Acampados na Praça do Derby, área central do Recife, desde a última segunda-feira (25), manifestantes contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff têm feito uma verdadeira força-tarefa para manter o espaço limpo e organizado. Rígidos horários de refeições, divisão de funções e fidelidade a uma agenda de atividades pré-definidas ajudam a preservar o largo, que é utilizado por eles e por milhares de pessoas que passam por lá todos os dias.
A cozinha do acampamento é de responsabilidade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Homens e mulheres que integram o grupo se revezam para cozinhar e servir os alimentos às cerca de 500 pessoas que estão acampadas na praça, ajudados por integrantes de outros movimentos sociais. As refeições são servidas sempre das 7h às 8h, das 12h às 13h e das 19h às 20h. "Quem chegar depois disso não come mais", brinca Val, uma das cozinheiras da ocupação.
Utensílios como pratos, copos e talheres são levados pelos próprios acampados. "Não temos como fornecer tantos materiais descartáveis para um número tão grande pessoas. Além do mais, isso seria ambientalmente incorreto", explicou Aline Fagundes, integrante do Fórum de Mulheres de Pernambuco e coordenadora de alimentação do acampamento. Aproximadamente 200 refeições são produzidas por dia na cozinha, que também funciona em uma tenda. "Alguns comitês trazem seus próprios alimentos, por isso não precisamos fazer comida para todo o grupo", disse Aline.
Tudo o que é consumido pelos manifestantes é recebido através de doações. "Recebemos mantimentos de igrejas, universidades, sindicatos, de todos os setores da sociedade", afirmou Paulo Mansan, um dos coordenadores do acampamento. Interessados em contribuir podem levar doações até a praça. As prioridades do grupo são carne, água, frutas e demais alimentos. Os acampados também precisam de materiais de higiene pessoal.
Os dois banheiros do próprio largo, além de outros seis banheiros químicos atendem as necessidades dos manifestantes. Um espaço cercado com lona preta em uma calçada é reservado para os homens tomarem banho. A ONG Fase, que também fica no Derby, cedeu seu banheiro para que as mulheres pudessem tomar banho com mais segurança.
As demais ações de manutenção da área são compartilhadas com todos. Equipes de limpeza se revezam, bem como as que fazem a segurança das tendas e barracas durante a madrugada. Manifestantes com formação em comunicação social ou interessados na área cuidam da divulgação de tudo o que é feito no local, fotografando, fazendo postagens em redes sociais, produzindo releases ou desenvolvendo atividades ligadas a essa área.
Durante a tarde desta quarta-feira (27), quando a reportagem esteve no acampamento, duas rodas de diálogo estavam acontecendo, uma sobre feminismo popular e outra sobre o Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, celebrado hoje. Com ouvidos atentos, os participantes trocaram experiências e apontavam soluções para os problemas abordados.
Nesta quinta-feira (27), às 9h, o grupo fará um protesto na frente da Federação das Indústrias de Pernambuco (FIEPE), na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro. No dia 1º de maio, dia do trabalhador, uma grande passeata sairá do Derby em direção ao Marco Zero, no Bairro do Recife, para celebrar a data e comemorar os 30 anos da Festa da Lavadeira. Outras ações, como aulas abertas e palestras ocorrem diariamente no acampamento.