Bolsonaro tem ciúme de Sergio Moro. É a única explicação plausível para a relação em que uma parte vive reforçando sua fidelidade e a outra vive buscando formas de arranjar encrenca. O ministro da Justiça recebeu toda a atenção esperada após o programa Roda Viva, do qual participou no início da semana. A TV Cultura comemorou a audiência recorde, as redes sociais explodiram com menções elogiosas ao entrevistado.
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O programa mal havia terminado e o general Augusto Heleno foi ao Twitter reforçar a guerra contra a imprensa, numa tentativa de situar Moro dentro da mesma caixa em que ele e o restante do governo vivem: a dos perseguidos por jornalistas crueis. Moro, logo em seguida, escreveu na mesma rede: "foi uma boa experiência no Roda Viva. Jornalistas às vezes duros, mas dedicados".
Moro não faz questão de integrar o clube fantasioso dos "patriotas injustiçados pela imprensa comunista" e isso incomoda o Presidente da República. Incomoda ainda mais porque não fazer parte do clube ajuda na aprovação popular. Pesquisas mostram o ministro com 53% de ótimo e bom. Bolsonaro fica na faixa dos 30% no mesmo levantamento. Pra completar, Bolsonaro é obrigado a ver, também em pesquisas, que hoje Moro é o único para quem ele não ganharia uma eleição.
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O poder obriga sentimentos passionais com frequência. Quando Dilma (PT) estava em campanha pela reeleição, com risco de perder para Aécio Neves (PSDB) há relatos de que Lula (PT) não escondia de ninguém sua contrariedade. "Vamos perder por culpa dela, pela teimosia dela", alertava o ex-presidente, injuriado porque queria ser candidato em 2014 e ela não permitiu.
O caso mais claro e parecido com o de Bolsonaro é o de Itamar Franco. O mineiro era vice de Collor e assumiu com o desafio de organizar o país depois do Impeachment. Montou um ministério forte e, em certo ponto, chamou Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o "príncipe dos sociólogos", para resolver o problema da hiperinflação brasileira. FHC fez o trabalho tão bem que foi morar no Palácio da Alvorada, na cama que era de Itamar. Mas, o percurso foi complicado. Itamar reclamava que não era informado, que não podia anunciar nada, que a imprensa perguntava e ele não sabia responder.
Ameaçou demitir Fernando Henrique várias vezes, mas acabou mantendo, a contragosto, pela necessidade que o País vivia. Agora Bolsonaro é Itamar, Moro é FHC e a inflação é a Segurança Pública. Fato é que o Ministério da Justiça não tem muita visibilidade, não é o cenário de ações populares como diminuir a violência, por exemplo. Resta saber se, tal qual Itamar, Bolsonaro vai saber engolir o ciúme em nome do que é melhor para o Brasil.
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*Igor Maciel é titular da coluna Pinga Fogo, no Jornal do Commercio