Em áudios de WhatsApp, o policial aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro (PSL), revela o temor por conta da investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro. A informação é do jornal Folha de S. Paulo e foi divulgada neste domingo (27). O veículo de imprensa afirmou que recebeu vários áudios de WhatsApp atribuídos a Queiroz.
"É o que eu falo, o cara lá está hiperprotegido. Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí. Ver e tal...É só porrada. O MP [Ministério Público] tá com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente. Não vi ninguém agir", teria dito Queiroz a um interlocutor não identificado pelo jornal.
Em outro áudio, Queiroz fala: "Resolvendo essa pica que está vindo na minha direção, se Deus quiser vou resolver, vamos ver se a gente assume esse partido aí. Eu e você de frente aí. Lapidar essa porra".
"Politicamente, eu só posso ir para partido (o PSL). Trabalha isso aí com o chefe aí. Passando essa ventania aí, ficamos eu e você de frente. A gente nunca vai trair o cara. Ele sabe disso. E a gente blinda, a gente blinda legal essa p... aí. Espertalhão não vai se criar com a gente", continuou.
"Estão fazendo chacota do governo dele. Rodrigo Maia está esculachando. Rodrigo Maia...As declarações dele humilha [sic] o Jair. Jair tinha que dar uma porrada nesse f... da p... Botar o [ministro da Justiça] Sergio Moro para ir no calço [sic] dele. Tem p... na bunda dele aí, antiga", afirmou Queiroz, em áudio de março.
Dias antes, Queiroz reclamou da exposição que o presidente estava tendo nas redes sociais. "Tem que falar com ele para parar com esse lance de Twitter. Tá pegando mal pra c... Ciro botou agora: 'Elegeram um garotinho de 13 anos twitteiro'. Aí vem um milhão de comentários. 'Tem garoto de 13 anos mais inteligente', não sei o quê. Focar no governo e esquece essa p... de internet de lado. Tá pegando mal", disse o ex-assessor.
O advogado de Queiroz, Paulo Klein, afirmou ao site Congresso em Foco que o áudio em que seu cliente fala sobre voltar ao diretório do PSL diz respeito a uma "conjectura" baseada na experiência que o ex-policial possui. "É fruto do capital político que [Queiroz] amealhou legitimamente, em razão de sempre ter pautado sua atuação dentro da ética e sem ter cometido qualquer crime", disse Klein.
Ao mesmo site, o advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, disse que não pode confirmar a autenticidade dos áudios sem ter tido acesso ao material completo. Ele também afirmou que só poderá se manifestar sobre o assunto se souber a origem dos áudios, o interlocutor, o contexto e quando que as afirmações foram feitas.
Não é a primeira vez em que vazam áudios do ex-assessor com o mesmo teor. Em agosto, a revista Época publicou um áudio, atribuído a Queiroz, onde ele diz: "Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí". Em maio, o jornal O Dia divulgou que o militar aposentado, amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro (PSL), dizia a pessoas próximas que estava se sentindo "abandonado" após a eclosão do caso de suas movimentações financeiras atípicas, identificadas pelo antigo Coaf.
O órgão identificou movimentações que totalizavam R$ 1,2 milhão. O dinheiro foi movimentado entre janeira de 2016 e janeiro de 2017.
Queiroz teria articulado um esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando trabalhava no gabinete do então deputado estadual Flavio Bolsonaro. "Rachadinha" é tipo de desvio de verba de gabinete onde são contratados funcionários fantasma que devolvem os salários recebidos para o parlamentar que os contratou.
Queiroz disse à imprensa que recebia, sim, parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flavio, sem o conhecimento do parlamentar. Os repasses seriam para pagar outros assessores, esses "informais".
A suspeita é por conta de diversos movimentações financeiras na conta bancária de Queiroz, que coincidiam com as datas de pagamento salarial na Alerj.
Fabrício Queiroz também depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, de acordo com o extinto Coaf. Segundo o presidente da República, o depósito foi parte da quitação de um empréstimo de R$ 40 mil.
A Justiça do Rio quebrou os sigilos bancário e fiscal de Queiroz, Flávio e outras 101 pessoas físicas e jurídicas envolvidas com o senador. Porém, a investigação foi paralisadas por decisão do ministro Dias Toffoli, do ST (Supremo Tribunal Federal). O argumento foi o de que o Coaf enviou informações financeiras com mais detalhes do que o autorizado pela lei.
O caso Queiroz será analisado no plenário do STF em novembro.
Depois que o caso surgiu na grande imprensa, Flavio e o presidente Bolsonaro afirmaram não ter mais contato com o ex-assessor. O policial militar aposentado está se tratando de um câncer no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Desde que o caso surgiu, Queiroz tem feito poucas aparições públicas.
Na quarta-feira (24), o jornal O Globo divulgou outro áudio em que o ex-assessor menciona cargos que poderiam ser ocupados no Congresso.
"Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado...Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles [família Bolsonaro] em nada. Vinte continho pra gente caía bem, pra c..., caía bem pra c...Não precisa vincular a um nome", afirma Queiroz, em gravação de junho.