Nas eleições de 2018, duas candidatas do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, adquiriram mais de dez milhões de santinhos, folders e outros materiais de campanha, a menos de 48 horas do primeiro turno. Segundo o jornal O Globo, a legenda destinou R$ 268 mil para duas candidatas a deputada estadual em Pernambuco e no Ceará.
As candidatas Mariana Nunes (PE) e Gislani Maia (CE) gastaram o montante recebido entre 5 e 6 de outubro, de acordo com informações do DivulgaCandContas, sistema de divulgação de candidaturas e contas de campanhas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A empresária pernambucana Mariana Nunes movimentou grandes montantes de recursos às vésperas do primeiro turno. Apesar de ter obtido apenas 1.741 votos, ela teve recursos dignos de uma campeã de votos. Com o resultado da votação, Mariana ficou no 189º lugar na disputa por uma cadeira na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Dados do TSE apontam que a campanha da empresária custou R$ 127.860 mil. O valor é maior que os gastos pelos líderes de votos da legenda, como Janaína Paschoal (PSL-SP), deputada estadual mais votada da história do Brasil, que gastou R$ 58,4 mil.
Mariana Nunes recebeu R$ 128 mil da direção estadual do PSL, dos quais R$ 118 mil foram depositados entre os dias 2 e 5 de outubro. Cerca de 89% do valor, R$ 113,9 mil, foi gasto na impressão de cinco milhões de santinhos e um milhão de adesivos, mais conhecidos como praguinhas, na gráfica Juliane Mirella de Carvalho Gonçalves.
A gráfica também foi a mesma contratada por Lourdes Paixão, que concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados, apontada como candidata laranja do PSL e que recebeu uma grande doação do partido, apesar de ter conquistado apenas 274 votos.
Já a candidata no Ceará, Gislani Maia, recebeu aproximadamente R$ 151 mil, dos quais R$ 150 mil foram doados pela direção nacional do PSL, em 5 de outubro. Segundo o DivulgaCandContas, antes da doação, apenas a própria havia realizado doação para sua campanha, quando doou R$ 954. Ainda no próprio dia 5, a dois dias do primeiro turno, Gislani repassou cerca de R$ 143 mil para três gráficas, segundo dados do TSE. Gilslani contratou as empresas para o fornecimento de 4,8 milhões de santinhos, panfletos e botons, além de 20 mil adesivos para carros
Os gastos de campanha de Gislani superam três vezes a receita eleitoral de Hélio Góes, candidato do PSL ao governo do Ceará, e em quase 18 vezes as contas do postulante do partido ao Senado, Márcio Pinheiro, que teve despesa de R$ 8,5 mil. Pinheiro não foi beneficiado pelas doações do PSL.
O jornal O Globo revelou ainda que, apesar do partido ter tido outras 18 candidaturas femininas no estado, Gislani foi a única mulher a receber dinheiro do PSL no Ceará. Além dela, só Heitor Freire, presidente da sigla no Estado, recebeu recursos partidários.
Heitor foi eleito deputado federal e apresentou gastos de campanha de R$ 64,2 mil, menos da metade de Gislani, como apontam os dados das prestações de contas dos candidatos ao TSE.
A maior parte da despesa da candidata, cerca de R$ 103,2 mil, foi concentrada em uma única gráfica, a M C de Holanda Carvalho, cujo nome fantasia é EH 8 Comunicação Visual, que também imprimiu material para o deputado Heitor Freire.
Segundo O Globo, uma máquina de impressão e uma de plotagem são operadas no local e apenas dois funcionários trabalhavam na gráfica na última quarta-feira. Eles confirmaram que prestaram serviços às campanhas do PSL no Estado. "Praticamente tudo relacionado à campanha do presidente Bolsonaro no Ceará foi produzido aqui", disse o técnico de impressão, embora o presidente tenha declarado apenas R$ 55 mil em gastos no local, usados para a confecção de adesivos.
O jornal O Globo orçou com a EH8 a impressão de 10 mil adesivos para carro a serem entregues em três dias, metade do que foi pago por Gislani. Os funcionários, porém, recusaram a encomenda, alegando que só conseguiriam produzir 500 unidades no prazo estabelecido.
A empresária pernambucana Mariana Nunes não foi localizada pela equipe de O Globo. A assessoria do presidente do PSL, Luciano Bivar, deputado federal por Pernambuco, afirmou por meio de nota que a verba do fundo partidário é repassada do diretório nacional diretamente para os candidatos. “A forma de utilização é decisão exclusiva do (a) candidato (a). Já a escolha da chapa é responsabilidade do diretório estadual, do qual Bivar não fez parte”. Durante as eleições, Bivar estava licenciado do cargo de presidente da legenda, que ficou sob responsabilizado do hoje ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno.
A cearense Gislani disse que em setembro recebeu de Heitor Freire a garantia de que receberia recursos e, então, fez o pedido às gráficas. Questionada se havia algum documento que demonstrasse a solicitação do material feito mesmo sem garantia do pagamento, informou que foi feito um “contrato de confiança", mas que não tinha uma cópia do documento. Afirmou ainda que, na sua encomenda, havia material para outros candidatos, mas que, em todos, também aparecia seu rosto.
Já Heitor Freire negou que tenha recomendado repasses à candidatura de Gislani. "O dinheiro vem direto da nacional para a conta do candidato, sem ingerência da estadual", afirmou. Ele ainda disse ainda que Gislani foi a única candidata a receber recursos no estado porque tinha “potencial”.