Ao longo dos dez primeiros meses de 2019, ano de estreia de Jair Bolsonaro (PSL) na chefia do Executivo federal, diversos candidatos à sucessão do capitão reformado surgiram em todo o País. A movimentação de nomes que nunca haviam concorrido ao cargo e ataques do próprio pesselista a estes personagens têm antecipado o debate eleitoral, deixando na população a sensação de que a campanha de 2018 ainda não chegou ao fim, e mais: 2022 – ano da próxima eleição presidencial – já começou.
Entre os postulantes à Presidência que já se colocaram – direta ou indiretamente –, até o momento, estão os governadores Rui Costa (PT, Bahia), Wilson Witzel (PSC, Rio de Janeiro), Flávio Dino (PCdoB, Maranhão) e João Doria (PSDB, São Paulo), além do apresentador Luciano Huck (sem filiação partidária). “Eu sou governador do Estado querendo ser presidente da República”, afirmou Witzel em entrevista recente ao jornal O Globo, dando o tom das articulações que se desenvolveram este ano. O gestor, que elegeu-se na onda do bolsonarismo, vem, assim como Doria, trabalhado para se descolar da imagem do presidente.
Jair Bolsonaro, inclusive, seria o verdadeiro responsável por todo esse debate sobre 2022, na avaliação do cientista político Vanuccio Pimentel, da Asces-Unita. De acordo com o docente, a estratégia do mandatário é fazer seus possíveis adversários se exporem e, desta maneira, perderem popularidade paulatinamente até o pleito.
“Ele (Bolsonaro) antecipou essa discussão para saber quais eram os reais interessados em disputar contra ele, principalmente dentro do seu próprio campo político, e aí começou a atacar e minar as candidaturas antecipadamente. Para ele foi inteligente fazer isso. Para quem está no cargo, saber quem será seu adversário é sempre uma vantagem, mas para quem não está é uma desvantagem ter que se expor a um processo eleitoral que ainda não existe e passar a ser criticado, analisado, escrutinado como possível candidato”, explicou Pimentel.
Em setembro, por exemplo, Bolsonaro chegou a classificar João Doria como uma “ejaculação precoce” ao dizer que ele não tem chances nas eleições de 2022. Professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, o cientista político Ricardo Ismael pensa de maneira diferente. Segundo o estudioso, os novos postulantes à Presidência, interessados em conquistar visibilidade nacional, já começam a buscar os holofotes para conquistar a parcela da população que não se identifica com o presidente e tampouco se alinha com o PT.
Ismael pontua, ainda, que Witzel e Doria podem se beneficiar durante esse processo porque a maior parte dos veículos de comunicação que possuem alcance nacional estão concentrados no eixo Rio-São Paulo. No caso dos nordestinos Rui Costa e Flávio Dino, o professor diz que eles terão que “caminhar mais” se quiserem se viabilizar como candidatos, uma vez que estão à frente de Estados periféricos.
“Quanto ao Luciano Huck, ele é um apresentador muito popular, conhecido no País todo, só que não se sabe exatamente se ele vai ou não ser candidato, pois há muitas questões familiares e profissionais envolvidas. Essa é uma decisão mais complicada, até porque ele não é um político de carreira e, se entrar nesse mundo, vai ter que aprender a jogar o jogo da política, o que não é uma coisa assim tão trivial”, comentou Ismael.
No início de outubro, Huck esteve no Recife para participar do evento Rec’n’Play, sobre tecnologia, economia criativa e cidades. Na ocasião, o apresentador – que chegou a ser cotado para concorrer à Presidência em 2018, mas não levou o plano adiante – abraçou explicitamente o tom político em suas falas.
Apesar de possuírem visões distintas a respeito do tema, os analistas concordam que o fortalecimento eleitoral dos presidenciáveis depende muito mais de quem está no poder do que deles mesmos. “Tudo vai depender de como o governo vai chegar em 2022, pois se ele estiver fragilizado politicamente, provavelmente algum desses adversários pode se beneficiar da situação”, argumentou Vanuccio Pimentel.