Um áudio atribuído ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Fabrício Queiroz, revela que ele continua sendo consultado acerca de nomeações no Legislativo e que possui "capital político", mesmo oito meses após sua exoneração do gabinete do senador e filho do presidente Jair Bolsonaro. O conteúdo, de junho deste ano, foi divulgado pelo jornal O Globo nesta quinta-feira (24).
Em conversa por áudio via WhatsApp, o ex-policial dá instruções a um interlocutor não identificado sobre como fazer indicações políticas em gabinetes de parlamentares. No diálogo, ele sugere que as indicações poderiam ser feitas através de comissões ou em gabinetes de outros deputados e senadores, e não apenas em cargos vinculados à família Bolsonaro.
— Tem mais de 500 cargos, cara, lá na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles (família Bolsonaro) em nada — diz Queiroz, no áudio, para depois complementar: — 20 continho aí para gente caía bem pra c**.
Durante a conversa, Queiroz assegura que o gabinete de Flávio no Senado é muito demandado pelos parlamentares. Ele demonstra conhecer o funcionamento do gabinete e sugere que o interlocutor procure parlamentares que frequentam o local para tratar de nomeações.
— O gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores, pessoal para conversar com ele, faz fila. Só chegar lá e nomeia fulano aí para trabalhar contigo aí, salariozinho bom desse aí para a gente que é pai de família, cai como uma uva — diz Queiroz, no áudio.
Quando procurado, Queiroz admitiu ao jornal que mantém influência por ter "contribuído de forma significativa na campanha de diversos políticos no Estado do Rio de Janeiro". Por nota, Flávio Bolsonaro negou ter aceitado indicações do ex-assessor e afirma que não mantém contato com ele desde o último ano.
O nome de Queiroz vem preenchendo a mídia nacional desde o fim de 2018, quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou uma movimentação suspeita em sua conta. A tese do Ministério Público é que ela seja fruto de um sistema de repasse de dinheiro do senador Flávio Bolsonaro, quando era deputado estadual do Rio de Janeiro.
A explicação dele foi de que lucrou com a venda carros usados e, depois, disse que recolhia parte do salário dos funcionários para contratar novas pessoas para a equipe do chefe, sem o conhecimento de Flávio.
Além disso, ainda houve uma transação de cheques da conta de Queiroz para a então futura primeira dama, Michelle Bolsonaro, no valor de 24 mil reais. Ele alegou que os depósitos tinham como fim a quitação de um empréstimo pessoal concedido por Jair Bolsonaro a ele.
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, minimizou as suspeitas de corrupção contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, envolvendo o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz. Para ele, os valores supostamente envolvidos são baixos em relação a outros casos de corrupção.
"Acho o Caso Queiroz de tão pouca importância", afirmou Mourão em entrevista ao programa Conexão Repórter, do SBT, na madrugada desta terça-feira, 22. Ele aludiu a casos "terrivelmente escabrosos" de crimes contra os cofres públicos, e disse que o valor de aproximadamente R$ 1,2 milhão que Queiroz é acusado de movimentar atipicamente é "quase um troco".