Neste ano marcado pelos 30 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), a maioria dos brasileiros (89%) avalia como ruim, péssima ou regular a saúde pública ou privada. Entre os moradores do Nordeste, o panorama é igual: 87% fazem o mesmo julgamento. Os percentuais estão em pesquisa recente, encomendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) ao Datafolha, que comprovou o cenário de insatisfação com o sistema de saúde. O levantamento ouviu 2.087 pessoas de 150 cidades – oito delas em Pernambuco. Para 40% dos entrevistados no Nordeste, a saúde é a área que mais deve ser priorizada pelos governos.
Entre os participantes do levantamento na região, 23% frisam que os políticos que vencerem o pleito deste ano devem adotar medidas capazes de combater a corrupção no setor. Essa é a prioridade de número um para a amostra do Nordeste. Ainda em relação à expectativa dos entrevistados, na região, sobre a atuação dos próximos governantes, está a redução do tempo de espera por consultas, exames e cirurgias, além da manutenção da oferta de serviços gratuitos no SUS, de todos os tipos, para todas as pessoas, sem discriminação.
Por trás desses anseios da população em tempos de crises econômica e política, soa o desafio para se enfrentar as desigualdades. “Não é possível falar da saúde das pessoas sem a saúde da democracia”, lembrou a atual chefe de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, durante a conferência de abertura do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, realizado em julho, no Rio de Janeiro.
O depoimento, mais do que representativo para o momento turbulento vivido pelos Estados brasileiros, deixa transparecer que as desigualdades refletem as consequências de decisões políticas passadas e presente. E mais: saúde pública não é um peso; é um investimento que o Estado tem como dever fazer em prol da qualidade de vida.
Infelizmente, sanitaristas lamentam assistir atualmente ao subfinanciamento que limita a expansão do SUS, maior sistema público de saúde do mundo. “Está até virando desfinanciamento, mas existe a possibilidade de se reverter esse cenário. Às vezes, o trabalhador pensa que ter plano de saúde é melhor, mas não é bem assim. Grande parte dos planos de saúde populares não garante assistência; eles garantem uma porta de entrada e, na hora de fazer encaminhamento, mandam o paciente para o SUS. O melhor a fazer é trabalharmos para o SUS funcionar. Tenho esperança nesse sistema, e a gente deve fazer a mudança”, disse a epidemiologista Gulnar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), ao fazer uma convocação para um trabalho em rede a favor do sistema público de saúde, em evento recente que marcou os 68 anos do Instituto Aggeu Magalhães, unidade da Fiocruz em Pernambuco.
Redução da superlotação dos hospitais, melhoria do atendimento nas emergências e da assistência maternoinfantil, regularização da distribuição de medicações que salvam vidas, longas filas de espera por exames, cirurgias e outros procedimentos são apenas alguns dos desafios que precisam ser enfrentados nos próximos anos. Ainda que tenha falhas na implementação, o SUS contribuiu com a eliminação ou erradicação de doenças, tem sido responsável pelo financiamento de aproximadamente 95% dos transplantes de órgãos realizados no Brasil e pela oferta de tratamentos especializados, complexos e de alto custo.
Há muito a avançar, claro. Mas não se pode negar o valor do SUS. Não é pequena a parcela da população que, mesmo com planos de saúde, já usou serviços custeados pela rede pública. As campanhas de prevenção, as vacinas e a vigilância sanitária, por exemplo, são frutos desse sistema, que merece ser tratado como prioritário por quem for governar Pernambuco nos próximos quatro anos.