Uma integrante do PSL em Minas Gerais afirma que foi convidada pessoalmente pelo atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, para ser candidata laranja na eleição de 2018 e completar a cota de mulheres do partido. O ministro teria pedido também que se comprometesse a retornar ao partido parte do dinheiro público do fundo eleitoral, segundo informações da Folha de S. Paulo.
Zuleide Oliveira, de 41 anos, chegou a fazer uma denúncia sobre o caso ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais no dia 19 de setembro de 2018, mas recebeu apenas uma resposta protocolar informando que seu pedido seria encaminhado.
Em entrevista ao jornal paulista, ela afirma não saber se algum dinheiro chegou a ser depositado, pois o controle das contas bancárias teria ficado com os dirigentes do PSL. "Eu não entendia de nada, eles que fizeram tudo", diz Zuleide. "Acredito, sim, que fui mais uma candidata laranja, porque assinei toda a documentação que era necessária e não tive conhecimento de nada que eu estava fazendo (...) Fui usada, minha candidatura foi usada para fazer parte de uma lavagem de dinheiro do partido", completou.
Zuleide conta que se encontrou com Marcelo Álvaro Antônio em seu escritório parlamentar, em Belo Horizonte, acompanhada do marido e de um amigo. Por sua vez, Álvaro Antônio, em resposta à Folha, disse não lembrar da reunião. Segundo a integrante do PSL, no entanto, no encontro ela foi levada pelo atual ministro do turismo a assinar um requerimento de solicitação de verba, endereçado ao então presidente do nacional do partido, Gustavo Bebianno.
Bebianno iniciou o governo de Jair Bolsonaro como Secretário-Geral da Presidência, mas foi exonerado do cargo após ter seu nome envolvido em um suposto escândalo com candidatos laranjas no PSL, partido do presidente. Polícia Federal e Ministério Público de Minas investigam o esquema.
Segundo Zuleide, o ministro do Turismo teria dito que seriam repassados R$ 60 mil reais a ela, dos quais ela deveria retornar R$ 45 mil, ficando com R$ 15 mil para a campanha. Já os materiais seriam todos por conta do partido, no valor de R$ 80 mil. Entre as ofertas feitas por Marcelo, Zuleide conta que ela foi prometida uma vaga na Funai ou na secretaria de Saúde da região.
A reportagem da Folha teve acesso a emails e mensagens de áudio trocados por ela com cinco dirigentes do PSL-MG, comandado à época por Álvaro Antônio, incluindo um recado escrito por Rodrigo Brito, então assessor parlamentar do ministro, com o endereço do escritório do político em Belo Horizonte.
"Eles já sabiam que não ia dar em nada", disse a integrante do PSL, que teve seu pedido de registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral devido a uma condenação em 2016, por uma briga com outra mulher. "Hoje eu sei que eles sabiam que não iam aparecer meus votos, que eu não ia conseguir concorrer porque estava com os direitos políticos suspensos", conta. "Ele quis falar pra mim que não ia dar em nada [a condenação não seria problema], pra eu poder preencher a chapa".
Zuleide afirma que as articulações começaram no fim de julho, quando recebeu um telefonema de uma assessora de Marcelo Álvaro Antônio, perguntando do seu interesse em sair candidata. Seu primeiro contato direto com o ministro foi em 28 do mesmo mês, em uma convenção estadual do partido. Após esse encontro, outro assessor do político passou a enviar mensagens para ela solicitando os documentos.
De acordo com Zuleide, até hoje ela não prestou contas à Justiça por se recusar a atender aos pedidos de dirigentes do PSL e nunca ter ido ao banco ver os extratos. Ela afirma ter recebido 25 mil santinhos, todos com a imagem de Álvaro Antônio ao lado da sua.
No comando estadual do PSL em Minas, Álvaro Antônio ficou responsável pela montagem da chapada de candidatos do partido e definiu, com o aval da direção nacional, o repasse das verbas aos candidatos. Nem o PSL-MG nem o PSL nacional declararam à Justiça gastos com a candidata.
Em nota, o ministro do Turismo afirmou não lembrar de encontros específicos com Zuleide e nega que tenha oferecido valores do fundo ou pedido de devolução a ela. Ele também afirma que não indicou profissionais para qualquer candidatura.
Disse ainda que o PSL forneceu material de campanha aos seus candidatos e que "as despesas do partido foram devidamente declaradas à Justiça Eleitoral", não especificando se de maneira individual ou coletiva. Marcelo Álvaro Antônio reiterou ainda não ter havido qualquer candidatura laranja no PSL de Minas.