Deputado federal reeleito em 2018 para o terceiro mandato, Jean Wyllys (PSOL-RJ), de férias no exterior, afirmou que não vai mais voltar para o Brasil. A fala foi registrada em entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (24). Wyllys, que recebeu 24.295 votos, disse que pretende se dedicar à carreira acadêmica.
No lugar dele, deve assumir o hoje vereador pelo Rio de Janeiro David Miranda (PSOL). Miranda é ativista pelos direitos LGBT e casado com o jornalista Glenn Greenwald, editor do portal de notícias The Intercept.
Desde março do ano passado, o Wyllys vive sob escolta policial, em virtude do assassinato de sua correligionária, Marielle Franco. Ele estaria recebendo ameaças de morte ainda mais intensas, mesmo antes da morte de Marielle. Por isso, o deputado decidiu por abandonar a vida pública.
Ainda segundo a entrevista, o parlamentar afirmou que outro fato que fez com que ele tomasse a decisão foram as informações de que familiares de um ex-PM, suspeito de ser chefe de uma milícia carioca, trabalharam no gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho o Presidente da República.
“Me apavora que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário”, afirmou Wyllys. "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim", completou o parlamentar.
Wyllys também se disse “quebrado por dentro” por conta de fake news que foram disseminadas contra ele, como um suposto elogio à pedofilia atribuído a ele e disseminado pelo deputado federal eleito por São Paulo, Alexandre Frota (PSL). “Eu vi minha reputação ser destruída por mentiras e eu, impotente, sem poder fazer nada. Isso se estendendo à minha família. As pessoas não têm ideia do que é ser alvo disso", lamentou.
Em dezembro de 2018, Frota foi condenado em primeira instância pela Justiça Federal a pagar uma indenização de R$ 295 mil a Jean Wyllys. Alexandre havia postado uma foto do psolista com uma frase falsa: "A pedofilia é uma prática normal em diversas espécies de animal, anormal é o seu preconceito".
Jean Wyllys afirmou que não há liberdade para ele no Brasil. "Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sob escolta? Quatro anos da minha vida não podendo frequentar os lugares que eu frequento?", perguntou. O parlamentar também afirmou que vai se desconectar das redes sociais e que não quer acompanhar a repercussão de sua decisão em abandonar o mandato.
"O Pepe Mujica [ex-presidente do Uruguai], quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: 'Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis'. E é isso: eu não quero me sacrificar", justificou Jean Wyllys.
O psolista, questionado sobre o seu destino, terminou ironizando: "Eu acho que vou até dizer que vou para Cuba".