Áudios mostram conversa de Bebianno com Bolsonaro, contradizendo o presidente

Material divulgado mostra discussão entre ex-ministro e presidente, contradizendo o que Carlos Bolsonaro falou sobre falta de conversas entre Bebianno e Jair
JC Online
Publicado em 19/02/2019 às 15:52
Material divulgado mostra discussão entre ex-ministro e presidente, contradizendo o que Carlos Bolsonaro falou sobre falta de conversas entre Bebianno e Jair Foto: Foto: Reprodução/Instagram


Na tarde desta terça-feira (19), o site da revista Veja divulgou 12 áudios supostamente enviados pelo ex-Secretário Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, ao presidente Jair Bolsonaro. O conteúdo da conversa contradiz o que foi dito pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), que afirmou em seu perfil no Twitter que Jair não conversou três vezes com Bebianno durante o começo da crise dos laranjas do PSL, na semana passada. O próprio presidente compartilhou as postagens em seu perfil na rede social, corroborando a versão.

Os áudios divulgados pela revista comprovariam que, de fato, Gustavo Bebianno conversou por três vezes com o presidente Bolsonaro.

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No dia 12 de fevereiro, Bolsonaro enviou para Bebianno uma mensagem contendo a agenda do ministro. Nela constava que Gustavo receberia, às 16h, Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo. Bebianno perguntou se o presidente teria algo contra isso. Depois de insistir, Bebianno teria recebido a seguinte resposta de Jair Bolsonaro:

BOLSONARO: “Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim. Agora… Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí.”

Em outro momento da conversa, Bolsonaro teria enviado para o então ministro uma nota publicada pelo site O Antagonista. No texto, há a informação de que Bebianno e os ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, estariam viajando para o Pará com o objetivo de discutir para Amazônia com líderes locais. Bolsonaro não teria gostado da ideia e afirmou:

BOLSONARO: “Gustavo, uma pergunta: “Jair Bolsonaro decidiu enviar para a Amazônia”? Não tô entendendo. Quem tá patrocinando essa ida para a Amazônia? Quem tá sendo o cabeça dessa viagem à Amazônia? Um abraço aí, Gustavo, até mais.”

O presidente teria conversado com Salles e Damares, que também não estavam satisfeitos com a viagem. Bolsonaro não queria ser cobrado por supostas obras na Amazônia e quer que o encontro seja cancelado. Em seguida, disse:

BOLSONARO: “Ô, Bebianno. Essa missão não vai ser realizada. Conversei com o Ricardo Salles. Ele tava chateado que tinha muita coisa para fazer e está entendendo como missão minha. Conversei com a Damares. A mesma coisa. Agora: eu não quero que vocês viajem porque… Vocês criam a expectativa de uma obra. Daí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, o orçamento é nosso, vai ser aprovado etc. Então essa viagem não se realizará, tá OK? Um abraço aí, Gustavo!”

Os três áudios comprovariam que Bolsonaro e Bebianno, de fato, conversaram três vezes no dia em que o jornal Folha de S. Paulo publicou sobre o caso dos laranjas do PSL. Esta versão foi a revelada pelo ex-ministro ao jornal O Globo, em entrevista, que provocou a reação de Carlos Bolsonaro e aprofundou a crise. “Não existe crise nenhuma. Só hoje (terça-feira) falei três vezes com o presidente”, afirmou Bebianno na ocasião.

Nas conversas seguintes, após as postagens de Carlos - que divulgou um áudio do presidente dizendo que não conversou com Bebianno -, há troca de mágoas e eles discutem sobre o que seria uma “conversa”.

Antes, Bebianno recebera uma mensagem de um jornalista (não identificado) dizendo que Carlos estaria articulando a saída do então ministro.

BOLSONARO: “O caso incitando a saída é mais uma mentira. Você conhece muito bem a imprensa, melhor do que eu. Agora: você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem. Ele esteve comigo 24 horas por dia. Então não está mentindo, nada, nem está perseguindo ninguém.”

BEBIANNO: “Capitão, há várias formas de se falar. Nós trocamos mensagens ontem três vezes ao longo do dia, capitão. Falamos da questão do institucional do Globo. Falamos da questão da viagem. Falamos por escrito, capitão. Qual a relevância disso, capitão? Capitão, as coisas precisam ser analisadas de outra forma. Tira isso do lado pessoal. Ele não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém, capitão. Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão. Eu só fiz o bem até aqui. Eu só estive do seu lado, o senhor sabe disso. Será que o senhor vai permitir que eu seja agredido dessa forma? Isso não está certo, não, capitão. Desculpe.”

O ex-ministro afirma que é um conciliador. Ele relembra que foi aceito em círculos militares que antes o rejeitaram e reitera que conversou, sim, três vezes com o presidente.

