ex-ministro francês, que atualmente dirige a organização WWF France, em referência a "centenas de prefeitos, de estados e de empresas que vão continuar atuando para aplicar o acordo" no país. 

Entretanto, as inquietações sobre o financiamento são patentes: porque a Convenção do Clima da ONU obtém 23% de seu orçamento dos Estados Unidos e na medida que a ajuda internacional aos países mais pobres vem do Fundo Verde para o Clima (GCF na sigla em inglês) vem da mesma fonte.

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