PSL quer mandar auditar as próprias contas, se antecipando a ala bolsonarista da sigla

Dirigentes do partido estariam buscando firmas para fazer o trabalho de auditoria
De Fillipe Vilar do Blog de Jamildo
Publicado em 12/10/2019 às 12:20
Dirigentes do partido estariam buscando firmas para fazer o trabalho de auditoria Foto: Foto: Diego Nigro/Acervo JC Imagem


O Partido Social Liberal (PSL) pretende mandar auditar suas próprias contas eleitorais nos anos de 2014 e 2018. A ação seria para se adiantar em relação ao presidente Bolsonaro e a sua ala de apoiadores na legenda. Nessa sexta-feira (11), o presidente da República afirmou, em entrevista na sexta (11), que vai pedir auditoria das contas da sigla.

Dirigentes do partido estariam buscando empresas para fazer o trabalho de auditoria, de acordo com o jornal Folha de São Paulo. O grupo também estaria reunindo informações contra a advogada Karina Kufa, que deixou de representar a sigla para defender apenas o presidente Bolsonaro. A estratégia é gerar um debate ético. O grupo questiona como Kufa pode defender o presidente contra o partido tendo sido advogada do PSL até pouco tempo atrás.

Segundo o jornal, há sinais de que a cúpula do partido já não conta mais com a continuidade de Jair Bolsonaro e seus apoiadores mais fieis na legenda. O PSL também estaria buscando fundir-se com outra sigla como estratégia após a saída do presidente. Aliados de Flavio e Eduardo Bolsonaro dão conta de que a ideia deles seria pacificar as relações e continuar no partido, que detém uma gorda fatia de fundo partidário e eleitoral por ter a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 53 parlamentares.

Ataque de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que iria pedir uma auditoria das contas do próprio partido. Caso ocorra, a medida é mais um capítulo na briga pelo controle interno do PSL entre Bolsonaro e o deputado federal Luciano Bivar, presidente nacional da sigla.

O chefe do Executivo se filiou ao PSL em março de 2018. Desde então, Bolsonaro e seu núcleo vêm tentando uma influência maior na organização partido. Na terça (8), o presidente da República, ao ser abordado por um apoiador que citou Bivar, afirmou para que ele “esquecesse” o PSL e que o deputado estava “queimado pra caramba”.

O episódio expôs a insatisfação do presidente com o próprio partido. No mesmo dia, Bolsonaro afirmou que não sairia do PSL “de livre e espontânea vontade”, apesar de aliados próximos afirmarem que ele estaria deixando a sigla. No dia seguinte, um grupo de deputados da ala “bolsonarista” divulgou uma carta apoiando o presidente e alegando “falta de transparência” do PSL. Com esse argumento, o presidente monta uma estratégia na disputa interna.

Bivar reagiu afirmando que a fala de de Bolsonaro era “terminal” e que o presidente já estaria “afastado” do PSL. De acordo com o Estadão, Bivar ameaça retaliar o presidente retirando o filho dele, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo partido, da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Os partidos têm a prerrogativa de indicação dos seus representantes na Casa. Sobre as ameaças, Bolsonaro afirmou que o acusam de flertar com a ditadura, mas que o comando do partido é quem agiria dessa forma ao ameaçar deputados do seu grupo com a perda de cargos.

O deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), a liderança do PSL na Câmara assinou na quinta (10) a retirada de cargos comissionados, o desligamento de participação em comissões especiais e a vice-liderança de oito parlamentares da legenda. Sobre Eduardo Bolsonaro e a deputada Bia Kicis (DF), que é vice-presidente da CCJ, Bozella disse que estão sob avaliação. Segundo o jornal, o presidente afirmou que, caso Eduardo seja destituído do cargo, sua opinião sobre o assunto é “impublicável”.

Crescimento relâmpago

O PSL saiu de legenda pequena, que elegeu apenas um deputado em 2014, para ser o partido com, atualmente, a maior bancada na Câmara, com 53 deputados eleitos. De Fundo Partidário, até o fim do ano, deve receber R$ 110 milhões. Como as eleições para deputado são proporcionais, há um entendimento no Supremo Tribunal Federal (STF) de que os mandatos pertencem aos partidos. Isso inclui a distribuição de recursos do Fundo Partidário, que financia os partidos, e o Fundo Eleitoral, que vai fomentar as campanhas eleitorais em 2020. Ao todo, o PSL tem para receber, dos dois fundos, um montante de cerca de R$ 300 milhões.

Admar Gonzaga, que já foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vem orientando Bolsonaro na disputa do PSL. Segundo o jornal, ele quem deu embasamento ao argumento do presidente e de sua ala para reclamar da falta de compliance dentro do PSL. Caso seja comprovada essa ingerência interna, existe uma possibilidade dos deputados filiados saírem da legenda sem, ao menos, perderem os mandatos. Sobre a possibilidade de auditoria nas contas do PSL, Bivar falou ao Estado que estava “feliz” com a preocupação de Bolsonaro com a legenda.

“Sim, nós vamos contratar tudo de auditoria que for possível, imaginável. Tudo, com certeza”, afirmou o dirigente, incluindo o período de Bolsonaro. Ao comentar o crescimento do PSL, Bolsonaro disse que a legenda só elegeu uma bancada grande no rastro de sua popularidade, contudo, o PSL ainda não soube se aproveitar da nova estatura. O presidente disse que muitos parlamentares não teriam condições de serem eleitos se não tivessem vinculado sua imagem à dele.

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