O governo da Venezuela classificou como um "erro lamentável" a decisão da União Europeia (UE) de aprovar sanções contra funcionários do presidente Nicolás Maduro.
"Que erro lamentável a União Europeia está cometendo!", declarou o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, na quinta-feira (19), afirmando que o bloco age como "subsidiário dos interesses" dos Estados Unidos.
Arreaza vinculou a decisão a uma visita do subsecretário de Estado para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Thomas Shannon, feita ao chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, em Madri.
Shannon "deu instruções e ordens imperialistas para que começassem um processo" para impor sanções "por parte da União Europeia", manifestou o chanceler.
Desde o ano passado, Washington estabeleceu sanções contra Maduro e contra vários de seus funcionários, além de proibir seus cidadãos de negociarem dívida emitida pelo governo venezuelano e por sua estatal petroleira, a PDVSA.
Ontem, os representantes dos países da UE em Bruxelas deram sinal verde para a imposição de sanções contra "dirigentes da repressão e da situação política na Venezuela".
"Os embaixadores acordaram novas listas para impor medidas restritivas visto a situação na Venezuela", indicou a fonte consultada pela AFP.
Na véspera, diferentes fontes diplomáticas já haviam dito à AFP que estas sanções individuais afetariam "sete pessoas".
Entre elas está Diosdado Cabello, número dois do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, da situação) e deputado influente da Assembleia Nacional Constituinte, assim como o ministro do Interior, general Néstor Reverol, indicou à AFP uma fonte diplomática.
Estas sanções, que incluem o congelamento de ativos e a proibição de viajar ao bloco, devem ser adotadas formalmente na semana que vem, "provavelmente" durante a reunião de chanceleres europeus na segunda-feira, segundo outra fonte diplomática. Na sequência, anunciaram os nomes dos afetados.
A decisão chega em meio a uma nova rodada, na República Dominicana, de conversas para buscar saídas para crise política e socioeconômica venezuelana.
O objetivo das sanções é "apoiar o processo de diálogo" em curso entre governo e oposição no vizinho caribenho, indicou uma terceira fonte diplomática europeia consultada pela AFP, destacando a "percepção, que se confirmou nos últimos dias, de que se deve continuar pressionando".
Arreaza ironizou a justificativa europeia, após a decisão dos delegados da oposição de se ausentarem de um encontro com representantes de Maduro previsto para quinta-feira, em Santo Domingo.
"Dizem no mundo que eles sancionam o governo venezuelano para que haja diálogo (...) Será que não é Julio Borges [o principal negociador da oposição] que tem de sofrer sanções, não?", questionou.
A morte esta semana do ex-policial Óscar Pérez durante uma operação policial coloca as negociações em suspenso, depois que um funcionário de alto escalão insinuou que delegados opositores em Santo Domingo delataram o piloto rebelde.
Preocupada com a "deterioração" da democracia e dos direitos humanos no país, a UE já adotou em novembro uma série de medidas. Entre elas, está um embargo de armas e de material que poderia ser usado para "repressão interna".
Os europeus decidiram não impor sanções individuais contra "responsáveis por graves violações de direitos humanos" e aqueles cujas ações "atentem de alguma maneira contra a democracia ou o Estado de direito na Venezuela", à espera da evolução dos acontecimentos.
A porta-voz da diplomacia europeia Catherine Ray recordou ontem que a decisão de novembro estabelecia que tomariam atitudes "à luz dos desenvolvimentos no terreno" e reiterou o apoio "aos esforços em curso para uma solução negociada à crise".
Além de Reverol, outras autoridades das forças de segurança fazem parte da primeira lista de sanções individuais da UE na Venezuela, como o chefe do serviço de Inteligência, Gustavo González, e o ex-comandante da Guarda Nacional Bolivariana Antonio Benavides.
Segundo a fonte diplomática, a lista se completa com o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena; com o presidente do Tribunal Supremo, Maikel Moreno; e com Tarek William Saab, que substituiu Luisa Ortega como procurador-geral.