O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, prometeu nesta segunda-feira (14) prosperidade e potencializar a indústria petroleira em seu segundo mandato, embora vá aplicar o mesmo modelo econômico, ao qual especialistas atribuem o colapso do país.
Em um discurso de quatro horas na Assembleia Constituinte (situação), o chefe de Estado disse que aplicará "correções" em seu mandato 2019-2025, mas anunciou um novo aumento do salário mínimo e o fortalecimento do controle de preços, medidas reiteradas de sua política econômica.
Maduro, de 56 anos, iniciou seu novo governo nessa quinta-feira (10) em meio a uma profunda crise econômica, de uma ofensiva da oposição para tirá-lo do poder e do repúdio de grande parte da comunidade internacional, que o considera "ilegítimo" por considerar que sua reeleição foi fraudulenta.
"Este ano vai ser o da estabilização definitiva, produtiva e diversa da nossa economia", disse o presidente socialista, ao apresentar o relatório de sua gestão, com a faixa presidencial cruzada no peito.
Maduro aumentou em 300% o salário mínimo, uma medida acompanhada de uma depreciação em 9,18% da moeda local, o bolívar.
A partir desta terça-feira (11), o salário mínimo vai passar de 4.500 para 18.000 bolívares mensais (19 dólares na nova taxa oficial e 6,5 dólares no mercado negro), disse Maduro, ao prestar contas de sua gestão na governista Assembleia Constituinte.
O novo salário mínimo dá para comprar dois quilos de carne em um país afetado por uma hiperinflação que, segundo o FMI, alcançará 10.000.000% este ano.
Em 2018, Maduro elevou o salário mínimo seis vezes, sem conseguir mitigar as angústias cotidianas.
Os venezuelanos vivem angustiados pela falta de comida, remédios, água, transporte e luz. Fugindo da crise, 2,3 milhões emigraram desde 2015, segundo a ONU.
Durante a gestão de Maduro, a economia diminuiu à metade e encolherá 5% em 2019, segundo o FMI; o país e sua petroleira, PDVSA, caíram em default; e a produção de petróleo, fonte de 96% das divisas, despencou para 1,4 milhão de barris diários, a menor em 30 anos.
"Devemos chegar à meta de cinco milhões de barris (...) Pessoalmente, assumo a condução da indústria petroleira para levá-la adiante a partir de hoje (...) e jogo minha vida, minha moral, nesta batalha que será pessoal", disse.
De 2013 a 2018, as receitas diminuíram de US$ 42,69 bilhões para US$ 4,088 bilhões, informou o presidente, admitindo que isso se deveu não só à redução dos preços, mas também à corrupção.
Maduro, que foi recebido nos arredores do Palácio Legislativo por centenas de seguidores, se disse farto "das máfias que roubam, se vestem de vermelho, vermelhinho (cor da situação) pra roubar", e garantiu que dará uma "sacudida" nas empresas estatais.
Prometendo abrir as companhias públicas ao capital privado, sem vendê-las, assegurou: "Não sou um covarde, nem um capitalista, nem um neoliberal, não sou, mas tampouco sou um obtuso", disse.
Em agosto, Maduro pôs em vigor um programa que incluiu uma reconversão monetária - que tirou cinco zeros da moeda -, aumento salarial, maxidesvalorização do bolívar e aumento de impostos. Desta vez, disse que vai lançar "um novo sistema monetário", que abrangerá a criptomoeda "petro" e o bolívar.
"É a mesma receita (...) que acabou contraindo mais a economia, acelerou a contração e a hiperinflação. [Maduro] insiste na mesma fórmula e esse não é o caminho. É preocupante porque o curto prazo parece bastante sombrio", declarou á AFP o analista econômico Henkel García.
Para Asdrúbal Oliveros, diretor da Ecoanalítica, trata-se de uma espécie de "déjà vu": "Não há nada ali que permita pensar que a Venezuela vá sair da profunda crise em que vive. Ao contrário, a crise se aprofunda com tudo o que isso implica, especialmente para os mais vulneráveis".
Em seu discurso, Maduro disse "ter povo, Força Armada e Constituinte" para enfrentar as "tempestades", e reiterou suas acusações contra a oposição e os governos "satélites" dos Estados Unidos que - asseverou - o apoiam em seu plano "golpista".
Em particular, criticou o presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de "Hitler moderno".
Ele tachou de "show midiático" a breve detenção, no domingo, do presidente do Parlamento - de maioria opositora -, Juan Guaidó, pelo Serviço de Inteligência, um episódio condenado por vários países e do qual o governo se desvinculou.
Maduro o atribuiu a uma confabulação entre opositores e agentes de Inteligência corruptos para atacar o governo. Segundo dirigentes da oposição, o ato expôs um racha entre os organismos de segurança e o governo.
A detenção ocorreu depois que Guaidó se disse disposto, na sexta-feira, a assumir a Presidência da Venezuela, depois que maduro foi empossado pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), de linha governista.
"Nicolás não garante nada a ninguém (...) Nosso caminho é muito claro: cessar de usurpação, governo de transição e eleições livres", escreveu Guaidó no Twitter, reiterando a convocação a uma mobilização no próximo dia 23 de janeiro.