No pedido de prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o Ministério Público Federal destacou que dinheiro de propina recebida pelo peemedebista bancou despesas globais de R$ 267,3 mil do casamento de sua filha Danielle Dytz da Cunha no tradicional hotel Copacabana Palace.
"O dinheiro usado para o pagamento do casamento de Danielle Cunha era proveniente de crimes contra a administração pública praticados pelo seu pai", afirma a força-tarefa da Lava Jato, que analisou dados da quebra de sigilo fiscal realizada pela Receita Federal.
Eduardo Cunha foi preso nesta quarta-feira (19) por ordem do juiz Sérgio Moro, a pedido da Procuradoria da República, no Paraná.
Danielle Cunha casou-se no Copacabana Palace em 25 de junho de 2011. O hotel foi questionado pela Lava Jato a "discriminar todos os serviços prestados, tais como aluguel/locação de salões, hospedagem, fornecimento de alimentos/bebidas, segurança, fotografia, cerimonial, equipamento de som, conjunto musical, serviços de decoração, informar nome e CPF/CNPJ das pessoas físicas e jurídicas que também prestaram serviços, caso algum dos serviços não tenham sido prestados pelo hotel e a informar de que maneira foram realizados os pagamentos pelos serviços prestados, acompanhado de documentação comprobatória".
O Copacabana Palace informou, segundo a força-tarefa da Lava Jato, que recebeu de Danielle Cunha R$ 35,7 mil em 4 de abril de 2011, R$ 100 mil em 6 de junho de 2011 e R$ 131,684 mil em 17 de junho de 2011. O hotel declarou também que, a pedido de Danielle Cunha, as notas fiscais foram emitidas em nome da C3 Produções Artísticas e Jornalísticas - empresa de Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha e madrasta de Danielle.
O Copacabana informou que emitiu nota fiscal de R$ 266.205,90 pelos serviços prestados em favor da C3 Produções e outra nota, de R$ 1.178,10, em favor de Danielle Cunha.
O hotel comunicou a força-tarefa sobre outros prestadores de serviços do casamento. A Receita intimou os serviços de fotografia, decoração, móveis para eventos, toldos para eventos, cerimonial, floricultura e iluminação.
"Todos prestadores de serviços, salvo o decorador Daniel Cruz (que afirmou que recebeu por transferências bancárias da C3) afirmaram que receberam seus pagamentos por intermédio de depósito bancário em dinheiro", aponta o documento da Procuradoria.
A Receita Federal concluiu: "Ao analisarmos a contabilidade da empresa C3 Produções Artísticas e Jornalísticas, verificamos que não há lançamentos contábeis relativos às despesas do casamento. Igualmente, também não foram localizados, nos extratos bancários da C3 Produções, os respectivos pagamentos dessas despesas."
Análise preliminar do Fisco não identificou saques nas contas bancárias de Danielle Cunha que "permitissem a ela efetuar os depósitos nas contas dos prestadores de serviços".
"Ao que tudo indica, a maioria dos pagamentos das despesas do casamento foi feita em dinheiro, muitas vezes de forma fracionada e sem a identificação do depositante", diz relatório da Receita.
Para a força-tarefa, "embora a questão ainda mereça maior aprofundamento, resta claro que o dinheiro usado para o pagamento do casamento de Danielle Dytz da Cunha era proveniente de crimes contra a administração pública praticados pelo seu pai, o ex-deputado federal Eduardo Cunha".