O nome de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras desagradou parte do corpo técnico da companhia, que esperava um nome de peso do setor privado tanto para comandar a estatal como para a diretoria financeira -cargo a ser ocupado pelo vice-presidente de finanças do Banco do Brasil, Ivan Monteiro.
A própria Graça Foster, presidente demissionária da estatal, havia sugerido à presidente Dilma Rousseff, mais de uma vez, que a melhor saída para a crise de credibilidade da companhia a escolha para ambos os postos nomes de peso do setor privados, compondo com técnicos da Petrobras para as demais diretorias.
A tendência é que as demais diretorias sejam ocupadas, ainda que interinamente, por gerentes graduados de cada área de negócio: Exploração e Produção, Gás e Energia e Abastecimento.
Para diretoria de Abastecimento (que controla a parte de refino, distribuição e transporte de combustíveis), o mais cotado, até agora, é Rubens Silvino, gerente-executivo-corporativo da área. Na prática, ele é o número dois do diretor demissionário, José Carlos Cosenza. O executivo comandou a Liquigás, subsidiária da Petrobras para distribuição de gás de cozinha.
Bendine tampouco conta com a simpatia do mercado financeiro. "É um nome que não sinaliza o fim da forte ingerência política na companhia, que nos últimos anos tem atendido mais aos interesses do acionista controlador [a União] do que a busca por rentabilidade", disse Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital.
Segundo o especialista, a reação negativa do mercado, expressa pela queda dos papéis da empresa, sinaliza que o uso da companhia para fazer política monetária (com o controle do preço dos combustíveis para segurar a inflação) continuará e investimentos pouco rentáveis também devem seguir. "Não nos parece que ele terá autonomia necessária para melhorar os indicadores da Petrobras."
O problema da estatal é que muitos projetos, mesmo sem o retorno adequado, foram colocados nos planos de negócio para atender "aos interesses do governo", como os empreendimentos que integram o PAC, de acordo com Barbosa. Com o represamento dos reajustes, a estatal teve de se endividar para fazer tocar as obras.
A escolha de Bendine, dizem analistas e funcionários da estatal, sinaliza ainda uma derrota para o ministro Joaquim Levy, escalado para buscar um nome de peso no mercado financeiro.
Até o último momento, o governo tentou convencer Murilo Ferreira, da Vale, e outros executivos, como Henrique Meirelles (ex-Banco Central) e Paulo Leme (do banco Goldman Sachs Brasil) a assumir a missão. A leitura é que nomes desse porte só assumiriam com "carta branca", o que dificilmente Dilma daria nesse momento, pressionada pela investigação Lava Jato, que apura corrupção na estatal.