Aliados de Bolsonaro pelo mundo enfrentam inferno astral

Caso da Argentina de Macri é o que mais preocupa por conta do Mercosul
JC Online
Publicado em 29/09/2019 às 8:54
Caso da Argentina de Macri é o que mais preocupa por conta do Mercosul Foto: Foto: AFP


Saída de Matteo Salvini do governo da Itália, dificuldade de Maurício Macri para se reeleger na Argentina, abertura de processo de impeachment contra Donald Trump nos Estados Unidos e obstáculos para Benjamin Netanyahu montar o governo em Israel. Por enquanto tudo isso não passa de uma coincidência de problemas para alguns dos principais aliados externos do presidente Jair Bolsonaro (PSL). A situação, porém, é acompanhada de perto pelo governo brasileiro na expectativa de que as relações internacionais não virem uma dor de cabeça no curto prazo, com a perda de várias parcerias com líderes alinhados ideológico ou economicamente com o Planalto.

O cenário que traz mais preocupação está bem próximo e pode trazer consequências diretas na América Latina. Isso porque é pouco provável que o presidente Maurício Macri consiga a reeleição na Argentina. Lá, o candidato peronista Alberto Fernández conseguiu a vitória com uma vantagem de 15% nas prévias de agosto e parte como favorito para as eleições de 27 de outubro. O êxito de Fernández já trouxe manifestação de Bolsonaro, que atacou o peronismo, sugerindo que a Argentina possa virar uma Venezuela. A resposta veio do outro lado e trouxe um clima de tensão e dúvidas sobre como pode ser a relação do brasileiro com Fernández. A preocupação aumenta por conta do acordo do Mercosul com a União Europeia.

“Acredito que a falta de continuidade do Macri pode trazer consequências diretas para o Mercosul e a União Europeia. Essas questões se mostraram complicadas quando ficaram nas mãos do Bolsonaro, que desde a campanha vinha criticando o bloco. Mas Brasil e Argentina dependem dessa união”, diz Matheus Fröhlich, especialista em Relações Internacionais pela Universidade do Vale do Taquari e Mestre em Ciências Sociais pela PUC-RS.

É na Europa, por sinal, que Bolsonaro já acumula a primeira baixa de aliado. Na Itália, Matteo Salvini tentou chegar ao cargo de primeiro-ministro, mas viu partidos de oposição se unirem e o tirarem do governo, que segue com o comando de Giuseppe Conte.
Fröhlich, contudo, destaca que a relação com a Europa pode ficar ruim não apenas por perdas de aliados, mas pela política ambientalista de Bolsonaro, que foi muito criticada durante a crise das queimadas na Amazônia e após o discurso do brasileiro na abertura da Assembleia Geral da ONU, na última terça-feira (24). “Na Europa não importa muito se é de esquerda ou direita. A questão do clima é importante para todos. No discurso da ONU ficou visto como o Brasil não está cuidando do assunto”, comentou.

Um refúgio do Brasil pode ser os Estados Unidos de Donald Trump. Esse, contudo, deve ficar mais preocupado com o processo de impeachment autorizado pela Câmara dos Representantes. Por mais que o risco de queda seja pequeno – Trump tem maioria no Senado –, a atenção do norte-americano deve ficar dividida por conta das eleições presidenciais em 2020.

“O que pode impactar é a incerteza caso o Biden (principal candidato democrata) vença. Acredito que o Brasil vai ter que lutar para ser visto como aliado se ele ganhar. Com relação ao impeachment é preciso esperar mais”, comenta Matheus Fröhlich.

Outro aliado considerado vital para Bolsonaro é Israel, onde o premiê Benjamin Netanyahu tem dificuldades para montar o governo. Fröhlich, no entanto, pontua que é difícil que a relação mude em caso de troca de governo. “O Brasil historicamente é aliado de Israel. Acredito que não muda mesmo que Netanyahu saia”.

Apesar da série de problemas dos aliados, outros líderes alinhados com a ideologia de Bolsonaro seguem firmes. Caso do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. “Ainda é cedo para dizer que há uma movimentação contra a direita. As eleições do parlamento europeu mostraram que a direita considerada mais extrema está viva”, analisa Fröhlich. A União Europeia enfrenta a contradição de ter adeptos da ruptura do bloco dentro do Parlamento. Muitos seguem a ideia que já é discutida no Reino Unido, que vive intensos debates do Brexit – saída da UE. Lá, porém, o primeiro-ministro Boris Jonhson também encara problemas e é mais um alinhado a não ter vida fácil.

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