BEBIANNO: “Capitão, eu só prego a paz, o tempo inteiro. O tempo inteiro eu peço para a gente parar de bater nas pessoas. O tempo inteiro eu tento estabelecer uma boa relação com todo mundo. Minha relação é maravilhosa com todos os generais. O senhor se lembra que, no início, eu não podia participar daquelas reuniões de quartas-feiras, porque os generais teriam restrições contra mim? Eu não entendia que restrições eram aquelas, se eles nem me conheciam. O senhor hoje pergunte para eles qual o conceito que eles têm a meu respeito, sabe, capitão? Eu sou uma pessoa limpa, correta. Infelizmente não sou eu que faço esse rebuliço, que crio essa crise. Eu não falo nada em público. Muito menos agrido ninguém em público, sabe, capitão? Então quando eu recebo esse tipo de coisa, depois de um post desse, é realmente muito desagradável. Inverta, capitão. Imagine se eu chamasse alguém de mentiroso em público. Eu não sou mentiroso. Ontem eu falei com o senhor três vezes, sim. Falamos pelo WhatsApp. O que é que tem demais? Não falamos nada demais. A relevância disso… Tanto assunto grave para a gente tratar. Tantos problemas. Eu tento proteger o senhor o tempo inteiro. Por esse tipo de ataque? Por que esse ódio? O que é que eu fiz de errado, meu Deus?”

Em resposta, Bolsonaro diz que trocar áudios com alguém não seria conversar com alguém. Ele ainda acusa Bebianno de plantar uma nota no portal O Antagonista, relacionado o presidente com o caso dos laranjas do PSL.

BOLSONARO: “Ô, Gustavo, usar da… Que usou do Whatsapp para falar três vezes comigo, aí é demais da tua parte, aí é demais, e eu não vou mais responder a você. Outra coisa, eu sei que você manda lá no Antagonista, a nota (sobre Bolsonaro não atender Bebianno) foi pregada lá. Dias antes, você pregou uma nota que tentou falar comigo e não conseguiu no domingo. Eu sabia qual era a intenção, era exatamente dizer que conversou comigo e que está tudo muito bem, então faz o favor, ou você restabelece a verdade ou não tem conversa a partir daqui pra frente.”

BOLSONARO: “Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí… Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí. Um abraço.”

BEBIANNO: “Capitão, a nota do Antagonista que o senhor tá me acusando de ter plantado… Se o senhor olhar bem, eu localizei aqui e mandei pro senhor. Eu não plantei nada. Ela replica o que a Folha falou. Está escrito aqui: “segundo a Folha, segundo a Folha, o ministro Gustavo Bebianno tentou ligar para Jair Bolsonaro neste domingo para explicar o caso, mas o presidente não atendeu”. Quem mencionou isso não foi o Antagonista, foi a Folha. O Antagonista simplesmente replicou. Então, capitão, eu não plantei nada em lugar nenhum, tá? Abraço.

BOLSONARO: “Bebianno, olha como você entra em contradição. Que seja a Folha. Se foi uma tentativa tua pra mim e eu não atendi… Eu não liguei pra Folha, eu não ligo pra imprensa nenhuma. Quem ligou foi você, quem vazou foi você. Dá pra você entender o caminho que você está indo? E você tem que fazer uma reflexão para voltar à normalidade. Deu pra entender? Vou repetir: se você tentou falar comigo, um pra um, se alguém vazou pra Folha, não fui eu, só pode ser você. Tá ok?”


BEBIANNO: “Não, capitão, não é isso, não. Eu não tentei ligar pro senhor, eu não falei, não vazei nada pra ninguém. Eu nem tentei ligar pro senhor. O senhor mandou um recado que era pra eu não ir ao hospital. Não fui e não liguei pro senhor nenhuma vez. Deixei o senhor em paz. É… Se eu tentei ligar uma ou duas vezes, também não me lembro pelo motivo que foi, é… Não é isso, não, capitão, tá? Eu não vazei nada pra lugar nenhum, muito menos pra Folha, com quem eu praticamente não falo. Abraço, capitão.”


Gustavo Bebianno explica qual o papel dele no repasse de verbas do PSL para Pernambuco, pivô do caso dos candidatos laranjas. Ele diz que o presidente está “bem envenenado”, insinuando que o envenenador é o filho, Carlos:

BEBIANNO: “Em relação a isso, capitão, também acho que a coisa está… Não está clara. A minha tarefa como presidente interino nacional foi cuidar da sua campanha. A prestação de contas que me competia foi aprovada com louvor, é… Agora, cada Estado fez a sua chapa. Em nenhum partido, capitão, a nacional é responsável pelas chapas estaduais. O senhor sabe disso melhor do que eu. E, no nosso caso, quando eu assumi o PSL, houve uma grande dificuldade na escolha dos presidentes de cada Estado, porque nós não sabíamos quem era quem. É… Cada chapa foi montada pela sua estadual. No caso de Pernambuco, pelo Bivar, logicamente. Se o Bivar escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro. Da minha parte, eu só repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito. Eu tenho tudo registrado por escrito. Então é ótimo que a Polícia Federal esteja, é ótimo que investigue, é ótimo que apure, é ótimo que puna os responsáveis. Eu não tenho nada a ver com isso.  É… Depois a gente conversa pessoalmente, capitão, tá? Eu tô vendo que o senhor está bem envenenado. Mas tudo bem, a minha consciência está tranquila, o meu papel foi limpo, continua sendo. E tomara que a polícia chegue mesmo à constatação do que foi feito, mas eu não tenho nada a ver com isso. O Luciano Bivar que é responsável lá pela chapa dele. Abraço, capitão.”

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