A oposição venezuelana sairá às ruas nesta quarta-feira (23) para exigir de Nicolás Maduro o fim da "usurpação do poder", enquanto o presidente mobilizará seus seguidores para se manifestar contra o que chama de golpe de Estado orquestrado por Washington.
Sob forte tensão após a breve rebelião de um grupo de soldados que provocou pequenas ondas de protestos, autoridades do governo e oposição terão seu primeiro grande confronto nas ruas após as manifestações que deixaram cerca de 125 mortos entre abril e julho de 2017.
Liderados pelo jovem líder parlamentar oposicionista, Juan Guaidó, a oposição procura superar suas divisões e agregar seus seguidores, estabelecendo novos objetivos: "cessar a usurpação de Maduro, um governo de transição e eleições livres".
"Temos um compromisso histórico com o nosso país, com o futuro dos nossos filhos. Militar venezuelano, amanhã temos um compromisso histórico com o povo", clamou Juan Guaidó, ao convocar a manifestação em sessão legislativa.
Já os chavistas, que também vão marchar em várias cidades, procuram dar um impulso ao questionado segundo mandato de seis anos iniciado por Maduro em 10 de janeiro, considerado ilegítimo por Estados Unidos, União Europeia (UE) e vários outros países da América Latina.
Ontem, os Estados Unidos expressaram seu apoio às mobilizações populares.
"Estamos com vocês e seguiremos com vocês até que se restaure a democracia e recuperem seu direito à liberdade", destacou o vice-presidente americano, Mike Pence, em vídeo divulgado no Twitter.
Em resposta, o ministro venezuelano da Comunicação, Jorge Rodríguez, acusou Pence de ordenar aos insurgentes entregar armas a ativistas do Vontade Popular - partido de Guaidó e do líder opositor preso Leopoldo López - para provocar "feridos e mortes na manifestação".
Será a primeira grande queda de braço nas ruas desde os violentos protestos que deixaram 125 mortos entre abril e julho de 2017, em meio à pior crise da história moderna do país petroleiro.
A Venezuela enfrenta escassez de comida e de remédios, além de uma hiperinflação que deve chegar, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a 10.000.000% em 2019.
A crise provocou o êxodo de 2,3 milhões de pessoas desde 2015, de acordo com a ONU, o maior movimento migratório da história recente da América Latina. Esse fluxo populacional acabou dando lugar a episódios de xenofobia em países vizinhos, como Brasil, Colômbia e Equador.
Às vésperas da marcha, cerca de 30 pequenos protestos foram registrados em setores populares de Caracas e arredores, com bloqueios de ruas, saques a estabelecimentos comerciais, panelaços e confrontos com autoridades, segundo a ONG Observatório de Conflito Social.
Os focos de protesto estouraram assim que, em meio a intensos apelos da oposição para que a Força Armada rompa com Maduro, 27 militares roubaram armas de um quartel e se entrincheiraram em um destacamento em Cotiza (norte de Caracas). Foram detidos na mesma segunda-feira em que se amotinaram.
Em sua primeira alusão pessoal ao levante e posterior captura dos rebeldes, Maduro assegurou pelo Twitter que a Força Armada "deu incontáveis demonstrações de disciplina, coesão e preparo para enfrentar qualquer ameaça dos inimigos da Pátria".
Após declarar Maduro um "usurpador", o Congresso prometeu anistia aos militares, considerados a sustentação do presidente, e que somam 365 mil homens além de 1,6 milhão de milicianos civis.
Embora a Força Armada garanta estar unida, segundo a ONG Controle Cidadão, cerca de 180 militares foram detidos em 2018, acusados de conspirar; mais de 100.000 homens pediram baixa desde 2015; e mais de 4.000 desertaram da Guarda Nacional em 2018.
Dois generais estão entre os detidos por um suposto atentado contra Maduro em 4 de agosto, quando dois drones carregados com explosivos estouraram perto de um palanque onde o presidente chefiava um ato militar.