O papa Francisco chegou nesta segunda-feira (15) a Santiago para uma visita marcada por protestos contra os abusos sexuais na Igreja e reivindicações por "ações, e não perdão" para os sacerdotes pedófilos.
O avião do papa pousou às 19H20 no aeroporto da capital chilena, quase uma hora antes do previsto.
Recebido pela presidente Michelle Bachelet e três crianças, o papa teve que retirar seu solidéu pelo forte vento.
Durante sua permanência de três dias no Chile (de 15 a 18 de janeiro), se reunirá com autoridades, comunidades indígenas, religiosos e pessoas carentes em Santiago, Temuco (600 km ao sul de Santiago) e Iquique (1.800 km ao norte), onde oficiará missas.
Nesta primeira viagem de um papa ao Chile em trinta anos, Francisco, de 81 anos, se encontrará com a população mais desconfiada com a Igreja Católica da América Latina, segundo um estudo recente.
Os abusos sexuais dentro da Igreja contribuíram para essa percepção.
Um grupo de ativistas de vários países pediu nesta segunda-feira ao papa em Santiago que troque "perdões por ações" para enfrentar a pedofilia e lançou uma organização internacional contra o abuso infantil que pretende acabar com essas práticas e levar os acusados aos tribunais.
"No Chile há bispos que acobertaram e que deveriam estar na prisão ou, destituídos, e pedimos ao papa concretamente no Chile, ações, não perdões", disse Juan Carlos Cruz, integrante da Fundação para a Confiança.
Vários grupos se manifestaram contrariamente à presença do papa, perto da embaixada da Argentina, devido ao gasto para o Chile que essa viagem representa. Pessoas subiram em um guindaste e cinco manifestantes foram detidos.
Outras manifestações contra os abusos sexuais por parte de religiosos e protestos da comunidade gay estavam previstas, em meio a fortes medidas de segurança.
Na última sexta-feira, foram registrados ataques a cinco igrejas em Santiago e no município vizinho de Melipilla, por supostos grupos de anarquistas.
"Papa Francisco, as próximas bombas serão na sua batina", dizia um cartaz deixado pelos manifestantes.
O papa chega a um Chile em plena transformação social, que acaba de aprovar o aborto terapêutico e tramita no Parlamento o casamento homossexual, após a adoção da união civil de casais do mesmo sexo.
"É recebido por um país que mudou desde a visita de João Paulo II. Somos uma sociedade mais justa, livre e tolerante, mas com desigualdades que requerem uma mensagem de esperança", tuitou Bachelet.
A segurança é uma das preocupações das autoridades chilenas, já que, em sua visita, o papa celebrará três missas para multidões nas três cidades que visitará e fará vários trajetos com seu papamóvel.
As autoridades esperam que cheguem ao Chile cerca de um milhão de argentinos, bolivianos e peruanos para ver o papa, que será protegido por cerca de 18.000 policiais.
Francisco, que se posicionou como um defensor dos indígenas do continente, denunciará em Temuco os abusos sofridos pela comunidade mapuche, uma minoria cada vez mais radicalizada que reivindica suas terras ancestrais e suas tradições.
Na quinta-feira, em Iquique, uma importante rota migratória, concluirá sua visita com outra missa em uma praia no litoral do oceano Pacífico.
De Iquique o papa argentino viajará a um Peru em plena convulsão política e social pelo indulto ao ex-presidente Alberto Fujimori, que foi condenado a 25 anos por corrupção e crimes contra a humanidade.
A caminho do Chile, o papa disse à imprensa que o acompanhava na aeronave que nessa sexta viagem à região seu temor é de que "um incidente" desencadeie uma guerra nuclear em algum lugar do planeta.
"Sim, realmente tenho medo. Estamos no limite. Basta um incidente para desencadear a guerra. Não se pode correr o risco de que a situação precipite. Portanto, é preciso destruir as armas nucleares", enfatizou antes de chegar ao Chile, a primeira etapa de uma viagem pela América Latina, que também inclui o Peru.
Durante o voo, o pontífice distribuiu aos 70 jornalistas que o acompanham uma foto tirada de Nagasaki após a explosão em 1945 da bomba atômica, com a legenda "fruto da guerra".
Na foto, que foi divulgada pela assessoria de imprensa do Vaticano no final de 2017, se vê um menino com o corpo de seu irmão morto nas costas em uma fila para cremá-lo.
Ao sobrevoar o Brasil, o papa enviou uma mensagem ao presidente Michel Temer e ao povo brasileiro, assegurando que reza "pela paz e pelo bem-estar da nação", antes de despachar outro telegrama ao sobrevoar o Paraguai com sua "benção divina de paz e fortaleza". A Argentina também recebeu os "calorosos augúrios" e a benção do pontífice, que não disse quando fará uma visita a seu país natal.